Advocacia e atividade político-partidária são incompatíveis. Ou se é advogado ou se faz política. Compatibilizá-las é impossível, a não ser com prejuízo de uma delas, ou, mais comumente, de ambas atividades.
Falo por experiência própria. Já desenvolvi, simultaneamente, essas duas atividades e, confesso, foi quando cometi erros que não cometeria se estivesse me dedicando a uma só delas.
Felizmente, os erros por mim cometidos não causaram danos a clientes ou terceiros, mas, infelizmente, eu mesmo os sofri. E paguei caro.
Desde quando abandonei definitivamente a atividade político-partidária, consegui melhorar minha performance na advocacia.
É que não é possível aperfeiçoar-se na advocacia quando se está exercendo atividade político-partidária.
Advocacia exige muito estudo, muita concentração. O pensamento deve estar concentrado exclusivamente no encontro de soluções, processuais e substanciais, para a causa do seu constituinte. Um cochilo e a derrota será inevitável.
Igualmente, a atividade política exige muita dedicação.
Não é possível conciliar, com eficiência, as duas atividades, nem transplantar, mecanicamente, para a política a experiência da advocacia, nem a desta para aquela. É muito difícil separar, na prática, de cada uma, aquilo que pode ajudar. A probabilidade de erro nessas operações é muito grande.
São atividades distintas, diria mesmo, em determinadas situações, antagônicas.
A advocacia exige parcialidade absoluta. O interesse do constituinte é o seu único foco. É o objetivo a ser alcançado. Fidelidade absoluta àquele que em você confiou seu destino.
A política-partidária, de outro lado, exige fidelidade a um número indefinido de pessoas, a um ideário – muitas vezes ou quase sempre complexo ou impreciso - ou a um partido. O compromisso deve ser com a coletividade, não com o indivíduo. O objetivo é multifacetado. É preciso conciliar, transigir, o que nem sempre é possível na advocacia, principalmente na criminal.
Mesmo em tempos de delação premiada, quando é importante saber negociar, o compromisso maior do advogado é com a liberdade do seu constituinte.
Haveria muito mais a falar a respeito. Não cabe aqui, nem é minha pretensão. Daria uma dissertação. Talvez um dia eu a escreva. O que importa, nessas poucas linhas, é dizer que quem quer ser um bom advogado, não pode querer ser, ao mesmo tempo, um bom político.
A defesa técnico-jurídica não pode ser exercida com eficiência se o advogado, ao mesmo tempo, pretender fazer a defesa política do que lhe confiou a causa.
É por isso que o Advogado Geral da União – ao fazer, simultaneamente, no mesmo contexto, as duas defesas, jurídica e política, da Presidente Dilma – tem cometido tantos erros.
O último, revelado hoje, quando o STF adiou o julgamento dos Mandados de Segurança contra a posse do Lula, porque há duas ADPFs tratando do mesmo tema, ainda não prontas para julgamento colegiado, em razão de o AGU não ter apresentado contrarrazões aos agravos interpostos contra as decisões que lhes negaram seguimento - um cochilo inadmissível para um advogado, que estava nos palanques do Palácio do Planalto, defendendo Dilma, politicamente.
Se estivesse concentrado na advocacia, o julgamento teria sido hoje. Achou que o indeferimento das ADPFs era vitória definitiva. Não era. Advogado teria corrido. Político, achou que tinha sido vitorioso. Resultado, Lula continua fora do Ministério. Provavelmente, quando os processos estiverem prontos e houver pauta para julgamento, Dilma já terá sido afastada pelo Senado e Lula exonerado.
Ruim para a biografia do AGU, pior para o destino de Dilma, a quem ele não defendeu com a eficiência que se exige de todo advogado.
Artigo de Ney Moura Telles - Advogado especialista em Direito Penal
Nenhum comentário:
Postar um comentário