segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O avanço de Joesley Batista na Oncoclínicas e a face sombria do “cartel da oncologia” em Goiás

Expansão bilionária no setor de saúde reforça denúncias de concentração de mercado e risco de “mistanásia” em Goiás 

Um novo capítulo na guerra pelo mercado da oncologia

A notícia publicada em 23 de agosto de 2025 pelo jornal O Globo revelou que o empresário Joesley Batista, da família controladora da JBS, está de olho em ampliar sua participação na rede de clínicas Oncoclínicas. O movimento pode injetar mais de R$ 1,5 bilhão na companhia, boa parte pela conversão de dívidas em ações.


O negócio, que envolveria a compra da fatia de pouco mais de 15% de Daniel Vorcaro, do Banco Master, e o uso de debêntures já adquiridas por Joesley, sinaliza a entrada definitiva de um dos maiores grupos econômicos do país no setor de tratamento do câncer.

O elo com o cartel da oncologia em Goiás

Essa movimentação empresarial não pode ser analisada de forma isolada. Apenas três dias antes, este blog publicou com exclusividade o dossiê de 514 páginas protocolado no Ministério Público denunciando a formação de um cartel da oncologia em Goiás.


Segundo o documento, clínicas e laboratórios se organizaram para:


  • boicotar concorrentes e inviabilizar programas de acesso do IPASGO;
  • impor reajustes abusivos e restrições a pacientes oncológicos;
  • promover a precarização deliberada do sistema público, resultando em mortes evitáveis, caracterizadas como “mistanásia”.

Esse cartel, segundo o dossiê, giraria em torno da Goiás Oncologia e Participações Ltda., criada em 2018 como uma holding informal que centraliza poder e decisões.


O risco da concentração e da “mistanásia”

A entrada de capital bilionário de um grupo como o de Joesley Batista na Oncoclínicas pode aprofundar ainda mais a concentração de mercado na área oncológica. Se antes já existiam denúncias de acordos entre poucas empresas para controlar preços e acesso, a chegada de um gigante do setor de alimentos e finanças na oncologia reforça o temor de que o câncer vire um negócio controlado por interesses econômicos, e não pela ética médica.


Essa lógica empresarial, voltada para ganhos financeiros em detrimento da vida, é exatamente o que o dossiê nomeou como mistanásia: a morte socialmente produzida pela negligência deliberada.


Impactos para Goiás

Em Goiás, onde o IPASGO já enfrenta colapsos e pacientes oncológicos são vítimas de filas, atrasos e restrições de acesso, o fortalecimento de grupos econômicos na oncologia traz preocupações imediatas:


  • Quem controla a oncologia controla a vida de milhares de pacientes.
  • A concentração ameaça a livre concorrência e a sustentabilidade do SUS e do IPASGO.
  • O risco é que lucro e poder político se sobreponham ao direito fundamental à saúde.


Conclusão: o fio condutor da denúncia à expansão

A coincidência temporal entre a denúncia do cartel da oncologia em Goiás e a notícia do avanço de Joesley Batista na Oncoclínicas não pode ser ignorada. Estamos diante de um setor estratégico da saúde pública brasileira sendo capturado por grandes interesses financeiros, enquanto pacientes lutam pela vida.


Cabe ao Ministério Público, ao Judiciário e à sociedade civil questionar:


  • Estamos diante de um investimento legítimo ou da consolidação de um sistema que transforma o câncer em negócio lucrativo às custas da morte de pacientes?


Nenhum comentário: