Por Blog do Cleuber Carlos — investigação exclusiva
Há contratos que cheiram a irregularidade.
Há contratos que cheiram a oportunismo.
E há aqueles que exalam a assinatura inconfundível de um cartel inteiro operando nos bastidores.
O contrato emergencial de R$ 35,2 milhões firmado pela Prefeitura de Goiânia com a Neo Consultoria e Administração de Benefícios Ltda. pertence à terceira categoria.
Não é um episódio isolado.
É um padrão — e dos mais perigosos.
LICITAÇÃO CANCELADA, EMERGÊNCIA “SURGIDA DO NADA” E CONTRATO ENTREGUE A UM SATÉLITE DA PRIME
O Pregão Eletrônico nº 039/2023 tinha vencedora.
A vencedora tinha contrato assinado.
E o contrato tinha condições para ser executado.
Mas a Prefeitura de Goiânia fez algo incomum:
anulou o processo, desclassificou a empresa e não chamou nem a segunda nem a terceira colocada.
Em vez disso, declarou uma emergência repentina, como num passe de mágica, e abriu caminho para uma dispensa de licitação milionária.
E quem apareceu, pronta para assumir tudo?
👉 A Neo Consultoria — empresa classificada por servidores como “satélite” da PRIME Consultoria, a mesma PRIME já citada em investigações de contratos de combustíveis e vales em várias regiões do país.
Coincidência?
Na política e na máquina pública, coincidências assim geralmente têm CPF, CNPJ e apadrinhamento.
O PADRÃO DO CARTEL: QUANDO O CONTRATO NÃO INTERESSA, A LICITAÇÃO MORRE
O que Goiânia viveu é exatamente o roteiro já identificado em outros municípios:
- Uma licitação ocorre normalmente.
- Alguém não gosta do resultado.
- A empresa vencedora é desclassificada “por irregularidades”.
- A administração cria uma emergência artificial.
- A dispensa de licitação é feita com pressa.
- O contrato cai no colo de uma empresa ligada ao ecossistema PRIME.
O mesmo método já foi visto em:
- São Miguel do Araguaia
- Morrinhos
- Catalão
- Nerópolis
- Municípios do Tocantins, Maranhão, Pará, Mato Grosso, Piauí e Paraíba
- Prefeituras onde FitCard, LINK Card, NEO, Prime e outros nomes gravitam na mesma órbita
Goiânia, agora, entra oficialmente no mapa do cartel.
O CONTRATO DE R$ 35 MILHÕES E A FALÁCIA DA “TAXA NEGATIVA”
A Neo levou o contrato emergencial oferecendo uma taxa negativa de -1,51%.
Ao leigo, parece economia.
Ao especialista, é um alerta vermelho.
Porque a taxa negativa é compensada por brechas contratuais que permitem:
- abastecimento em postos com valores acima da média,
- ausência de trava efetiva contra preços inflados,
- uso do preço ANP como limite “elástico”, facilmente manipulável,
- reembolsos livres que podem ultrapassar o valor real de bomba.
A suposta economia esconde um sistema de ganhos indiretos, onde empresas ligadas ao cartel operam dentro de margens confortáveis, mesmo prometendo taxas negativas.
Ou seja:
a taxa é negativa, mas o lucro é positivo. E muito.
A EMERGÊNCIA QUE PODE TER SIDO FABRICADA
A Prefeitura justificou a dispensa com base no art. 75, VIII, da nova Lei de Licitações.
Mas a cronologia dos fatos mostra que:
- havia empresas aptas a assumir o contrato imediatamente,
- a administração tinha tempo para uma tomada de preços,
- não havia risco real de desabastecimento,
- o procedimento regular foi interrompido sem justificativa transparente.
Quando o poder público ignora concorrentes aptas e cria um cenário artificial de urgência, estamos diante de algo mais grave que uma simples dispensa:
👉 uma emergência fabricada — recurso clássico para direcionamento.
A ROTA DA PRIME E SEUS SATÉLITES: A ENTRADA DE GOIÂNIA NO TABULEIRO
O caso da Neo em Goiânia não é acidente.
Ele confirma um padrão já rastreado:
A PRIME nunca perde.
Se ela não pode aparecer, surgem seus satélites.
Se o contrato não serve, cria-se a emergência.
Se a licitação dá errado, desclassifica-se o vencedor.
Se há concorrência, ela é ignorada.
A PRIME é o centro da teia.
NEO, LINK, FitCard e outras são os fios que sustentam o sistema.
O contrato emergencial de Goiânia é apenas mais um elo — mas um elo muito simbólico, porque mostra que nem a capital escapa do cartel nacional dos cartões e combustíveis.
O que se instalou em Goiânia não foi uma emergência.
Foi uma operação cirúrgica para beneficiar um grupo que já domina fatias enormes do mercado público de combustíveis no Brasil.
A cidade entrou na rota de um cartel altamente profissional, capaz de:
- manipular licitações,
- fabricar emergências,
- operar contratos simultâneos com empresas diferentes,
- manter o fluxo financeiro mesmo quando uma empresa cai.
Enquanto isso, a transparência evapora e o interesse público é atropelado.
E diante de tudo isso, resta uma pergunta que a SEMAD e a Neo Consultoria terão que responder:
👉 A emergência era real? Ou foi apenas o combustível perfeito para acelerar um acordo já decidido nos bastidores?
Porque, na política, emergência é o disfarce preferido dos que têm pressa —
e muito a esconder.

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