1. O fato inicial: um contrato que não se explica sozinho
O BRB, banco controlado pelo Governo do Distrito Federal, firmou o Contrato nº 246/2025 com o escritório Loria e Kalansky Sociedade de Advogados, para atuar na defesa dos interesses do banco dentro da CVM.
O contrato recebeu um aditivo de 25%, publicado no Diário Oficial do DF.
O que não foi publicado:
• o valor do contrato;
• o valor do aditivo;
• os processos específicos que estão sendo defendidos;
• os pareceres técnicos que embasaram a contratação;
• qualquer análise pública de potencial conflito de interesses.
Em se tratando de um banco estatal, isso por si só já exigiria explicações.
Mas o problema real surge quando se observa quem foi contratado.
2. Defesa dentro do regulador por ex-dirigente do próprio regulador
Um dos sócios do escritório contratado, Eli Loria, foi diretor da própria CVM, participando por anos de julgamentos, decisões estratégicas e da condução institucional da autarquia.
Hoje, o escritório do qual ele é sócio atua defendendo um banco público exatamente dentro do órgão que ele ajudou a dirigir.
É fundamental ser preciso:
• não se afirma ilegalidade;
• não se acusa favorecimento direto;
• não se questiona a capacidade técnica do profissional.
O que se questiona é a saúde institucional do sistema.
Em mercados regulados, a aparência de independência é tão relevante quanto a independência formal. Quando ex-dirigentes passam a atuar dentro do próprio regulador representando interesses poderosos — e especialmente interesses públicos — a transparência precisa ser absoluta.
Ela não foi.
3. O contexto omitido: o BRB está sob escrutínio da CVM
O contrato não foi firmado em um cenário abstrato.
O BRB e integrantes de sua governança figuram em processos sancionadores, comunicações ao mercado e julgamentos públicos na CVM.
Ou seja:
não se trata de consultoria preventiva,
mas de defesa em ambiente real de fiscalização e risco regulatório.
Isso torna ainda mais grave a ausência de informações sobre:
• quais processos estão sendo defendidos;
• por que houve ampliação contratual;
• quanto o contribuinte está pagando.
4. Quando o caso deixa de ser isolado: o Banco Master entra no radar
É aqui que a história ganha densidade nacional.
O Banco Master surge neste debate não por vínculo direto com o BRB, mas por similaridade estrutural:
• operações financeiras complexas;
• atuação em ambientes de elevado risco regulatório;
• uso recorrente de advocacia regulatória estratégica;
• circulação dos mesmos escritórios e profissionais em disputas sensíveis.
O padrão é conhecido no mercado:
quando a pressão do regulador aumenta, não se contrata advocacia comum — contrata-se trânsito institucional.
5. João Carlos Mansur: o nome que conecta ambientes, não contratos
Nesse mesmo ecossistema surge, de forma recorrente, o nome João Carlos Mansur.
Não como réu.
Não como acusado formal.
Mas como operador econômico presente nos bastidores onde ativos estressados, disputas patrimoniais intensas e decisões regulatórias relevantes se encontram.
O ponto investigativo não é pessoal.
É estrutural.
Por que determinados nomes aparecem sempre quando o assunto envolve CVM, bancos sob escrutínio e litígios de alto impacto?
O jornalismo sério não afirma o que não pode provar.
Mas também não ignora padrões reiterados.
6. Onde os caminhos se cruzam: Mansur, Daniel Vorcaro, BRB e a advocacia de alto trânsito
É neste ponto que os fatos deixam de ser isolados e passam a formar um mesmo ecossistema de poder.
De um lado:
• o BRB, banco público, sob escrutínio da CVM, que contrata um escritório ligado a ex-dirigente da autarquia, amplia contrato em 25% e não divulga valores.
De outro:
• o Banco Master, instituição privada que opera em estruturas financeiras sofisticadas, cujo diretor, Daniel Vorcaro, aparece de forma recorrente em ambientes onde a advocacia regulatória estratégica é decisiva.
E orbitando esses ambientes:
• João Carlos Mansur, associado a operações envolvendo ativos estressados, disputas patrimoniais complexas e litígios que dependem diretamente do tempo e do comportamento do Estado.
A pergunta que emerge é inevitável — e legítima:
João Carlos Mansur atua, direta ou indiretamente, em operações envolvendo ativos ligados a Daniel Vorcaro ou ao Banco Master?
Existe relação econômica, coordenação estratégica ou complementaridade operacional entre esses agentes?
Até o momento, não há esclarecimento público objetivo que responda a essas questões.
7. A entrada da REAG no mesmo ecossistema
É nesse mesmo ambiente que surge a REAG Investimentos.
Não como um caso isolado, mas como mais um ator presente em estruturas financeiras sofisticadas, reorganizações patrimoniais, gestão de ativos complexos e operações que exigem leitura refinada do ambiente regulatório.
Não se afirma que a REAG atue para o BRB.
Não se afirma vínculo formal com Mansur ou Daniel Vorcaro.
O que se observa é que todos esses nomes passam a coexistir no mesmo ecossistema institucional, onde:
• ativos estressados circulam;
• decisões da CVM são determinantes;
• e o trânsito dentro do regulador se torna diferencial competitivo.
8. A engrenagem invisível: não é contrato, é método
Quando os elementos são analisados em conjunto, o desenho se repete:
• bancos entram no radar do regulador;
• contratam escritórios ligados a ex-dirigentes;
• processos se alongam e se tecnificam;
• valores pagos permanecem ocultos;
• o debate público desaparece.
📌 Não é conspiração. É método.
9. Enforcement seletivo: a pergunta que a CVM evita responder
No mercado financeiro, a percepção é clara:
Alguns enfrentam:
• multas rápidas;
• julgamentos duros;
• exposição pública.
Outros:
• negociam termos;
• prolongam processos;
• resolvem tudo longe dos holofotes.
A pergunta central permanece:
Todos chegam à CVM com as mesmas condições de defesa?
Ou alguns chegam com mapa interno, atalhos institucionais e advogados que conhecem a casa por dentro?
10. O caso BRB sob a lente correta
À luz desse sistema, o contrato do BRB deixa de ser técnico e passa a ser simbólico.
Um banco público:
• contrata defesa dentro do regulador;
• escolhe escritório ligado a ex-dirigente da CVM;
• amplia contrato em 25%;
• não divulga valores;
• não apresenta análise pública de conflito de interesses.
Isso não é transparência.
É opacidade institucional.
11. O que o contribuinte brasileiro ainda não sabe
Até agora, seguem sem resposta:
• quanto custa a defesa do BRB na CVM;
• quais processos estão sendo defendidos;
• por que houve aditivo;
• quais riscos reputacionais foram avaliados;
• quais salvaguardas institucionais foram adotadas.
O dinheiro é público.
O silêncio também.
QUANDO O PROBLEMA NÃO É UM BANCO, É O SISTEMA
Esta matéria não acusa pessoas.
Ela expõe um modelo de funcionamento.
BRB, Banco Master, João Carlos Mansur, Daniel Vorcaro, REAG e escritórios de ex-reguladores não são a mesma história, mas revelam o mesmo ecossistema, onde poucos concentram trânsito, informação e poder dentro do regulador — e onde a transparência sempre fica para depois.
Regulação sem confiança é ficção.
E confiança não sobrevive à sombra.
🔴 NOTA EDITORIAL
Pedidos formais de acesso à informação já foram protocolados junto ao BRB e à CVM.
Esta matéria será atualizada assim que os documentos forem liberados.
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