terça-feira, 25 de novembro de 2025

O Cartel Invisível: Como PRIME, LINK CARD, NEO Facilidades e FitCard Formaram um Sistema Nacional de Fraudes em Licitações e Lavagem de Dinheiro


Documentos revelam um esquema estruturado, persistente e silencioso que atravessa governos, prefeituras e contratos milionários em todo o Brasil — e já foi reconhecido oficialmente pelo TCU.

Há denúncias que chegam como suspeitas, outras como indícios — e há aquelas que aterrissam com a força de um trem de carga, trazendo documentos, acórdãos, depoimentos, cruzamentos societários, laudos e conexões que, sozinhos, já seriam suficientes para acender todas as sirenes do Ministério Público, do Tribunal de Contas e do CADE.


O material ao qual o Blog do Cleuber Carlos teve acesso se encaixa na terceira categoria.

Trata-se de um relatório que expõe aquilo que muitos auditores, pregoeiros e gestores públicos já desconfiavam há anos, mas que poucos tiveram coragem — ou condições técnicas — de sistematizar:

A existência de um cartel nacional operado por PRIME, LINK CARD, NEO Facilidades e FitCard para fraudar licitações, simular concorrência, superfaturar contratos e lavar dinheiro por meio de um ecossistema de empresas, fintechs e associações.

E o que dá mais gravidade ao documento:

o TCU já reconheceu parte desse cartel formalmente.

UM SISTEMA, NÃO UMA EMPRESA: COMO FUNCIONA A ENGENHARIA DO CARTEL

Diferente das fraudes tradicionais, este não é um esquema isolado, nem uma operação eventual.

O documento mostra — com base em contratos sociais, depoimentos judiciais, endereços, atas, vínculos cruzados e modus operandi — a existência de um grupo empresarial oculto, um organismo com várias cabeças, estruturado para:

  • disfarçar seus próprios tentáculos,
  • burlar órgãos de controle,
  • parecer competitivo,
  • e dominar mercados de gestão de frota, cartões de abastecimento, benefícios e arranjos de pagamento.

Esse grupo é composto por:

  • Prime Consultoria e Assessoria Empresarial
  • Link Card
  • Neo Facilidades / Neo Consultoria
  • FitCard

Mas, na prática, segundo a denúncia, essas empresas são o mesmo ente econômico, controlado e coordenado por um grupo único de pessoas — que alterna sócios, troca endereços, reorganiza empresas e muda fachadas para driblar investigações.



O PONTO CHAVE: O TCU JÁ SABE DISSO

O Acórdão 2437/2019 – Plenário do Tribunal de Contas da União, citado no relatório, é absolutamente devastador.

Nele, o TCU afirma que PRIME, LINK CARD e NEO formam:

“um grupo econômico de atuação coordenada”,

“com unidade de comando”,

“utilizado para disputar licitações como se fossem empresas independentes”.

Isso não é conjectura.

É decisão oficial do órgão máximo de controle externo da União.

A partir desse ponto, o relatório se apoia solidamente em jurisprudência — e passa da suspeita para o grau de evidência organizacional.

O MODUS OPERANDI: O CARTEL PERFEITO

O documento detalha uma estratégia consistente que tem se repetido, segundo ele, em décadas de licitações, tanto municipais quanto estaduais:

1. Simulação de concorrência

As empresas entram juntas no pregão.

Cada uma com um CNPJ, um envelope, uma proposta.

Aos olhos do pregoeiro, parecem concorrentes.

Mas, como mostra o relatório:

  • compartilham sócios,
  • compartilham endereços,
  • compartilham funcionários,
  • compartilham histórico operacional.

Ou seja:

concorrência simulada — o crime clássico da 14.133/2021.

2. Rodízio de vencedores

Em uma cidade vence PRIME.

Na outra, NEO.

Em outra, LINK CARD.

E, quando a pressão aumenta, entra FitCard.

Mas o dinheiro sempre volta para o mesmo grupo.

Isso gera o que especialistas chamam de:

“abuso de mercado com alternância fraudulenta de vencedores”.


3. Editais feitos sob medida

As prefeituras lançam editais com características técnicas tão específicas que:

  • apenas uma das empresas do cartel consegue cumprir,
  • ou o grupo inteiro consegue,
  • garantindo que nenhuma empresa externa avance.

