O PRÉDIO QUE NINGUÉM QUIS, MAS QUE O GOVERNO DE GOIÁS AGORA COMPRA: A OPERAÇÃO SILENCIOSA QUE PODE VALORIZAR IMÓVEIS DE FIGURAS POLÍTICAS NO CENTRO DE GOIÂNIA
Há compras públicas que acontecem à luz do dia. E há compras públicas que acontecem rápido demais, com justificativas frágeis, silêncio incomum e coincidências que desafiam a ingenuidade coletiva.
A aquisição do antigo prédio da Caixa — hoje pertencente à FUNCEF — pelo Governo de Goiás, por cerca de R$ 130 milhões, pertence ao segundo grupo.
É vendida ao público como um projeto de “revitalização do Centro” e “centralização administrativa”. Mas, quando se remove a camada de verniz e se olha o movimento estrutural e político ao redor, surge uma operação muito mais complexa — e muito menos transparente.
Este é o tipo de assunto que o Blog do Cleuber Carlos foi criado para enfrentar: onde há dinheiro público, pressa e silêncio, sempre há história.
A justificativa oficial não explica a pressa — nem explica o preço
O governo afirma que:
- irá economizar com aluguéis,
- vai revitalizar o Centro,
- e dará nova função a um prédio ocioso.
Mas não apresentou nenhum estudo técnico robusto.
Nenhum projeto urbanístico.
Nenhuma comparação com alternativas.
Nenhuma projeção de custo de reforma — imprescindível para um prédio antigo, deteriorado e com sistemas completamente ultrapassados.
O crédito aprovado pela Assembleia é de quase R$ 130 milhões, enquanto avaliações anteriores do mercado apontavam valores significativamente menores, entre R$ 90 e 110 milhões.
Quando o Estado paga mais do que o mercado considera razoável, é porque ou errou — ou decidiu pagar mais.
Ambas as hipóteses são graves.
O imóvel não é da Caixa — é da FUNCEF, um fundo pressionado e ávido por liquidez
O prédio pertence à FUNCEF, fundo de pensão dos empregados da Caixa, que convive há anos com déficits, equacionamentos infames, pressões judiciais e necessidade urgente de fazer caixa.
O imóvel está parado há muito tempo. Deteriora a cada ano. Ninguém do setor privado quis comprá-lo, porque o custo da reforma supera o potencial de exploração econômica.
O Governo de Goiás aparece, então, como o comprador ideal:
- paga alto,
- paga rápido,
- e não barganha.
Para um fundo que precisa gerar liquidez, é o casamento perfeito.
Para o contribuinte goiano, nem tanto.
O ponto que ninguém comenta: a compra pode valorizar imóveis de pessoas politicamente conectadas
Esta é a parte mais sensível — e a mais escondida.
Grandes decisões estatais deslocam valor.
Quando o governo instala secretarias em determinada área, todo o entorno se valoriza:
- comércio,
- escritórios,
- estacionamentos,
- restaurantes,
- prédios antigos,
- lotes vazios.
A economia urbana é implacável. O fluxo gera valor.
E aqui o alerta acende: há imóveis nas imediações pertencentes a figuras com vínculos políticos diretos e indiretos.
Mas há um fato ainda mais explosivo — e incontornável.
O imóvel vizinho foi, na última eleição, o comitê de Alexandre Baldy — hoje secretário de Estado
Exatamente ao lado do prédio da FUNCEF existe um imóvel onde funcionava uma concessionária.
Na eleição anterior, esse imóvel foi o comitê político do então candidato ao Senado Alexandre Baldy, hoje um dos principais secretários do Governo de Goiás.
A coincidência territorial é demasiada para passar despercebida.
Quando um governo decide comprar e instalar um grande complexo administrativo ao lado de um imóvel que foi base de campanha de um dos seus homens fortes, é incapaz ignorar a pergunta óbvia: Quem ganha com a valorização instantânea que essa decisão pública vai provocar?
A chegada de secretarias estaduais tende a multiplicar o valor da região.
E o imóvel vizinho, que foi comitê de Baldy, está no epicentro desse processo.
Não se trata de acusar ilegalidade.
Trata-se de evidenciar que há uma zona de conflito de interesses clara, objetiva e — até agora — completamente ignorada pelo governo.
Política se faz com símbolos.
Mas também se faz com território.
A compra sacrifica recursos de outras áreas essenciais
Para fechar a conta dos R$ 130 milhões, o governo remanejou verbas de fundos importantes — inclusive o Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, além de recursos originalmente destinados a outras finalidades públicas.
Quando um governo sacrifica políticas essenciais para comprar um prédio problemático, é porque a prioridade é política, não técnica.
Por que o Estado compra um prédio que o setor privado rejeitou?
A resposta é simples e incômoda:
- Porque o setor privado não gosta de empreendimentos antieconômicos.
- Porque o Estado pode errar, desde que o contribuinte pague a conta.
- E porque a decisão pode beneficiar — direta ou indiretamente — um grupo seleto de proprietários.
A coincidência entre a compra e a presença de imóveis ligados a figuras políticas, incluindo o vizinho que sediou o comitê de Alexandre Baldy, cria um cenário que exige investigação, transparência e debate.
Nada disso foi oferecido ao povo goiano.
A operação pode até ser legal — mas a pergunta central é outra: ela é moralmente defensável?
O governo fala em modernização.
Fala em eficiência.
Fala em revitalização urbana.
Mas não explica:
- por que pagar mais do que o mercado avalia,
- por que não divulgar estudos técnicos,
- por que agir com tanta pressa,
- por que sacrificar outras áreas do orçamento,
- e, principalmente, por que desprezar os impactos patrimoniais para pessoas próximas do poder.
Quando uma decisão pública pode enriquecer — ainda que indiretamente — atores políticos instalados ao lado da operação, não estamos mais falando de urbanismo.
Estamos falando de ética pública.
E isso o governo ainda não respondeu.
Opinião do Blog do Cleuber Carlos
Revitalizar o Centro é necessário.
Fortalecer a administração pública é legítimo.
Mas o que está acontecendo aqui não é política urbana.
É engenharia política.
A compra do prédio da FUNCEF não é apenas uma transação imobiliária.
É um movimento de bastidores, com potencial para produzir valorização a quem está no entorno — inclusive figuras do próprio governo.
E enquanto o Estado move milhões, o contribuinte continua sem saber quem realmente ganhará com essa operação.
E, como sempre, quando o poder atua nas sombras, é a luz do jornalismo que precisa entrar pela fresta.

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