O Contrato de 1 Milhão em Refeições de São Miguel do Araguaia e os Números que Não Fecham: Uma Conta que Insulta a Inteligência do Cidadão
Há contratos públicos que chamam atenção pelo valor.
Há outros que chamam atenção pela ousadia.
E existe o Pregão nº 45/2025 da Prefeitura de São Miguel do Araguaia — esse não apenas chama atenção: ele desafia a lógica, o bom senso e a matemática mais básica.
A prefeitura decidiu contratar R$ 1.037.300,00 em refeições — marmitex e self-service — com uma quantidade tão inflada que transforma a realidade do município em ficção científica.
E, como sempre, o dinheiro é público.
O prejuízo também.
Os números do contrato: um escândalo servido no prato
Segundo o documento oficial, a empresa Claudier C. da Cunha Varandas Ltda venceu a licitação oferecendo:
19.160 marmitex
a R$ 27,50
8.800 refeições self-service
a R$ 58,00
Total: 28.000 refeições no ano
Ou seja, São Miguel do Araguaia estaria consumindo:
- 93 marmitas por dia,
- + 24 pratos self-service por dia,
- todos os dias do ano,
- incluindo domingos, feriados, recessos e dias em que o próprio órgão público sequer funciona.
Se isso fosse verdade, seria necessário que a prefeitura alimentasse diariamente:
- todos os servidores das ruas,
- mais equipes dobradas,
- mais equipes inexistentes,
- mais voluntários imaginários,
- mais uma fila invisível de gente que ninguém sabe quem é.
Não existe qualquer estrutura administrativa, social ou operacional que justifique esse número.
Nenhuma.
E ainda assim, o governo municipal homologou tudo com uma serenidade irritante.
O self-service a R$ 58: caro até para Goiânia, mas barato para quem superfaturaO preço de R$ 58,00 por refeição é surreal.
Em Goiânia:
- Restaurantes executivos de classe média: R$ 28 a R$ 40
- Restaurantes de shopping: R$ 32 a R$ 45
- Restaurantes por quilo em bairros nobres: R$ 50 a R$ 55 em dias de carne especial
Mas em São Miguel do Araguaia — um município de 25 mil habitantes — a prefeitura paga R$ 58 por prato.
Por quê?
Qual é o restaurante gourmet secreto funcionando dentro da prefeitura?
Ou melhor:
qual é a engenharia financeira por trás desse valor?
Quantitativo inflado: o modus operandi clássico dos contratos fraudulentos
A engenharia dos números inflados é velha conhecida dos órgãos de controle:
- Aumenta-se a quantidade ao absurdo.
- Superestima-se o consumo diário, mesmo quando não existe demanda real.
- O contrato é executado só no papel, com notas fiscais para cobrir “entregas” que nunca aconteceram.
- O dinheiro é pago como se a refeição tivesse sido servida
É assim que se transforma marmita de R$ 12 em marmita de R$ 90, disfarçada no volume contratado.
E aqui, o que mais chama atenção é a matemática criminosa que tenta se esconder atrás desse pregão.
Microempresa vence contrato milionário: outro alerta vermelho
A vencedora é declarada microempresa.
Microempresa que:
- precisa ter cozinha industrial,
- equipe,
- nutricionista,
- logística diária,
- capacidade de entrega de 2.300 refeições por mês,
- e ainda manter atendimento regular para o público.
Microempresas reais de alimentação não têm essa capacidade.
E quando não têm, o que acontece?
➡️ Subcontratação ilegal
➡️ Terceirização não prevista
➡️ Empresas de fachada
É assim que esquemas florescem.
Telefone zerado: o detalhe que escancara a farsa
No documento da prefeitura, o telefone da empresa aparece como:
(00) 0000-0000
Isso mesmo.
No contrato de mais de 1 milhão de reais, o telefone da fornecedora é ZERO.
Não há verificação, não há diligência, não há zelo.
Há apenas pressa em homologar.
E quando o governo não se preocupa nem em fingir que verifica dados básicos, é porque acredita que ninguém irá fiscalizar.
Mas agora alguém está fiscalizando.
A incoerência final: 1 milhão em refeições para onde? Para quem? Para quê?
A Prefeitura de São Miguel do Araguaia não apresentou:
- plano de demanda,
- justificativa técnica,
- estimativa real de consumo,
- setores atendidos,
- comparativo com contratos anteriores,
- nem relatório de necessidade.
E ninguém sabe:
- Quem come essas refeições?
- Onde são entregues?
- Quem confere a entrega?
- Onde estão as ordens de fornecimento?
- Por que essa quantidade absurda?
O que existe é apenas o documento:
28 mil refeições inventadas e 1 milhão de reais escorrendo pelo ralo — ou por algum bolso.
Opinião do Blog do Cleuber Carlos
Nenhum gestor sério, nenhum contador responsável e nenhum pregoeiro ético homologaria um contrato com números tão divorciados da realidade.
Não se trata apenas de falha técnica.
Não é descuido.
Não é erro contábil.
É um absurdo matemático, administrativo e moral.
É um contrato que se sustenta apenas se houver:
- fraude na estimativa,
- sobrepreço,
- entrega fictícia,
- ou completa omissão da fiscalização.
E se algo disso estiver acontecendo, não estamos diante de uma simples irregularidade.
Estamos diante de uma violação flagrante ao dinheiro público —
uma agressão ao cidadão de São Miguel do Araguaia.
E como sempre, o Blog do Cleuber Carlos irá até o fim para expor cada detalhe.






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