O técnico Vanderlei Luxemburgo deixou claro em sua entrevista de despedida, na manhã desta sexta-feira, no mesmo hotel que serve de concentração para o time B, na Barra da Tijuca, que faltou pulso à presidente Patricia Amorim para tomar decisões importantes para o Flamengo desde o ano passado. O treinador explicou que deixa o clube de cabeça erguida pelos bons resultados, garantiu que o Rubro-Negro não pode ficar refém de nenhum jogador, e mostrou decepção com a postura da mandatária num processo que ele mesmo chamou de "fritura" - e que culminou em sua saída.
- Fui fritado. Foi o processo mais feio que eu já vi na minha vida. A Patricia (Amorim) tomou a decisão mais pelos outros do que por ela. Isso é ruim porque presidente tem de ter autoridade, e essa parte ela deixou de ter. Eu fui totalmente desrespeitado. Foi a primeira vez que existia uma relação feia. Eu fui leal a Patricia o tempo todo. Me desgastei. Eu fui leal, mas acho que ela não foi leal da mesma maneira. Técnico vive em função de resultado, e o resultado é execelente. Conquistei as metas. Passei a me preocupar só com a gestão da equipe. Puxei o freio de mão. Cuidei bem do time e colocamos o Flamengo na libertadores. Desgaste não foi. Sinceramente eu não sei o motivo - explicou Vanderlei Luxemburgo.
Vanderlei Luxemburgo reconheceu que no ano passado teve de ceder a algumas indiciplinas de alguns jogadores para não desmoronar o projeto de recolocar o Flamengo na disputa da Libertadores. Contudo, este ano do treinador manifestou todos o seu descontentamento com as regalias de alguns atletas e garantiu que não iria tolerar as mesmas atitudes, como as de Ronaldinho na reapresentação e na pré-temporada em Londrina.
- Tem que ser firme. No ano passo eu cedi. Jogador achando que pode fazer de tudo. Esse ano eu comuniquei à diretoria que seria difícil eu conviver com as mesmas coisas do ano passado. Aí, não seria desgaste com um jogador, mas com 20, 30. Porque os privilégios existiam. Eu mudei, se a diretoria não mudou, não é problema meu. Se a diretoria quer jogar o problema para debaixo do tapeta, não é problma meu. Venci desta forma, com desgaste com os principais profissionais, mas sempre ganhei campeonatos importantes. E o atleta continuou da mesma forma que é - disse o treinador.
Desgaste e demissão
Saiu eu, o Isaías (Tinoco), o Antonio Mello e o Lopes Junior. Não é um desgaste só do Luxemburgo. Futebol sem desgaste não funciona. O importante é como você trata o desgaste e a relação do grupo. Na minha história tive alguns desgastes. Existe para você se posicionar em algumas situações. Todas as vezes que se fez vale a hierarquia o resultado foi muito bom. Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro. E nenhum dos jogadores foi pastor. E continuam sendo desafetos. Eu me reciclei e fiquei mais tolerante em prol de um objetivo. Fechando muitas vezes os olhos para o comportamento inadequado em função do objetivo, eu preferi entender e tentar conviver com aquilo. Eu preferi entender e tentar conviver com aquilo. Tudo isso. Atletas chegavam sem condições de treinamento, que chegavam fora do horário. Se esse elo da diretoria faltou, não é problema meu.
Relação com Ronaldinho
O Ronaldo não me incomodou. Nenhum clube pode ficar refém de jogador, refém de presidente. O clube é soberano sobre todas as pessoas. É profisisional (relação). Eu não tenho que jantar com jogador profissional. Ano passado cedi algumas coisas que não eram cabíveis em função do Flamengo. Não quero o Ronaldinho para casar com a minha filha. Ele tem que cumprir os seus compromissos. A regalia, na minha visão, não pertencem ao futebol. A regalia é o salário. As obrigações são as mesmas. Não tenho que ter uma amizade próxima. Tem que ser comandado.
Problemas extracampo
Começamos uma temporada e já fui demitido do Flamengo, mas não pelo resultado. Foi um mês de problemas que não pertenciam ao futebol. Por problemas contratuais, indisciplina, jogadores que foram pedidos e não foram contratados. Preferi puxar o freio de mão. Sou profissional. Tinha de focar nesses dois jogos independentemente dos problemas externos. Completei a etapa sem deixar a parte externa desviar o seu caminho. Foquei e consegui terminar o projeto do ano passado. Em nível de resultado eu fiquei satisfeito. Pela primeira vez no Flamengo em conclui uma etapa de trabalho. Faltou mais pulso em algumas situações. Ontem, na conversa com ela, em me senti sozinho. Ela também está vulnerável. Não tenho que ter 30 atletas comigo. Estou a 46 anos nesse negócio. Tenho que escalar 11. Os outros ficam em casa insatisfeitos.
