Iris acabou criando um alter-ego fidedigno.
Maguito, Barbosa Neto, Henrique Meirelles, Vanderlan e Friboi que o digam
O “Rei Mandão” do programa eleitoral de Iris Rezende (PMDB) acabou por ser mesmo um tiro no pé. Sigmund Freud já dizia que “o homem é dono do que cala e escravo do que fala”. Segundo o pai da Psicanálise, “quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”. E, de fato, é isso que se vê na animação criada pela coligação Amor por Goiás, que visava atacar o governador Marconi Perillo (PSDB), mas que só escancara a característica arrogante e autoritária do próprio candidato peemedebista. O infame personagem tem sangue e alma de quem, ao longo de quase trinta anos, domina um partido.
Em sua terceira tentativa de vencer o atual governador - sendo a quinta disputada ao governo do Estado -, Iris, aos 80 anos, é conhecido dentro do PMDB como o “grande cacique” e, não raro, é possível ver correligionários reclamando do autoritarismo do "dono" do partido em Goiás. Também pudera: desde 1998, a legenda sofre com os desmandos do "Rei Mandão" original. Sem dar ouvidos a ninguém, nem mesmo a população goiana que vem lhe dizendo sucessivos "nãos" nas urnas, ele decide quem entra, quem sai. Quem pode, quem não pode. O que é certo, o que é errado. E ai de quem não acatar. Tudo muito bem respaldado pela desculpa intragável do "dom divino" e de ter sido "escolhido por Deus".
1998
A primeira vítima da "ganância divina" de Iris foi Maguito Vilela, atual prefeito de Aparecida de Goiânia (PMDB) - que assiste a derrocada do partido nestas eleições de camarote, após ter elegido o filho Daniel Vilela para deputado federal e visto a esposa de Iris, Íris Araújo (PMDB), perder o mandato na Câmara Federal, com votação pífia. Não só agora, em 2014, quando o “Rei Mandão Original” expurgou Júnior Friboi, aliado da família Vilela, da candidatura ao Palácio das Esmeraldas, mas lá atrás, em 1998. Maguito era, à época, governador. Bem avaliado, com ótimos índices de aprovação e querido pela população, era o candidato natural do partido à sucessão. Mas, foi ofuscado por Iris, que bateu o pé e viabilizou sua candidatura - mesmo tendo ouvido da própria oposição que "contra Maguito ninguém consegue". Resultado: primeira derrota para Marconi.
2002
Em 2002, Iris não havia superado a derrota vexaminosa que causou ao PMDB na última eleição e decidiu que iria disputar as duas vagas ao Senado ao lado do fiel escudeiro, Mauro Miranda - aquele do bordão "No Mauro Miranda, o Iris que manda". Maguito foi jogado à fogueira de ter que enfrentar o governador Marconi Perillo (PSDB), que havia terminado uma gestão com altíssima aprovação e a reeleição era inevitável, enquanto o Rei Mandão Original supostamente surfaria a uma cadeira Senado, também "garantida". Mais uma vez, a ganância e malícia de Iris foi vencida. Demóstenes Torres (à época, PFL) e Lúcia Vânia (PSDB) foram os escolhidos do povo. Um ano depois, outro companheiro do atual candidato ao Governo de Goiás, Barbosa Neto (atualmente PMDB), se debandou ao PSB, após reclamar de falta de espaço no PMDB.
2004
O fato se deu porque Barbosa queria se viabilizar candidato à prefeitura de Goiânia, em 2004, mas não conseguiu. E, não conseguiu, por que? Porque Iris Rezende decidiu se lançar candidato ao cargo. Após duas derrotas consecutivas, o Rei Mandão Original finalmente conseguiu um cargo público, após vencer o petista Pedro Wilson - um dos prefeitos mais mal avaliados da Capital, diga-se de passagem. Um dos coordenadores da campanha, Flávio Peixoto, teve que afastar a mulher de Iris, Dona Íris, do projeto de 2004, tamanha era a interferência e o coronelismo familiar adotado pelo casal. A história foi estampada nos principais jornais do Estado.
