sábado, 29 de novembro de 2025

O Contrato Social da PRIME Consultoria Expõe a Arquitetura Jurídica do Grupo Que Domina Pregões de Cartões e Gestão de Frotas no Brasil

Documento societário da PRIME Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda — controlada por Rodrigo Mantovani e João Márcio Oliveira Ferreira — revela que a empresa foi estruturada para operar nacionalmente com cartões, vales, combustíveis, tecnologia e gestão de frotas, exatamente o núcleo dos contratos suspeitos em diversos municípios. Poderes irrestritos concedidos a diretores e procuradores reforçam o modus operandi de atuação ampla e coordenada.

Quando se fala em investigações envolvendo licitações de vale-alimentação, vales-combustível, cartões corporativos e gestão de frotas, quase sempre se olha para o que acontece “na ponta”: editais, propostas, taxas administrativas e eventuais sobrepreços.

Mas, antes disso, existe uma etapa mais silenciosa e reveladora: a estrutura societária das empresas que disputam esses certames.


Foi justamente isso que o Blog do Cleuber Carlos analisou ao ter acesso ao Instrumento Particular de Alteração e Consolidação do Contrato Social da PRIME Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda, documento extenso com 13 páginas registradas na Jucesp — peça-chave para compreender como essa empresa foi desenhada para atuar no país inteiro e por que ela se tornou um nome recorrente em pregões de cartões e frotas. 


A PRIME, nessa leitura, deixa claro:

ela não é uma empresa comum — ela é uma estrutura construída para ser nacional, versátil, agressiva e juridicamente blindada.


1. Quem controla a PRIME: a dupla que comanda tudo

O contrato social mostra que a empresa está concentrada nas mãos de dois homens, que acumulam função de sócios e diretores:

• Rodrigo Mantovani

— Brasileiro, empresário, residente em Ribeirão Preto/SP

— Assina o contrato como sócio e diretor

— Ampla participação societária

— Amplos poderes de administração e representação da empresa

• João Márcio Oliveira Ferreira

— Brasileiro, empresário, residente em Campinas/SP

— Também sócio e diretor

— Detém metade do capital

— Documentos pessoais anexados ao contrato (págs. 11 e 12) confirmam identidade e centralidade no comando 

Essa dupla aparece repetidamente em todos os atos societários, centralizando decisões, capital e gestão — exatamente o modelo de comando concentrado descrito pelo Tribunal de Contas da União ao analisar empresas desse segmento em acórdãos anteriores.

2. O que a PRIME realmente faz — e por que isso importa


Ao contrário de empresas que operam com apenas um CNAE, a PRIME foi estruturada com um arsenal de atividades econômicas voltadas justamente para os nichos mais sensíveis das licitações públicas.

Entre os CNAEs listados (págs. 3 e 4), destacam-se:

✔ assessoria e consultoria em gestão empresarial;

✔ emissão de vales (refeição, alimentação, combustível, transporte);

✔ intermediação de combustíveis e produtos correlatos;

✔ comércio e representação de equipamentos eletrônicos;

✔ gestão de frotas e gerenciamento de abastecimentos;

✔ serviços administrativos e financeiros;

✔ tecnologia ligada a meios de pagamento.


Em outras palavras:


contrato social da PRIME revela uma empresa montada especificamente para operar no setor de cartões, vales e gestão de frotas — exatamente o setor que mais acumula denúncias de fraudes e direcionamento no Brasil.


Essa descrição não é interpretação: está no próprio documento enviado. 

3. Onde está a PRIME? No coração do eixo nacional dos pregões


O contrato fixa a sede da empresa em Campinas/SP, cidade onde diversas outras empresas do setor também registraram filiais, escritórios e representações.

Campinas e Ribeirão Preto formam, há anos, um eixo reconhecido por abrigar empresas de cartões-benefício, vales e arranjos de pagamento — um “berço empresarial” que acabou se tornando reduto de concorrentes (ou pseudo-concorrentes) em centenas de licitações municipais.


A localização da PRIME não é acaso.

É estratégia.

4. O capital social milionário e a estrutura de poder

O contrato registra um capital social total superior a R$ 10 milhões (pág. 5), distribuído igualmente entre os dois sócios.


