Há uma analogia que ouvi recentemente e que, sinceramente, diz mais sobre política municipal do que muitos manuais de ciência política. Uma metáfora que explica, com uma precisão desconfortável, o comportamento de certos prefeitos — sobretudo aqueles que acabam de assumir o poder.
É a comparação entre o porco gordo e o porco magro.
O porco gordo, experiente, já calejado pela vida, sabe exatamente como funciona o ritual do balde de lavagem. Ele não se desespera. Não berra. Não se joga por cima dos outros. Ele espera a hora certa, levanta com calma, come tranquilo. Ele já aprendeu que a pressa é inimiga da barriga cheia — e, mais ainda, aprendeu que excesso de movimento chama atenção, e atenção demais derruba político.
Já o porco magro, novo no chiqueiro, chega com a fome de quem nunca viu um balde na vida. Quando o dono aparece com a lavagem, ele surta. Grita. Berra. Avança no balde. Come qualquer coisa, do resto de comida ao plástico que gruda na borda. Tanta ânsia que, se deixar, derruba o balde, quebra o cocho e ainda se engasga tentando engolir o que não devia.
Pois é exatamente assim que se comportam muitos prefeitos de primeiro mandato.
Assim que pegam a chave da prefeitura, entram em modo “porco magro”: acham que precisam resolver a vida financeira em 30 dias, antecipar tudo, agarrar cada oportunidade duvidosa que aparece, e sair atropelando qualquer regra, lei, limite, parecer, licitação e, em alguns casos, até a própria prudência.
A sede é tão grande que vira desespero.
E o desespero vira imprudência.
E a imprudência vira escândalo.
O resultado você já conhece:
investigações, denúncias, contratos suspeitos, acordos atravessados, compras mal explicadas, favores mal disfarçados, parcerias mal intencionadas — e, claro, aquela clássica pressa para enriquecer que só cria um rastro de problemas jurídicos e políticos que explode meses depois.
Enquanto isso, os prefeitos experientes, os “porcos gordos”, assistem tudo de camarote. Eles já entenderam o jogo. Sabem comer sem barulho. Sabem que cada movimento precisa de cálculo. Sabem que político que grita demais atrai holofote, e holofote aceso mostra o que deveria ficar nas sombras. Eles já aprenderam que o segredo não é a fome: é o controle.
Na política, o porco magro é o que cai primeiro.
O porco gordo é o que permanece.
É por isso que tantos prefeitos novatos começam o mandato fazendo barulho, mas terminam o ano com o Ministério Público na porta, a câmara montando CPI, fornecedores na bronca, o Tribunal de Contas revirando contratos, e a população percebendo, tarde demais, que quem tem pressa demais no cocho geralmente está com fome da coisa errada.
A verdade é simples:
prefeito que chega metendo os pés pelas mãos não está governando — está se atropelando.
E quem se atropela, cai.
Talvez fosse bom que alguns prefeitos — esses recém-eleitos que chegam com os olhos brilhando e a cabeça cheia de “oportunidades” financeiras — entendessem a lição mais básica do chiqueiro político:
E a verdade é uma só: quem ataca o balde como se fosse o último da vida não apenas cai — se quebra inteiro, se perde no próprio apetite e vira só mais um nome riscado na lama do poder.

Um comentário:
Achei SENSACIONAL esse artigo. Diz muito, ou quase tudo, relacionado a política.
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