A caminhonete S10 zero quilômetro, vinculada ao Gabinete do Prefeito de São Miguel do Araguaia e segurada com recursos públicos por meio do Contrato nº 119/2024, não é apenas um veículo oficial. Ela se tornou, nas últimas semanas, um dos símbolos mais claros de como a gestão municipal opera nas sombras, com versões conflitantes, ausência de transparência e indícios que obrigam uma resposta imediata das autoridades de controle.
O Blog do Cleuber Carlos denunciou ainda em outubro o desaparecimento da caminhonete. O veículo sumiu de São Miguel. Simples assim. A informação que chegava era uma só: ninguém sabia onde a caminhonete estava, quem estava usando ou por que havia sumido.
Mas a população sabia. E as fontes sabiam. A S10 foi vista rodando em Goiânia, longe de sua sede oficial de uso, e com um detalhe explosivo: o motorista seria Saulo Rolim, o mesmo assessor político apontado como operador de bastidores da OS Instituto Alcance e de interesses externos no município.
Depois da repercussão da denúncia, a caminhonete — como num passe de mágica — reapareceu.
Mas reapareceu acidentada.
E é aqui que começa o novo capítulo dessa história, um capítulo que exige atenção do Ministério Público.
Duas versões emergem — ambas gravíssimas
Nos bastidores da cidade, duas versões circulam:
VERSÃO 1 — A caminhonete foi dada como garantia a um agiota
A informação, relatada por pessoas próximas ao gabinete, indica que o prefeito teria uma dívida particular com um agiota.
Segundo essa versão, para garantir o pagamento, o veículo oficial — patrimônio público — teria sido entregue ao credor.
Isso, se confirmado, configura apropriação indevida de bem público, desvio de finalidade, dano ao erário, e crime previsto no Decreto-Lei 201/67.
É o tipo de fato que derruba prefeito.
VERSÃO 2 — Saulo Rolim bateu a caminhonete após avançar um sinal vermelho
A segunda versão aponta que Saulo, conduzindo a S10 em Goiânia, teria sofrido um acidente por ultrapassar um semáforo vermelho.
Isso explicaria o estado do veículo hoje: parado em uma oficina em São Miguel, ainda não consertado.
Ambas as versões podem ser verdadeiras. Ou nenhuma delas.
Mas o que importa é: a prefeitura não apresentou nenhuma versão oficial.
A pergunta que grita: CADÊ O LAUDO DO ACIDENTE?
A caminhonete tem seguro contratado com dinheiro público, incluindo cobertura de colisão, perda parcial e perda total.
Se houve acidente — e houve — deveriam existir:
- Registro oficial da ocorrência
- Boletim de acidente de trânsito (BAT)
- Laudo pericial da seguradora
- Comunicação imediata ao seguro
- Orçamento autorizado para conserto
Nenhum desses documentos foi tornado público.
Nenhum.
E isso não é detalhe burocrático; é prova material de que o processo está irregular.
A seguradora só paga se houver REGISTRO do acidente
É assim com qualquer cidadão.
É assim com qualquer empresa.
Com o poder público, deveria ser ainda mais rígido.
A seguradora não libera reparo de R$ 20 mil, R$ 30 mil ou R$ 40 mil sem:
- vistoria,
- laudo fotográfico,
- boletim,
- assinatura do condutor responsável.
E é justamente isso que falta nessa história: quem era o condutor?
Se foi Saulo Rolim, ele estava autorizado a dirigir um veículo oficial?
Se não foi ele, quem foi?
E por que o nome desse condutor não aparece em documento nenhum?
A S10 está há semanas em uma oficina. Quem vai pagar?
A oficina existe.
A caminhonete está lá.
É fato.
Agora, duas possibilidades:
1. O conserto vai ser pago pela seguradora — se houver registro
Mas não existe, até agora, documentação pública que indique essa comunicação.
2. O conserto será pago pela própria prefeitura
O que seria desvio de finalidade e prejuízo ao erário, já que o município pagou seguro justamente para isso.
As perguntas que o Ministério Público precisará responder
- Onde está o laudo do acidente da S10 oficial?
- Quem estava dirigindo o veículo no momento do acidente?
- Por que o veículo oficial desapareceu da cidade por semanas?
- Quem autorizou que ele fosse para Goiânia?
- A seguradora foi acionada? Quando? Por quem?
- Se a caminhonete foi usada como garantia de dívida particular, quem permitiu isso?
- Por que o gabinete — dono formal do veículo — não publicou nenhuma explicação oficial?
No fim, resta a pergunta mais importante: QUAL É A VERDADE?
Porque uma coisa é clara:
A verdade não combina com silêncio.
E muito menos com caminhonete sumida, reaparecendo batida e sem nenhum documento oficial.
O caso da S10 não é apenas uma história de acidente.
É uma história de ocultação, omissão, conflito de versões e indícios de que a máquina pública pode ter sido usada para interesses que nada têm a ver com São Miguel do Araguaia.
O Blog do Cleuber Carlos continuará acompanhando — e expondo — cada capítulo.

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