quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Operação Carbono Oculto: o PCC nos combustíveis e o constrangimento político de Paulo do Vale com a DTC

A maior ofensiva contra a infiltração do crime organizado na economia formal atinge Goiás e expõe a fragilidade da relação entre poder público e grandes empreendimentos

A Megaoperação

A Polícia Federal e o Ministério Público deflagraram nesta quinta-feira (28) a Operação Carbono Oculto, considerada a maior ação já realizada contra a infiltração do crime organizado no setor econômico.

Foram mais de 1.400 agentes mobilizados em dez estados, cumprindo 350 mandados contra pessoas físicas e jurídicas ligadas a um esquema bilionário de adulteração de combustíveis, fraude fiscal, crimes ambientais e lavagem de dinheiro.


O prejuízo estimado em R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais mostra que o PCC não se contenta mais com o tráfico e a violência direta — agora, sua engrenagem se alimenta também da economia formal.


Goiás no Mapa da Fraude

Entre os alvos da operação estão empresas instaladas em Senador Canedo (GO), tradicional polo distribuidor de combustíveis.

As investigações apontam que parte da estrutura logística no estado foi capturada pela rede criminosa, usada para adulteração de combustíveis com metanol importado irregularmente e para movimentação ilícita de capitais.


Essa descoberta lança luz sobre o risco de infiltração direta de facções em Goiás, que até pouco tempo atrás era apresentado por lideranças políticas como um estado “blindado” contra o crime organizado.

A DTC e a Festa de Rio Verde

O elo mais sensível surge quando se observa o caso da Dinâmica Terminais Combustíveis (DTC).

Em 26 de outubro de 2023, a empresa inaugurou um terminal em Rio Verde, celebrada como investimento de R$ 150 milhões e promessa de 300 empregos diretos e indiretos.


Na ocasião, o prefeito Paulo do Vale e secretários estaduais dividiram o palco com empresários, exaltando a chegada da DTC como símbolo de modernização e fortalecimento da arrecadação.


Menos de um ano depois, a mesma empresa aparece sob suspeita em Senador Canedo, no coração da Operação Carbono Oculto.


O Constrangimento Político


A pergunta agora é inevitável: como fica a posição do prefeito Paulo do Vale, que emprestou capital político e institucional para legitimar a DTC em Rio Verde?


  • O município realizou algum processo de due diligence para avaliar a origem dos R$ 150 milhões?
  • Houve benefícios fiscais ou logísticos concedidos sem uma checagem rigorosa?
  • O prefeito será capaz de se descolar da imagem da empresa em meio ao escândalo nacional que a coloca sob suspeita de ligação com o PCC?



Para a oposição, o episódio é um prato cheio: a festa de 2023 agora se transforma em símbolo de falta de transparência e pressa em aplaudir o que não se investigou.


Conclusão

A Operação Carbono Oculto não apenas revelou a face bilionária da atuação do PCC no setor de combustíveis, como também expôs a vulnerabilidade de cidades e governos que, em nome do progresso, abraçam investimentos sem apurar de onde vem o dinheiro.


Em Rio Verde, Paulo do Vale agora carrega o peso político de ter sido garoto-propaganda de uma empresa que surge nas páginas policiais ligadas ao PCC. Essa mancha política inviabiliza por completo a sua pretenção de ser vice governador e até mesmo subir no palanque ao lado do governador Ronaldo Caiado que coma até duramente o PCC e terá dificuldade de explicar ter ao seu lado alguém que já enalteceu uma empresa apontada pela polícia federal como sendo de uma organização criminosa.


E a lição que fica é clara: em tempos de infiltração do crime organizado na economia formal, não basta cortar fitas — é preciso investigar quem está segurando a tesourada.


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