4. Atuação após a licitação

Segundo relatos anexados no documento:

  • contratos são superfaturados,
  • taxas administrativas são incompatíveis com o mercado,
  • há baixa transparência nos extratos de transações,
  • e o modelo de fiscalização é frágil a ponto de impossível se auditar.

A denúncia resume assim:

“O cartel domina o certame, domina a contratação e controla a execução.”


PROVAS INTERNAS: DOCUMENTOS, PROCESSOS E DEPOIMENTOS

A denúncia não é construída apenas em tese.

Ela traz peças fortíssimas como:

depoimentos de ex-funcionários em processos trabalhistas

que descrevem sistemas integrados e comandos centralizados entre as empresas;

trechos de investigações da Receita Federal

como a Operação “Spare”, onde empresas do grupo aparecem ligadas à movimentação financeira anômala;

endereço compartilhado em atos societários


mostrando intercâmbio entre empresas que, juridicamente, deveriam ser rivais;


contratos sociais cruzados

onde sócios saem de uma empresa e surgem em outra dentro do mesmo grupo;

licitações específicas

como a do município de Anhumas/SP, onde a atuação coordenada é documentada.


A PARTE MAIS GRAVE: INDÍCIOS DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O relatório dedica uma seção para comprovar que parte dos valores superfaturados em contratos públicos é escoada por:

  • fintechs de fachada,
  • arranjos de pagamento,
  • empresas relacionadas ao “ecossistema” do grupo,
  • empréstimos simulados,
  • associações supostamente representativas do setor.

Segundo o documento:

“O cartel utiliza o sistema financeiro paralelo para lavar recursos provenientes de contratos administrativos superfaturados.”

Esse é o ponto que deve acender a luz vermelha em:

  • Receita Federal,
  • COAF,
  • Polícia Federal,
  • e MPF.

Porque envolve crimes de:

  • lavagem de dinheiro,
  • organização criminosa,
  • corrupção,
  • fraude internacional,
  • e ocultação patrimonial.

O QUE AS PREFEITURAS CORREM RISCO DE ESTAR FINANCIANDO

Se a denúncia estiver correta — e há indícios sólidos aqui — cada município que contrata PRIME, LINK, NEO ou FITCARD está, na prática:

  1. financiando um cartel previamente reconhecido pelo TCU,
  2. alimentando um sistema de fraude licitatória,
  3. possivelmente contribuindo com lavagem de dinheiro,
  4. pagando valores acima do mercado,
  5. e reforçando uma organização criminosa altamente estruturada.

Isso é gravíssimo.


OS CRIMES APONTADO

O documento lista possíveis enquadramentos jurídicos:

  • Fraude em licitação (Lei 14.133/21)
  • Estelionato contra a administração pública
  • Lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98)
  • Organização criminosa (Lei 12.850/2013)
  • Infrações à ordem econômica (Lei 12.529/2011 – CADE)
  • Improbidade administrativa
  • Fraude documental
  • Simulação de competição

É o pacote completo do caos ético-administrativo.

OPINIÃO – BLOG DO CLEUBER CARLOS

Se tudo que está neste relatório for comprovado — e o material é robusto — estamos diante de um dos maiores esquemas de cartelização privada contra o poder público em operação no Brasil hoje.

E o mais preocupante:

não é um cartel improvisado; é um cartel profissional.

Estruturado.

Reorganizado.

Resistente a investigações.

Capaz de transitar entre governos, partidos, prefeitos, secretários e regiões inteiras.

É aquele tipo de esquema que:

  • muda de nome,
  • troca de fachada,
  • altera CNPJ,
  • cria braço novo,
  • encerra braço velho,
  • mas continua lucrando.

A pergunta que os órgãos de controle têm de responder é simples:

Por que esse cartel continua vencendo licitações, mesmo depois de reconhecido pelo TCU?

E outra, ainda mais incômoda:

Quem, dentro da máquina pública, mantém as portas abertas para ele?

O povo brasileiro não pode continuar financiando estruturas privadas que tratam o dinheiro público como território de caça.

E esta denúncia — técnica, bem documentada e amarrada em jurisprudência — precisa ser investigada a fundo, de imediato e sem complacência.

Porque, quando o cartel domina o mercado,

o preço sempre recai sobre quem menos merece:

o contribuinte.


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