domingo, 17 de agosto de 2025

Cartel da Oncologia em Goiás: Quem Lucra com o Câncer?

Em 2024, médicos goianos e o advogado Leandro Silva protocolaram no Ministério Público uma notícia-crime acusando a existência de um “cartel da oncologia” ligado ao IPASGO. O grupo denunciou superfaturamento, aparelhamento político e um esquema bilionário no atendimento de pacientes oncológicos.

Agora, a suspeita chegou também ao CADE, órgão federal responsável por investigar cartéis. O que antes parecia boato de bastidores, hoje está oficialmente protocolado.

As vítimas invisíveis

Enquanto os gabinetes discutem relatórios e representações, o drama acontece nos corredores da saúde: 

“Quando eu consegui fazer o tratamento, o câncer já havia se espalhado. Foi para o meu fígado, tórax e crânio.” 

— Paciente do SUS em Goiás, relatando o atraso no início da terapia. 

“Um paciente diagnosticado com câncer em Goiás pode ser obrigado a esperar mais de um ano para ter o tratamento iniciado.” 

— Reportagem do jornal O Popular, escancarando o drama da espera. 

A cada dia de atraso, a doença avança. A cada semana perdida, o diagnóstico precoce se transforma em sentença tardia. A cada mês, a fila da negligência aumenta — e vidas se apagam.

A voz dos especialistas

O médico Jales Benevides, presidente da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), denuncia o colapso financeiro do 

sistema: 

“Pacientes com câncer denunciam que não estão conseguindo atendimento médico… a dívida de repasses para o Hospital Araújo Jorge passa de R$ 50 milhões.”


O Araújo Jorge, maior referência oncológica do Centro-Oeste, hoje sobrevive sufocado por dívidas e atrasos do Estado — enquanto contratos milionários são disputados por grupos que, segundo as denúncias, atuam em conluio

Nas últimas semanas, portais locais divulgaram uma denúncia alarmante: um suposto cartel da oncologia envolve prestadores que atendem servidores do IPASGO — com acusações de superfaturamento, aparelhamento político-administrativo e esquema bilionário. A denúncia foi protocolada como notícia-crime no Ministério Público por um grupo de médicos liderados pelo advogado Leandro Silva. Agora, uma representação chegou ao CADE — órgão que pode investigar e punir práticas anticoncorrenciais.

Por que isso é muito mais grave que um escândalo administrativo

Não se trata de uma simples falha de gestão. Se comprovadas, essas práticas limitarão o acesso dos pacientes ao tratamento dentro de Goiás, formalizando monopólios regionais que encarecem o custo do SUS, do IPASGO e, sobretudo, comprometem vidas. É mais do que concorrer pela clientela: é roubo de esperança.

A estatística que ninguém quer ver: mortes por câncer em Goiás



  • Casos novos estimados para 2023 (dados INCA):
    • Mama feminina: 1.970 casos
    • Próstata: 2.500 casos
    • Cólon e reto: 1.110 casos
    • Pulmão: 990 casos
      → Total de ao menos 6.570 novos casos em cinco tipos principais só em Goiás.  

  • Mortes anuais por câncer em Goiás:
    Um estudo indicava que apenas em 2019 houve mais de 6.500 mortes de pessoas com câncer — incluindo quase 11 mil mulheres, 9 mil homens e 270 crianças e adolescentes afetados no período 2020 a 2022.  
  • Para ter uma dimensão diária do impacto:
    Supondo cerca de 6.500 mortes por ano, isso significa mais de 17 vidas perdidas por dia — vidas que poderiam ser salvas com acesso justo e tratamento eficaz.


O que esse cartel representa para a população

  • Fila. Barreiras. Insuficiência de prestadores.
  • Custo inflado, que drena recursos públicos e sobrecarrega pacientes.
  • Desigualdade no tratamento, pois os poucos prestadores aprovados passam a cobrar quando o Estado deveria garantir acesso pleno.
  • E, sobretudo, morte. Pacientes com câncer precisam de rapidez no diagnóstico e início do tratamento. A Lei nº 12.732/2012 determina que esse prazo seja de até 60 dias — mas muitos enfrentam atrasos.  

Se uma estrutura comercial grava lucros na tragédia alheia — comprometendo o direito constitucional à saúde (Art. 196) — isso não é apenas cartel, é crime contra a dignidade humana.

Conclusão — quem lucra com o câncer dos servidores?



O início de tramitação no CADE é um divisor de águas. Não é mais rumor em blog ou WhatsApp — é processo formal. A pergunta que deve nortear toda apuração: quem são os fisiologistas que transformam a doença em negócio?


Enquanto isso, a realidade invisível continua: todos os dias, dezenas de vidas são interrompidas no silêncio. E a suspeita de cartel joga gasolina nesse incêndio


Fontes:

  • Estimativa de casos novos por tipo de câncer (Goiás, 2023) – INCA  
  • Mortes por câncer em Goiás (2019-2022) – dados regionais  
  • Prazos legais para início do tratamento de câncer – Lei 12.732/2012  


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