Balanço da passagem
O projeto e o resultado são excelentes. Eu arrisquei a minha carreira. Faltavam dez jogos em 2010 e o Flamengo estava perto da zona de rebaixamento. Não é legal assumir o clube faltando dez rodadas. Um clube que eu gosto. Mas aceitei pelo projeto que ela me ofereceu. Nós conseguimos manter o Flamengo. Foi a primeira etapa. E a do ano passado foi colocar o Flamengo na elite do futebol sul-americano, revelação de jogadores, otimização do Centro de Treinamento, que é um orgulho meu. Quem acompanha sabe a barra que eu aguentei. Queriam que os treinos voltassem para a Gávea todos os dias e em banquei. Hoje é realidade. Conseguimos levar o clube para a Libertadores. Saio satisfeito. Triste porque eu poderia acrescentar. Satisfeito por concluir todas as etapas. Pela parte extracampo em um mês. Saio triste porque eu sou flamenguista, mas com o dever cumprido.
Confronto com Michel Levy
Cada pessoa escolhe seus pares. Quem escolheu o Michel Levy (vice de finanças do clube) foi ela. Ele hoje é um homem-chave. Às vezes as declarações dele em "off" trouxe muito prejuízo a nível de trabalho. A última declaração foi aquela dos marqueiteiros, que o Alex Silva estava bichado. Para se ter ideia, no ano passado os jogadores queriam entrar em greve. Um certo momento os jogadores queriam fzer greve. Os dirigentes têm de estar preparador para cobranças públicas. Se está atrasado, por que não pode cobrar? Os jogadores cogitaram não treinar. Falei: "vocês estão doidos"? Eu participei ativamente. Evitei confrontos maiores. Hoje eu acho que os dirigentes estão fazendo força para colocar em dia.
Defesa de Deivid
Não chamem o Deivid de mercenário. Falaram que ele foi contratado pelo Zico. Isso foi falado para ele. Mesmo assim entrou em campo e ficou se desgastando. Se entregando o tempo todo. Perguntei antes da partida (contra o Real Potosí) se ele estaria pronto para jogar após o processo. Ele respondeu: "Se eu estou há dois anos sem receber, eu quero jogar e estou bem". Ele é profissional. Não é mercenários.
Futuro do Flamengo
O Flamengo está no caminho certo. Mesmo saindo depois de um ano e pouco, junto com o Veloso, com a diretoria nós avançamos bastante. Poderíamos ter aproveitado mais. Não tem jeito de voltar para Gávea. Levei um ano e meio de porrada. Não vejo voltando (para a Gávea). Voltar uma vez por mês para os torcedores e sócios poderem ver. Voltar seria um retrocesso. O Ninho do Urubu está bem encaminhado.
Comparação com outras passagens
São momentos diferentes. Esse ano a passagem foi excelente. Não consegui fazer tudo ao mesmo tempo. Fico satisfeito por ter feito esse trabalho. É uma pena mesmo (a demissão). Posso trabalhar em clubes do Rio que eu vou querer ganhar. Continuo rubro-negro. Tive desgaste Zico. Esse mesmo processo aconteceu com o Zico, com o Marcos Braz. O desgaste aconteceu ou te conduzem ao desgaste? Se eu tiver que voltar, eu voltaria talvez não mas como técnico, porque eu chava que poderia fazer como técnico.
Multa
Não tem multa. Eu tenho um contrato. A lei determina umas regras. Se eu sair, o Flamengo tem que cumprir o contrato. Não existe rompimento. Prazo que eu tinha de contrato.
Queda de braço
Será que ela tomou a decisão por causa dela? Ou as pessoas ao lado a abasteceram inflamando, vazando notícias? Com todos respeito a Patricia pelo seu histórico como atleta. O Felipão, o Luxemburgo, o Mano Menezes, quando são colocados em uma situação que para eles é de desconforto, não têm que ficar calados. Nunca fiquei. A presidente do clube tem de saber que está lidando com esse tipo de profissional, que vai rebater. Estava preparado. Quando falamos, existe eco e volta. Se fosse antes eu já tinha chutado o balde bem antes. Peguem o Vanderlei de antes e depois do Flamengo, houve uma mudança.
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