Na inauguração da OAB em Morrinhos, Rafael Lara repudia promotor — e prefeito Maycllyn aplaude de pé: um gesto que fala mais do que o discursoMorrinhos presenciou, nesta manhã, um dos episódios institucionais mais simbólicos — e mais estranhos — dos últimos tempos.
Durante a inauguração da nova sede da Ordem dos Advogados do Brasil na cidade, o presidente da OAB-GO, Rafael Lara, fez um pronunciamento duro, alinhado ao que a advocacia costuma chamar de “defesa intransigente das prerrogativas”. Até aí, normal.
O problema é para quem e contra quem o discurso foi direcionado — e quem aplaudiu.
No microfone, Rafael Lara enviou abraços e solidariedade ao advogado envolvido numa discussão acalorada ocorrida dias antes durante um Tribunal do Júri. Ao mesmo tempo, mandou um recado direto e público:
O promotor de Morrinhos foi repudiado por sua conduta
e a OAB irá até as últimas consequências na Corregedoria do Ministério Público.
A plateia reagiu com murmúrios.
Mas um gesto se destacou.
O prefeito de Morrinhos, Maiklin, levantou, colocou-se de pé e aplaudiu efusivamente o repúdio ao promotor da própria cidade que ele administra.
E é aí que a história deixa de ser sobre OAB x MP, sobre prerrogativas, sobre defesa profissional.
E se transforma em política — política pura.
O episódio do Tribunal do Júri: tensão natural, exagero discursivo, mas nada além do ordinário
Discussões em Tribunal do Júri não são novidades.
Advogados e promotores se enfrentam, se exaltam, discordam e — muitas vezes — ultrapassam o tom.
É da natureza do plenário.
O próprio Ministério Público e a própria OAB sabem disso. Por isso existem Corregedorias, Procuradorias e Comissões de Prerrogativas: para absorver esses impactos e enquadrar excessos.
Mas o que ocorreu hoje não foi sobre o episódio.
Foi sobre o uso político do episódio.
O discurso de Rafael Lara: firme, mas dentro do script da OAB
Como presidente da OAB-GO, Rafael Lara fez o que se espera de um dirigente da entidade:
- defendeu o advogado envolvido;
- criticou a postura do promotor;
- anunciou medidas administrativas na Corregedoria do Ministério Público.
É duro? É.
É simbólico? É.
Mas está dentro do campo institucional da OAB.
O que saiu completamente do esperado foi a reação política dentro do evento.
O gesto que gritou mais alto: o prefeito Maiklin aplaudindo o repúdio ao promotor
Em qualquer cidade, o prefeito é, por definição, chefe do Executivo local — e deve manter relação minimamente institucional com todos os órgãos essenciais à justiça, especialmente:
- Polícia Civil
- Polícia Militar
- Poder Judiciário
- Ministério Público
- Defensoria Pública
- OAB
É assim que funciona a independência entre os poderes.
É assim que se garante um mínimo de equilíbrio democrático.
Quando o prefeito Maiklin levanta e aplaude de pé o repúdio formal ao promotor da cidade, acontecem três coisas:
1️⃣ Ele rompe a liturgia do cargo
Prefeito não toma partido em conflito técnico entre OAB e MP.
Prefeito atua para pacificar, não para incendiar.
2️⃣ Ele se coloca nominalmente contra o promotor
E não é “o promotor de Goiás”.
É o promotor da cidade dele.
O representante do Ministério Público que fiscaliza:
- licitações,
- contratos,
- processos administrativos,
- improbidade,
- saúde,
- educação,
- e tudo o que envolve o Executivo municipal.
3️⃣ Ele envia um recado político — e não é discreto
Quando um prefeito aplaude a repreensão pública de um promotor, o que está sendo dito implicitamente?
- “Estou com a OAB.”
- “Não estou com o Ministério Público.”
- “A divergência do júri virou minha divergência também.”
- “A crítica ao promotor me interessa.”
Isso não é institucional.
Isso é político — e político da forma mais inadequada possível.
Por que o gesto preocupa? A resposta está no contexto de Morrinhos
Morrinhos não vive momento tranquilo.
A cidade está cercada por denúncias, tensões administrativas e investigações sensíveis.
- Saúde? Pressões, denúncias, irregularidades.
- Contratos? Questionamentos constantes.
- Nomeações? Problemas recorrentes.
- Ministério Público? Atento, presente, provocando desconforto em setores do governo.
Nesse cenário, um prefeito levantar e aplaudir um discurso de repúdio ao promotor não é apenas improvável.
É indicativo.
Reações assim não acontecem por acaso.
O que isso revela politicamente
🔍 Um prefeito aplaude de pé quando está confortável com a crítica.
🔍 Um prefeito aplaude de pé quando o alvo da crítica não lhe é simpático.
🔍 Um prefeito aplaude de pé quando vê vantagem política no ataque.
E, no caso de Morrinhos, esse gesto faz surgir uma pergunta inevitável:
O que incomoda tanto o prefeito no trabalho do promotor
Essa pergunta — e apenas essa — já explica a gravidade da cena.
Opinião — Blog do Cleuber Carlos
Aplausos dizem muito.
E, às vezes, dizem mais do que discursos.
Hoje em Morrinhos, o que chamou atenção não foi a fala do presidente da OAB-GO — que cumpriu seu papel.
Foi o gesto do prefeito Maiklin, que cumpriu outro: o de tomar partido contra o promotor da própria cidade numa disputa que não é dele.
Prefeito não é torcedor.
Prefeito não é comentarista.
Prefeito não aplaude briga institucional entre órgãos essenciais à justiça.
Quando aplaude, revela incômodo.
Quando aplaude, revela interesse.
Quando aplaude, revela disputa.
E quando essa disputa envolve o Ministério Público — órgão fiscalizador direto das ações do prefeito — o gesto deixa de ser apenas estranho.
Passa a ser sintomático.
E Morrinhos, que não é ingênua, entendeu o recado.
Nós também.
E continuaremos atentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário