Vende imagem, vende narrativa, vende motivação enlatada, vende emendas, vende o eleitor e vende frases feitas como quem empurra suplemento alimentício em reunião de hotel. É a mutação mais grotesca da política brasileira: o deputado com cabeça de vendedor de rede. A caricatura perfeita do político pós-moderno — um personagem feito de glitter, fumaça e autoajuda barata, sem nenhuma profundidade intelectual.
Esse tipo de deputado não chega ao Parlamento para pensar.
Chega para postar.
Não tem projeto, tem postagem.
Não lidera, recruta.
Não debate, faz live.
Não escreve, dublagem motivacional.
Não estuda, repete.
E repete o quê?
As mesmíssimas frases que qualquer vendedor de pirâmide já cansou de vomitar:
- “Acredite no seu propósito.”
- “Você nasceu para vencer.”
- “Não existe limite para quem tem fé.”
- “Mentalidade milionária.”
Um vocabulário infantilizado, previsível e cansativo — incapaz de sustentar uma conversa séria sobre orçamento, saúde pública ou legislação básica. É a política reduzida à estética do coach.
O pior não é a superficialidade.
O pior é a convicção com que a superficialidade é defendida.
Esse deputado acredita que governar é sorrir.
Que legislar é postar.
Que fiscalizar é “vibrar positivo”.
Que responsabilidade é “mindset”.
E, como bom vendedor de rede, confunde carisma com competência, seguidores com legitimidade, engajamento com trabalho.
Sua relação com o eleitor não é institucional — é emocional, quase religiosa.
Ele opera como líder de culto motivacional: o conteúdo não importa, desde que o público continue batendo palma.
E é justamente nesse ambiente de palmas fáceis que ele prospera.
Esse tipo de parlamentar só é forte onde a ignorância é útil, onde o debate é raso e onde o povo é tratado como plateia — não como cidadania. O mandato vira palco; a assembleia vira auditório; e o Estado, mero cenário para sua performance.
Enquanto isso, as decisões difíceis — aquelas que exigem estudo, técnica, leitura, coragem — ele terceiriza.
Afinal, não é para isso que ele está lá.
Ele está lá para aparecer.
Política de verdade exige densidade.
Esse tipo de político exige apenas câmera ligada.
E aqui está o ponto mais perigoso:
esse deputado não pensa como servidor público — ele pensa como dono de pirâmide.
Distribui emendas como se fossem “bônus de carreira”.
Trata prefeitos como “líderes diamante”.
Agrupa cidades como “equipes de expansão”.
E se coloca como mentor espiritual, guru motivacional, salvador de gente “que pensa pequeno”.
Sua política é uma pirâmide emocional.
Sua liderança, uma ilusão de ótica.
Seu discurso, um roteiro pronto.
Sua base, uma massa hipnotizada.
E seu mandato?
Um palco — caro, financiado pelo contribuinte — que serve para alimentar um ego com fome de aplausos, mas alergia a conteúdo.
A pergunta que fica é simples:
até quando vamos aceitar deputados que vendem motivação barata no lugar de entregar trabalho real?
O Parlamento não precisa de “líderes inspiradores”.
Precisa de gente séria, comprometida, capaz de ler um relatório, discutir um orçamento e enfrentar um debate técnico sem se esconder atrás de frases prontas.
O vendedor de rede pode continuar no palco dele.
No Parlamento, precisamos de alguém que pense.
E isso, infelizmente, não se aprende em treinamento motivacional de fim de semana.
Será que em Goiás, nós temos esse tipo de deputado, filmados e gravados?

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