2006
Em 2006, contente com o poder na prefeitura, Iris insistiu que Maguito fosse o candidato ao Governo do Estado, contra o sucessor do então governador, Marconi, Alcides Rodrigues (à época, PP). Mas, não permitiu que o atual prefeito de Aparecida de Goiânia escolhesse sua equipe independentemente. Forçou Mauro Miranda à vice de Maguito, disputando a vaga com Frederico Jayme – hoje desafeto declarado de Iris, atual coordenador da campanha à reeleição de Marconi. Resultado: nenhum dos dois. Onaide Santillo assumiu o posto de candidata a vice-governadora.
2008
Em 2008, Iris Rezende foi aclamado e reeleito prefeito de Goiânia, sob o compromisso de não disputar eleição ao governo de Goiás em 2010 - que já era especulado desde então. Inclusive, em 2009, o grande nome do PMDB para disputar o Palácio das Esmeraldas com o então senador Marconi Perillo (PSDB) era o presidente do Banco Central de Lula (PT), Henrique Meirelles. Um dos grandes destaques goianos nacionais já havia sinalizado que desejaria concorrer ao cargo e afirmou, inclusive, em uma entrevista, que aguardaria até o início de 2010 para se lançar pré-candidato pelo PMDB. Nos bastidores, o Rei Mandão Original começou uma verdadeira cruzada para inviabilizar Meirelles. Pouco depois, o ex-presidente do BC desistiu, cedendo aos desmandos de Iris.
2010
Iris, em seu auge da ganância e com o mote "a última eleição da minha vida" - que já se sabe não ter sido verdadeiro -, se lançou candidato ao Governo de Goiás, tendo perdido, mais uma vez, para Marconi Perillo. Em 2011, o PMDB consegue cooptar Vanderlan Cardoso (à época, PR), ex-prefeito de Senador Canedo e ex-governadoriável nas eleições de 2010. Sob a promessa de ser o grande nome do partido para as eleições deste ano, o empresário começou a se articular na legenda. Pouco tempo depois, ao perceber que o partido pertence a um só "líder", Vanderlan, desiludido, deixa o PMDB. Não faltaram, à época, matérias jornalísticas sobre as manobras sorrateiras de Iris para inviabilizá-lo.
2014
História esta que se repete neste momento atual. O empresário Júnior Friboi foi convidado ao PMDB em 2013, também perante a condição de ser o nome do partido ao Governo de Goiás na disputa de 2014. Tudo acertado, Friboi viajou pelo interior, angariando apoiadores e aliados, fechando parcerias e parecia tudo certo. Iris já tinha dado "a benção" e garantido que o apoiaria incondicionalmente. No começo do ano, começaram as movimentações sorrateiras de Iris e sua esposa para, novamente, inviabilizar outro candidato. Os ataques partiram de todas as frentes... Acusavam Friboi de ter "comprado" o partido, de que o PMDB não tinha "preço"... Tanto fizeram que o empresário renunciou às vontades do casal.
E cá estamos. Iris, aos 80 anos, candidato a governador pela quinta vez, numa cruzada infinita, cheia de ódio e rancor, tentando, sem sucesso, se vingar do governador Marconi Perillo - que caminha para a reeleição no próximo dia 26. Isolado, com o partido em frangalhos, assistindo a aliados declarando apoio ao tucano, sua mulher perdendo o cargo de deputada federal, Iris insiste que está tudo bem e que faz uma campanha de "Amor por Goiás". Com amadorismo nunca visto antes, o peemedebista encerra sua carreira de forma melancólica. Não só a sua, mas a do próprio PMDB, que terá a difícil missão de reconstruir sua credibilidade no Estado a partir de 2015.
Infelizmente, a história do PMDB em Goiás é um ciclo vicioso, que pode ser comparada a uma novela trágica. Todas as vezes que surgiram novas lideranças, novos nomes, novas "estrelas", novas chances de reerguer o partido, lá estava o Rei Mandão Original, bem aos moldes da Rainha de Copas do conto Alice no País das Maravilhas, para gritar: "CORTEM AS CABEÇAS!". Pelo bem do atual "par-tido", finalmente, chegou a hora do monarca ser destronado.