sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

O Prédio Que Vai Enriquecer o Centro — e Alguns Políticos

O PRÉDIO QUE NINGUÉM QUIS, MAS QUE O GOVERNO DE GOIÁS AGORA COMPRA: A OPERAÇÃO SILENCIOSA QUE PODE VALORIZAR IMÓVEIS DE FIGURAS POLÍTICAS NO CENTRO DE GOIÂNIA

Há compras públicas que acontecem à luz do dia. E há compras públicas que acontecem rápido demais, com justificativas frágeis, silêncio incomum e coincidências que desafiam a ingenuidade coletiva.

A aquisição do antigo prédio da Caixa — hoje pertencente à FUNCEF — pelo Governo de Goiás, por cerca de R$ 130 milhões, pertence ao segundo grupo.

É vendida ao público como um projeto de “revitalização do Centro” e “centralização administrativa”. Mas, quando se remove a camada de verniz e se olha o movimento estrutural e político ao redor, surge uma operação muito mais complexa — e muito menos transparente.


Este é o tipo de assunto que o Blog do Cleuber Carlos foi criado para enfrentar: onde há dinheiro público, pressa e silêncio, sempre há história.

A justificativa oficial não explica a pressa — nem explica o preço


O governo afirma que:

  • irá economizar com aluguéis,
  • vai revitalizar o Centro,
  • e dará nova função a um prédio ocioso.

Mas não apresentou nenhum estudo técnico robusto.

Nenhum projeto urbanístico.

Nenhuma comparação com alternativas.

Nenhuma projeção de custo de reforma — imprescindível para um prédio antigo, deteriorado e com sistemas completamente ultrapassados.

O crédito aprovado pela Assembleia é de quase R$ 130 milhões, enquanto avaliações anteriores do mercado apontavam valores significativamente menores, entre R$ 90 e 110 milhões.

Quando o Estado paga mais do que o mercado considera razoável, é porque ou errou — ou decidiu pagar mais.

Ambas as hipóteses são graves.

O imóvel não é da Caixa — é da FUNCEF, um fundo pressionado e ávido por liquidez

O prédio pertence à FUNCEF, fundo de pensão dos empregados da Caixa, que convive há anos com déficits, equacionamentos infames, pressões judiciais e necessidade urgente de fazer caixa.

O imóvel está parado há muito tempo. Deteriora a cada ano. Ninguém do setor privado quis comprá-lo, porque o custo da reforma supera o potencial de exploração econômica.

O Governo de Goiás aparece, então, como o comprador ideal:

  • paga alto,
  • paga rápido,
  • e não barganha.

Para um fundo que precisa gerar liquidez, é o casamento perfeito.

Para o contribuinte goiano, nem tanto.

O ponto que ninguém comenta: a compra pode valorizar imóveis de pessoas politicamente conectadas

Esta é a parte mais sensível — e a mais escondida.

Grandes decisões estatais deslocam valor.

Quando o governo instala secretarias em determinada área, todo o entorno se valoriza:

  • comércio,
  • escritórios,
  • estacionamentos,
  • restaurantes,
  • prédios antigos,
  • lotes vazios.

A economia urbana é implacável. O fluxo gera valor.

E aqui o alerta acende: há imóveis nas imediações pertencentes a figuras com vínculos políticos diretos e indiretos.

Mas há um fato ainda mais explosivo — e incontornável.

O imóvel vizinho foi, na última eleição, o comitê de Alexandre Baldy — hoje secretário de Estado

Exatamente ao lado do prédio da FUNCEF existe um imóvel onde funcionava uma concessionária.

Na eleição anterior, esse imóvel foi o comitê político do então candidato ao Senado Alexandre Baldy, hoje um dos principais secretários do Governo de Goiás.

A coincidência territorial é demasiada para passar despercebida.

Quando um governo decide comprar e instalar um grande complexo administrativo ao lado de um imóvel que foi base de campanha de um dos seus homens fortes, é incapaz ignorar a pergunta óbvia: Quem ganha com a valorização instantânea que essa decisão pública vai provocar?

A chegada de secretarias estaduais tende a multiplicar o valor da região.

E o imóvel vizinho, que foi comitê de Baldy, está no epicentro desse processo.

Não se trata de acusar ilegalidade.

Trata-se de evidenciar que há uma zona de conflito de interesses clara, objetiva e — até agora — completamente ignorada pelo governo.

Política se faz com símbolos.

Mas também se faz com território.

A compra sacrifica recursos de outras áreas essenciais

Para fechar a conta dos R$ 130 milhões, o governo remanejou verbas de fundos importantes — inclusive o Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, além de recursos originalmente destinados a outras finalidades públicas.

Quando um governo sacrifica políticas essenciais para comprar um prédio problemático, é porque a prioridade é política, não técnica.

Por que o Estado compra um prédio que o setor privado rejeitou?

A resposta é simples e incômoda:

  • Porque o setor privado não gosta de empreendimentos antieconômicos.
  • Porque o Estado pode errar, desde que o contribuinte pague a conta.
  • E porque a decisão pode beneficiar — direta ou indiretamente — um grupo seleto de proprietários.

A coincidência entre a compra e a presença de imóveis ligados a figuras políticas, incluindo o vizinho que sediou o comitê de Alexandre Baldy, cria um cenário que exige investigação, transparência e debate.

Nada disso foi oferecido ao povo goiano.

A operação pode até ser legal — mas a pergunta central é outra: ela é moralmente defensável?

O governo fala em modernização.

Fala em eficiência.

Fala em revitalização urbana.

Mas não explica:

  • por que pagar mais do que o mercado avalia,
  • por que não divulgar estudos técnicos,
  • por que agir com tanta pressa,
  • por que sacrificar outras áreas do orçamento,
  • e, principalmente, por que desprezar os impactos patrimoniais para pessoas próximas do poder.

Quando uma decisão pública pode enriquecer — ainda que indiretamente — atores políticos instalados ao lado da operação, não estamos mais falando de urbanismo.

Estamos falando de ética pública.

E isso o governo ainda não respondeu.

Opinião do Blog do Cleuber Carlos

Revitalizar o Centro é necessário.

Fortalecer a administração pública é legítimo.

Mas o que está acontecendo aqui não é política urbana.

É engenharia política.

A compra do prédio da FUNCEF não é apenas uma transação imobiliária.

É um movimento de bastidores, com potencial para produzir valorização a quem está no entorno — inclusive figuras do próprio governo.

E enquanto o Estado move milhões, o contribuinte continua sem saber quem realmente ganhará com essa operação.

E, como sempre, quando o poder atua nas sombras, é a luz do jornalismo que precisa entrar pela fresta.

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