Esse valor, além de colocar a PRIME em um patamar superior ao de muitas empresas do setor, também lhe permite:


  • participar de pregões com exigências de robustez financeira,
  • operar nacionalmente com estrutura própria,
  • ofertar garantias elevadas,
  • atuar com agressividade em pregões eletrônicos.

Não é uma empresa pequena disputando espaço:

é uma empresa estruturalmente preparada para dominar o mercado.


5. A cláusula mais reveladora: PODERES IRRESTRITOS aos diretores e procuradores


Uma das partes mais importantes do documento está na página 13: a procuração ad judicia et extra, que concede a advogados e procuradores poderes amplos para representar a PRIME em qualquer lugar do Brasil, incluindo:

  • assinar contratos;
  • celebrar acordos;
  • representar a empresa perante repartições públicas;
  • atuar judicial e extrajudicialmente;
  • praticar atos de administração.

Essa cláusula mostra que a PRIME é estruturada para ter atuação nacional imediata, podendo:


  • abrir e fechar contratos rapidamente;
  • participar de dezenas de licitações simultâneas;
  • operar juridicamente em múltiplos estados.

Essa é uma característica típica de empresas que atuam em rede, muitas vezes disputando pregões em nome próprio e, em determinados contextos, junto com “empresas irmãs”.

A amplitude dos poderes concedidos impressiona — e levanta questionamentos sobre a quantidade de processos, contratos e ações em que a PRIME está envolvida.


6. Blindagem jurídica e multidisciplinaridade: o DNA da empresa

O contrato também mostra:


  • múltiplas atividades não relacionadas diretamente ao produto principal, o que garante flexibilidade jurídica;
  • poder dos diretores para contratar terceiros e abrir filiais;
  • ausência de restrições claras sobre a participação da empresa em consórcios;
  • estrutura societária simples, mas com enorme raio de ação.

Isso é exatamente o que especialistas chamam de empresa de “múltiplo uso”, capaz de se “ajustar” a diferentes editais, exigências técnicas e categorias de pregões.

7. Por que esse contrato social é tão importante para as prefeituras que contratam a PRIME?


Porque ele responde a perguntas fundamentais

Quem controla a empresa?

Dois sócios com poderes totais.

Qual a dimensão da atuação?

Nacional e irrestrita.

Quais serviços ela está habilitada a prestar?

Todos os principais serviços usados em contratos públicos de cartões e gestão de frotas.

A empresa foi estruturada para licitações de grande porte?

Sim. O capital social, os CNAEs e a estrutura jurídica mostram isso.

Ela tem capacidade de operar dezenas de municípios ao mesmo tempo?

Sim. A procuração e a multiplicidade de CNAEs indicam essa vocação.


8. O que o contrato social revela — sem dizer explicitamente


O documento não fala em cartel.

Não fala em fraudes.

Não fala em direcionamento.


Mas o formato empresarial, a amplitude de poderes, os CNAEs específicos, o capital robusto, a dupla de controle, o alcance nacional, a estrutura jurídica hiperflexível e a natureza das atividades econômicas mostram algo muito claro:

PRIME foi moldada para ser um ator dominante no mercado de benefícios, vales, combustíveis e gestão de frotas, o mesmo mercado que concentra denúncias de fraudes licitatórias em todo o país.

O contrato social é a espinha dorsal — o DNA — dessa capacidade de atuação.

OPINIÃO – BLOG DO CLEUBER CARLOS

O contrato social da PRIME não é apenas um documento burocrático:

é uma peça central para entender por que a empresa se tornou uma das maiores fornecedoras de serviços de cartões e gestão de frotas do país.

Ele revela:

  • concentração absoluta de poder;
  • capacidade técnica e jurídica ampla;
  • alcance nacional;
  • multiplicidade de atividades;
  • blindagem operacional;
  • preparo para grandes pregões.


Em um setor marcado por suspeitas, investigações, acórdãos do TCU e denúncias já amplamente documentadas, entender a estrutura societária é fundamental para compreender o modus operandi empresarial.

A PRIME aparece, nesse documento, como uma empresa que não nasceu para competir — mas para dominar.

E quando uma empresa se estrutura para dominar um mercado que deveria ser competitivo, a pergunta é inevitável:

Qual é o limite entre competência empresarial e abuso de poder econômico em prejuízo ao interesse público?

Essa resposta não está no contrato social.

Mas ele, por si só, deixa claro por onde a investigação precisa caminhar.


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