quarta-feira, 26 de novembro de 2025

A Crise Oculta na Alego: Suspeitas de “dossiê”, ameaças e um plenário sob pressão

A crise entre o governo Ronaldo Caiado e a Assembleia Legislativa de Goiás deixou de ser apenas uma disputa contábil sobre emendas e duodécimos. O que emergiu nos bastidores da votação da PEC que ampliava o valor das emendas impositivas foi um cenário muito mais áspero, permeado por relatos de pressão, acusações de favorecimento, clima de hostilidade e — o elemento mais explosivo — suspeitas de que o governo teria circulado um “dossiê” envolvendo deputados da própria base.


A informação veio à tona pela via formal do jornalismo profissional: O Popular, em reportagem recente, citou que parlamentares falaram abertamente em plenário sobre ameaças de investigação e até de prisão dirigidas a dois deputados do Solidariedade: Júlio Pina e Coronel Adailton. A matéria afirma ainda que, nos bastidores, havia quem comentasse sobre um suposto dossiê relacionado a repasses de emendas a entidades privadas, supostamente utilizado como mecanismo de pressão em meio à disputa pela derrubada da PEC.


Essa suspeita, mesmo tratada pelo jornal como especulação, acendeu o alerta dentro da Casa. A simples menção a um eventual dossiê — ainda mais num ambiente carregado por tensões entre governo e deputados — ampliou a sensação de vigilância, intimidação e retaliação política.





O voto que virou — e a pressão que ninguém nega



Para entender o contexto: a PEC, protocolada em abril, tinha 20 assinaturas favoráveis. Mas no dia da votação, o placar mudou drasticamente: 25 votos derrubando a proposta e apenas 9 mantendo-a.


Entre os ausentes, justamente um dos citados nas especulações: Júlio Pina.

Coronel Adailton chegou a participar virtualmente da sessão.


O Popular noticiou que parlamentares da oposição e até da base falavam em “pressão”, “cabresto” e “ameaças veladas”. A narrativa dominante era clara: houve interferência direta do governo para reverter votos — e, ao que tudo indica, com métodos que ultrapassaram a articulação política tradicional.

O que seria o “dossiê”?

Segundo o conteúdo publicado:

Haveria um compilado de informações envolvendo repasses de emendas parlamentares a entidades privadas, incluindo organizações sociais (OSs), utilizado para constranger deputados que vinham confrontando o governo na disputa orçamentária.


O tema das OSs, aliás, já vinha sendo motivo de atritos internos. Em outro episódio, também documentado por Mamede Leão, o deputado Gustavo Sebba questionou se o deputado Jamil Calife, cujo hospital teria recebido cerca de R$ 18 milhões via OSs, estaria evitando investigações por interesse próprio.

Assim, os elementos se conectam:

  • Emendas parlamentares
  • Contratos com OSs
  • Repasses a entidades privadas
  • Pressão sobre deputados
  • Mudança de votos
  • Suspeita de uso político de informações sensíveis

O cenário, portanto, não é isolado: é sistêmico.

Ameaças, CPIs e o clima de hostilidade

A tensão cresceu a ponto de parlamentares cogitarem responder às pressões com CPIs contra o governo, especialmente para investigar contratos da saúde e falhas na segurança pública.

Ainda segundo a reportagem, líderes da base tentaram minimizar o episódio, alegando que tudo não passou de “falas mal interpretadas” e “cabeça quente”. Porém, como ocorre nos momentos mais críticos da política goiana, quando lideranças pedem calma demais, é porque o conflito é maior do que desejam admitir.

O deputado Amauri Ribeiro, um dos poucos da base a comentar o assunto em público, foi direto:

“Deixamos claro nas reuniões que não aceitamos esse tipo de atitude.”

Mesmo sem entrar em detalhes, a frase — seca e firmada no plural — confirma que algo aconteceu.

Enquanto isso, o acordo político caminhava

Paralelo às denúncias, outro movimento ocorria:

  • Deputados aliados receberam um “plus” no orçamento das secretarias de Saúde e Educação.
  • O líder do governo, Talles Barreto, costurava a reviravolta.
  • O vice-governador, Daniel Vilela, conduzia reuniões e “bateu o martelo” sobre o acordo final.
  • O presidente da Alego, Bruno Peixoto, recuou após diálogo direto com Caiado, alegando razões técnicas ligadas ao Regime de Recuperação Fiscal.

No fim, o governo conseguiu o que queria.

E isso reforça ainda mais a percepção entre os deputados de que a pressão funcionou — seja ela política, orçamentária ou, como sugerem as especulações, baseada em informações sensíveis.

O que fica exposto após essa crise

  1. A base aliada não está tão coesa quanto aparenta.
  2. A relação entre governo e deputados passa, hoje, por um grau de tensão incomum.
  3. O tema das OSs, emendas e repasses privados ganhou centralidade e pode resvalar em novos confrontos.
  4. O suposto dossiê, mesmo sem comprovação, alimenta a desconfiança e fragiliza o ambiente político.
  5. Ameaças — reais, percebidas ou especuladas — tornaram-se parte explícita do debate.

Goiás já viu muitas disputas políticas duras, mas poucas com a combinação atual:

orçamento estrangulado, base fragmentada, rumores de dossiês, deputados acusando pressão e governo tentando conter danos.

Essa crise ainda não terminou.

E se há algo que a política goiana ensina é:

onde há fumaça, a Assembleia costuma levantar a tampa — cedo ou tarde.


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