Rodrigo Caetano Foto Marluci Martins (EXTRA) |
Coincidência ou não, depois que
Rodrigo Caetano atravessou o Túnel Santa Bárbara e trocou São Januário pelas
Laranjeiras, o Vasco mudou. A concentração virou ponto de encontro facultativo,
problemas internos vieram à tona. O diretor executivo do Fluminense não chega a
dar de ombros para a reviravolta, mas hoje, no Engenhão, seu coração baterá
pelo Tricolor.
O destino, porém, levará Rodrigo
a São Januário justamente no seu aniversário. Ele completará 42 anos em 18 de
fevereiro, na fervura de um Fluminense x Bangu, no estádio que tão bem conhece.
Foram três anos ali. Mas hoje é dia de viver o encontro entre o passado e o
presente. No Engenhão.
O Vasco tinha estádio, mas
enfrentava dificuldades financeiras. E o Fluminense tem bom patrocínio, mas não
tem estádio. O que é melhor?
Eu não gostaria de comparar. Só
tenho a agradecer ao Vasco. Tenho que agradecer também o convite que tive para
trabalhar no Fluminense, o primeiro clube que me procurou após minha saída do
Vasco. O Fluminense não tem estádio, mas tem o melhor e maior patrocínio do
Brasil.
O que achou da crítica da
Patricia Amorim ao Flu na briga por Thiago Neves?
Ela tinha que ter negociado com o
Al-Hilal de forma mais competente. O atleta não pertencia ao Flamengo. O
Flamengo perdeu um prazo de opção de compra. O Vasco tinha a opção de compra do
Bernardo até 30 de dezembro. Se não fizesse o pagamento nesse prazo, qualquer
clube poderia entrar e negociar com o Cruzeiro.
Deixou amigos no Vasco?
Ricardo Gomes é um cara fino. Um
dos maiores amigos que fiz no futebol. Devo visitá-lo antes do carnaval. Ele me
ligou quando vim para o Fluminense. Tenho certeza de que deixei amigos. O
convívio foi bacana, de reconstrução.
Tem mágoa do Roberto Dinamite?
Não. Ele está certo quando diz
que o trabalho não tem que ser personalizado. Tudo foi construído por uma
equipe. O líder maior era o presidente. Depois, no futebol, era o Mandarino.
Você virou uma grife. Foi
apresentado no site oficial do Fluminense e a torcida do Vasco já gritou o seu
nome...
É o reconhecimento. O Celso
(Barros) disse recentemente que deveria ter contratado um diretor executivo há
mais tempo. Não que o Branco não fosse um... Mas nenhum clube vislumbra
caminhar sem um profissional na estrutura organizacional.
Quando estava no Vasco, você
defendia a realização de clássicos em São Januário. E agora? O jogo contra o
Fluminense será no Engenhão...
(Risos) Para efeito de estatuto
do torcedor, o Vasco aparece como mandante, porém o regulamento do Estadual diz
que o jogo deve ser em campo neutro.
Posso voltar a te perguntar isso
no Brasileirão?
Lá na frente, então, eu respondo
(risos).
Por que no ano passado, quando
você estava no Vasco, os jogadores concentravam sem receber salário, e, agora,
andaram se recusando?
Vou me abster dessa. Até porque,
minha forma de fazer gestão nunca foi imposta.
Já engoliu sapo?
Tem uns que não passam. É preciso
ter inteligência emocional. Refletir para reagir na hora certa. É uma virtude.
Ainda tenho que evoluir esse lado. Preciso ser maleável.
É a favor do fim da concentração?
Aqui no Brasil, não. Acho que a
melhor função da concentração é proteger os atletas. Acho que é prejudicial um
jogador não concentrar ou o clube entender que isso é razoável. Hoje em dia,
você tem inúmeras ferramentas, câmeras, twitter... E se o torcedor joga no
twitter que viu o jogador em tal lugar? Costumo dizer que no futebol deve-se
ter muito cuidado. Aprendi lá atrás duas expressões: as questões relativas ao
departamento de futebol são de economia interna, e notícia no futebol é que nem
travesseiro de pena. Depois que estoura, você sai catando as penas, mas não
consegue juntar todas elas, não.
Você proíbe o Twitter?
Não posso proibir, mas aconselho.
A gente pede que nada relativo às atividades seja divulgado nas redes sociais
dos atletas. Pedimos que, se utilizarem a ferramenta, saibam preservar a sua
imagem.
E se os jogadores do Fluminense
decidirem um dia não concentrar?
Não vou trabalhar com essa
hipótese porque não é nosso cenário.
Não estou falando sobre salário
atrasado, mas sobre a hipótese de a moda pegar...
Eu conversaria. Acredito muito na
conscientização. E já fui um deles. No ano que vem, faz dez anos que estou
nessa função (de dirigente), mas faz também dez anos que me retirei dos campos.
Conheço o outro lado. Isso facilita.
Como jogador, você não brilhou.
Mas era um líder?
Eu era meia-esquerda. Fui mais
coadjuvante do que protagonista. Sempre fui capitão dos times em que joguei.
Era responsável pela caixinha.
Como jogador, fez seu time
desistir de algum protesto?
Sempre achei que o melhor era
aumentar a dívida do clube conosco. De que forma? Ganhando os jogos e mostrando
mais trabalho. Sempre defendi essa tese.
Você contratou o Rodolfo e o
Thiago Feltri para o Vasco. Mentiu para eles, dizendo que o salário estava em
dia?
Não, não. E ainda disse a eles
que havia a chance de eu sair. Mas muitos dos jogadores do Vasco vão encerrar
seu ciclo lá na frente. Negociações, venda... Exemplos: Dedé, Fagner, Rômulo...
E a remontagem é difícil. É preciso ter do seu lado um aporte financeiro ou
credibilidade. Lá no Vasco, isso foi construído tijolinho por tijolinho. E uma
notícia dessas (salário atrasado) mexe com a credibilidade. Acho que eu era
muito chato em fazer com que as coisas acontecessem. Lá, foram três anos de
reconstrução de credibilidade da imagem. É aquela história do travesseiro...
Você vai catando, mas as penas já estão no chão. Você não consegue.
Então, se o salário atrasa e a
credibilidade fica arranhada, por que Rodolfo e Feltri aceitaram?
Mas não havia esse histórico.
Atrasava, sim, mas nós reuníamos o pessoal no vestiário, botávamos a cara,
dizíamos que o salário não sairia. Eu me sentia mal em desviar e fingir que
nada acontecia. Eu não desvio, não.
Já tirou dinheiro do bolso para
ajudar funcionário do Vasco?
Não gostaria de responder
(emociona-se). É... A vida é assim. Tem coisa que não dá para responder. É
difícil depois de sair, ouvir... Sei de muita coisa que a gente fez lá...
Por que saiu?
Foi uma série de fatores, entre
as quais, um desgaste natural. Algumas coisas deveriam ser modificadas, mas
acabaram não acontecendo. Não quero personalizar nada disso. Sou grato ao
Vasco.
Fala com o Roberto?
Encontrei-o no lançamento de uma
emissora de televisão. Ele foi educado.
Dizem que você saiu porque estava
insatisfeito com a bagunça da base.
Jamais vou me pronunciar a
respeito disso. Só agradeço. Vamos deixar assim.
Você não mexia com a base, certo?
Não, mas deveria.
Como será o reencontro com o
Vasco?
Espero que seja uma reação de
reconhecimento ao meu trabalho. Espero que o Fluminense vença, até porque está
precisando mais, nesse momento. É isso.
Reportagem: Jornal extra
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