Em Nerópolis, a prioridade do governo municipal já não é mais mistério — e tampouco é saúde, dignidade ou responsabilidade pública. A nova licitação aberta pela prefeitura, no valor estimado de R$ 5.946.946,04, para plantio de grama batatais e esmeralda em espaços públicos, escancara um governo que escolheu viver em uma bolha de paisagismo enquanto a população se afoga no caos.
Não é exagero. Não é retórica. É realidade concreta: crianças autistas sem terapias, famílias sem fraldas disponibilizadas pelo município, medicamentos em falta, atendimentos suspensos, e uma rede de saúde colapsada. Ao mesmo tempo — no mesmo período — o prefeito solicita um empréstimo de R$ 16,6 milhões para supostamente reorganizar as contas públicas.
A pergunta que brota como mato em praça abandonada é direta:
Se falta dinheiro até para comprar remédio, como sobra quase seis milhões para plantar grama?
A Licitação Que Brilha Mais Que a Realidade
O processo licitatório descreve um pacote completo: preparo e regularização do terreno, fornecimento de grama, adubação, irrigação, compactação e manutenção inicial. Um verdadeiro projeto urbanístico milionário, digno de capital europeia — não de uma cidade onde mães precisam fazer vaquinha para comprar insumos básicos para seus filhos com TEA.
A prefeitura quer renovar canteiros e rotatórias enquanto:
- UBSs não têm dipirona,
- famílias não recebem fraldas,
- o município não oferece terapias essenciais,
- e a população implora por atendimento básico.
Trata-se de um governo que escolheu maquiar a cidade em vez de tratar as feridas da população. É a estética acima da ética.
A Matemática da Imoralidade
O prefeito afirma que as finanças estão em dificuldade:
• pede empréstimo de R$ 16,6 milhões,
• alega necessidades urgentes,
• fala em crise e contenção.
Mas ao mesmo tempo:
• abre licitação milionária para colocar tapete verde nos canteiros.
Não se trata de incapacidade técnica. Trata-se de prioridade política. E a prioridade escolhida pelo governo é clara: fazer a cidade parecer bonita, mesmo que esteja doente.
É o velho truque do gestor superficial: “não resolvo o problema, mas coloco grama em cima.”
Enquanto isso, crianças autistas continuam sem atendimento. Isso não é detalhe. É um escândalo.
Improbidade Moral: O Gestor Que Trai Sua População
A Constituição é cristalina: saúde é direito de todos e dever do Estado. Quando o governo desvia energia, foco e recursos para projetos cosméticos no momento em que a saúde está em colapso, configura-se muito mais do que gestão irresponsável — configura-se violação de princípios fundamentais da Administração Pública, especialmente moralidade e razoabilidade.
É imoral.
É desproporcional.
É socialmente cruel.
E, juridicamente, pode configurar ato de improbidade administrativa por ofensa aos princípios, conforme art. 11 da Lei 8.429/92 e art. 11 da Lei 14.230/21.
Há ainda o risco claro de sobrepreço e superfaturamento, já conhecidos em contratos de paisagismo e manutenção urbana no Brasil. É um tipo de licitação que historicamente serve de caminho para:
- superdimensionamento de custos,
- aditivos posteriores,
- medições subjetivas,
- e serviços de difícil fiscalização.
Nerópolis já viu esse filme. E ele nunca termina bem para o contribuinte.
A Cidade Que Clama, e o Prefeito Que Finge Não Ouvir
O relato que chegou à reportagem — vindo de representante legítima do povo — é devastador:
“Crianças autistas sem terapias, falta remédio, falta fraldas, saúde defasada no geral… e o prefeito fazendo licitação para comprar quase 6 milhões em grama.”
Não há contra-argumento técnico que salve uma decisão como essa.
Não há spin político que justifique.
Não há marketing que perfume a realidade.
Quando um gestor escolhe plantar grama enquanto a saúde agoniza, ele revela o tipo de governo que pratica: um governo que enxerga a população como figurante, não como prioridade.
É o governo da maquiagem.
O governo da superfície.
O governo da insensibilidade institucionalizada.
Nerópolis não precisa de mais grama.
Nerópolis precisa de governo.
Opinião
A licitação milionária para paisagismo não é apenas inadequada: é um ato de desprezo com quem mais precisa do poder público. É uma afronta ética. É a confissão explícita de um prefeito desconectado da realidade. É a prova de que, enquanto as famílias lutam para sobreviver, o governo luta para deixar a cidade “bonita na foto”.
Nunca ficou tão claro:
Nerópolis sofre de abandono — e não é abandono natural. É abandono oficial. É abandono com assinatura.

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