sábado, 15 de novembro de 2025

Quando o Balde de Lavagem Chega: A Política Entre o Porco Gordo e o Porco Magro

Há uma analogia que ouvi recentemente e que, sinceramente, diz mais sobre política municipal do que muitos manuais de ciência política. Uma metáfora que explica, com uma precisão desconfortável, o comportamento de certos prefeitos — sobretudo aqueles que acabam de assumir o poder.

É a comparação entre o porco gordo e o porco magro.


O porco gordo, experiente, já calejado pela vida, sabe exatamente como funciona o ritual do balde de lavagem. Ele não se desespera. Não berra. Não se joga por cima dos outros. Ele espera a hora certa, levanta com calma, come tranquilo. Ele já aprendeu que a pressa é inimiga da barriga cheia — e, mais ainda, aprendeu que excesso de movimento chama atenção, e atenção demais derruba político.


Já o porco magro, novo no chiqueiro, chega com a fome de quem nunca viu um balde na vida. Quando o dono aparece com a lavagem, ele surta. Grita. Berra. Avança no balde. Come qualquer coisa, do resto de comida ao plástico que gruda na borda. Tanta ânsia que, se deixar, derruba o balde, quebra o cocho e ainda se engasga tentando engolir o que não devia.


Pois é exatamente assim que se comportam muitos prefeitos de primeiro mandato.


Assim que pegam a chave da prefeitura, entram em modo “porco magro”: acham que precisam resolver a vida financeira em 30 dias, antecipar tudo, agarrar cada oportunidade duvidosa que aparece, e sair atropelando qualquer regra, lei, limite, parecer, licitação e, em alguns casos, até a própria prudência.


A sede é tão grande que vira desespero.

E o desespero vira imprudência.

E a imprudência vira escândalo.


O resultado você já conhece:

investigações, denúncias, contratos suspeitos, acordos atravessados, compras mal explicadas, favores mal disfarçados, parcerias mal intencionadas — e, claro, aquela clássica pressa para enriquecer que só cria um rastro de problemas jurídicos e políticos que explode meses depois.


Enquanto isso, os prefeitos experientes, os “porcos gordos”, assistem tudo de camarote. Eles já entenderam o jogo. Sabem comer sem barulho. Sabem que cada movimento precisa de cálculo. Sabem que político que grita demais atrai holofote, e holofote aceso mostra o que deveria ficar nas sombras. Eles já aprenderam que o segredo não é a fome: é o controle.


Na política, o porco magro é o que cai primeiro.

O porco gordo é o que permanece.


É por isso que tantos prefeitos novatos começam o mandato fazendo barulho, mas terminam o ano com o Ministério Público na porta, a câmara montando CPI, fornecedores na bronca, o Tribunal de Contas revirando contratos, e a população percebendo, tarde demais, que quem tem pressa demais no cocho geralmente está com fome da coisa errada.


A verdade é simples:

prefeito que chega metendo os pés pelas mãos não está governando — está se atropelando.


E quem se atropela, cai.


Talvez fosse bom que alguns prefeitos — esses recém-eleitos que chegam com os olhos brilhando e a cabeça cheia de “oportunidades” financeiras — entendessem a lição mais básica do chiqueiro político:


E a verdade é uma só: quem ataca o balde como se fosse o último da vida não apenas cai — se quebra inteiro, se perde no próprio apetite e vira só mais um nome riscado na lama do poder.



Um comentário:

Jadir Carvalho disse...

Achei SENSACIONAL esse artigo. Diz muito, ou quase tudo, relacionado a política.