sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A EMERGÊNCIA FABRICADA QUE ABASTECE O CARTEL: COMO GOIÂNIA CAIU NA ROTA DA PRIME E SEUS SATÉLITES

 


Por Blog do Cleuber Carlos — investigação exclusiva

Há contratos que cheiram a irregularidade.

Há contratos que cheiram a oportunismo.

E há aqueles que exalam a assinatura inconfundível de um cartel inteiro operando nos bastidores.

O contrato emergencial de R$ 35,2 milhões firmado pela Prefeitura de Goiânia com a Neo Consultoria e Administração de Benefícios Ltda. pertence à terceira categoria.


Não é um episódio isolado.

É um padrão — e dos mais perigosos.

LICITAÇÃO CANCELADA, EMERGÊNCIA “SURGIDA DO NADA” E CONTRATO ENTREGUE A UM SATÉLITE DA PRIME


O Pregão Eletrônico nº 039/2023 tinha vencedora.

A vencedora tinha contrato assinado.

E o contrato tinha condições para ser executado.

Mas a Prefeitura de Goiânia fez algo incomum:

anulou o processo, desclassificou a empresa e não chamou nem a segunda nem a terceira colocada.

Em vez disso, declarou uma emergência repentina, como num passe de mágica, e abriu caminho para uma dispensa de licitação milionária.

E quem apareceu, pronta para assumir tudo?

👉 A Neo Consultoria — empresa classificada por servidores como “satélite” da PRIME Consultoria, a mesma PRIME já citada em investigações de contratos de combustíveis e vales em várias regiões do país.

Coincidência?

Na política e na máquina pública, coincidências assim geralmente têm CPF, CNPJ e apadrinhamento.

O PADRÃO DO CARTEL: QUANDO O CONTRATO NÃO INTERESSA, A LICITAÇÃO MORRE

O que Goiânia viveu é exatamente o roteiro já identificado em outros municípios:

  1. Uma licitação ocorre normalmente.
  2. Alguém não gosta do resultado.
  3. A empresa vencedora é desclassificada “por irregularidades”.
  4. A administração cria uma emergência artificial.
  5. A dispensa de licitação é feita com pressa.
  6. O contrato cai no colo de uma empresa ligada ao ecossistema PRIME.

O mesmo método já foi visto em:

  • São Miguel do Araguaia
  • Morrinhos
  • Catalão
  • Nerópolis
  • Municípios do Tocantins, Maranhão, Pará, Mato Grosso, Piauí e Paraíba
  • Prefeituras onde FitCard, LINK Card, NEO, Prime e outros nomes gravitam na mesma órbita

Goiânia, agora, entra oficialmente no mapa do cartel.

O CONTRATO DE R$ 35 MILHÕES E A FALÁCIA DA “TAXA NEGATIVA”

A Neo levou o contrato emergencial oferecendo uma taxa negativa de -1,51%.

Ao leigo, parece economia.

Ao especialista, é um alerta vermelho.

Porque a taxa negativa é compensada por brechas contratuais que permitem:

  • abastecimento em postos com valores acima da média,
  • ausência de trava efetiva contra preços inflados,
  • uso do preço ANP como limite “elástico”, facilmente manipulável,
  • reembolsos livres que podem ultrapassar o valor real de bomba.

A suposta economia esconde um sistema de ganhos indiretos, onde empresas ligadas ao cartel operam dentro de margens confortáveis, mesmo prometendo taxas negativas.

Ou seja:

a taxa é negativa, mas o lucro é positivo. E muito.

A EMERGÊNCIA QUE PODE TER SIDO FABRICADA

A Prefeitura justificou a dispensa com base no art. 75, VIII, da nova Lei de Licitações.

Mas a cronologia dos fatos mostra que:

  • havia empresas aptas a assumir o contrato imediatamente,
  • a administração tinha tempo para uma tomada de preços,
  • não havia risco real de desabastecimento,
  • o procedimento regular foi interrompido sem justificativa transparente.

Quando o poder público ignora concorrentes aptas e cria um cenário artificial de urgência, estamos diante de algo mais grave que uma simples dispensa:

👉 uma emergência fabricada — recurso clássico para direcionamento.

A ROTA DA PRIME E SEUS SATÉLITES: A ENTRADA DE GOIÂNIA NO TABULEIRO

O caso da Neo em Goiânia não é acidente.

Ele confirma um padrão já rastreado:

A PRIME nunca perde.

Se ela não pode aparecer, surgem seus satélites.

Se o contrato não serve, cria-se a emergência.

Se a licitação dá errado, desclassifica-se o vencedor.

Se há concorrência, ela é ignorada.

A PRIME é o centro da teia.

NEO, LINK, FitCard e outras são os fios que sustentam o sistema.

O contrato emergencial de Goiânia é apenas mais um elo — mas um elo muito simbólico, porque mostra que nem a capital escapa do cartel nacional dos cartões e combustíveis.


O que se instalou em Goiânia não foi uma emergência.

Foi uma operação cirúrgica para beneficiar um grupo que já domina fatias enormes do mercado público de combustíveis no Brasil.

A cidade entrou na rota de um cartel altamente profissional, capaz de:

  • manipular licitações,
  • fabricar emergências,
  • operar contratos simultâneos com empresas diferentes,
  • manter o fluxo financeiro mesmo quando uma empresa cai.

Enquanto isso, a transparência evapora e o interesse público é atropelado.

E diante de tudo isso, resta uma pergunta que a SEMAD e a Neo Consultoria terão que responder:

👉 A emergência era real? Ou foi apenas o combustível perfeito para acelerar um acordo já decidido nos bastidores?

Porque, na política, emergência é o disfarce preferido dos que têm pressa —

e muito a esconder.


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