A política tem seus rituais, seus volteios e suas coreografias ensaiadas. Mas há momentos em que o espetáculo passa do limite e se transforma em afronta. É exatamente isso que está acontecendo em Goiás: José Mário Schreiner, presidente da FAEG e nome em avançada articulação para ser o vice de Daniel Vilela, percorre o estado de braço dado com o deputado Talles Barreto, relator da famigerada taxa do agro — o mesmo imposto que atingiu em cheio o setor que ambos agora dizem defender.
O contraste não é apenas incômodo. É escandaloso.
O Antes: A dupla que ajudou a parir a taxa do agro
Os fatos não perdoam.
A memória documentada menos ainda.
1. Talles Barreto — o Relator da Taxação
Não é interpretação, não é suposição, não é leitura política:
Talles Barreto foi o relator dos projetos 10803/22 e 10804/22, que criaram o Fundeinfra e instituíram a contribuição conhecida como taxa do agro.
No seu parecer e nas suas declarações oficiais, Talles:
- defendeu a taxação,
- afirmou que ela “não inclui produtos da cesta básica”,
- sustentou que a contribuição era “facultativa” — embora quem não pagasse perdesse incentivos fiscais,
- justificou a cobrança dizendo que seria usada exclusivamente para infraestrutura.
Ele não lutou contra o imposto.
Ele viabilizou o imposto.
Ele aprovou o imposto.
E tudo está registrado nas fontes oficiais da ALEGO e do Governo de Goiás.
2. José Mário — o articulador silencioso
Enquanto isso, nos bastidores, José Mário, como presidente da FAEG, não ficou distante.
Ele foi um dos principais articuladores da modelagem do Fundeinfra, atuando diretamente nas negociações com o governo para definir:
- amplitude da cobrança,
- forma de arrecadação,
- percentuais,
- garantias de que o Fundo seria segregado.
Quando a base rural chiou, José Mário foi a figura que apaziguou, justificou e traduziu o discurso do governo para dentro do setor.
A verdade incômoda é simples:
sem José Mário e sem Talles Barreto, a taxa do agro não teria nascido na forma em que nasceu.
O Agora: A tentativa de reescrever a história
O que choca não é o passado — é o presente.
José Mário e Talles Barreto estão hoje viajando o estado lado a lado, apresentando-se como representantes do agronegócio goiano, como defensores do produtor, como porta-vozes da “renovação”.
Renovação?
Ao lado do relator do imposto mais impopular do agro goiano em décadas?
O movimento é tão imprudente quanto simbólico:
José Mário aceita subir em palanques com o deputado que colocou sua assinatura, sua voz e seu voto na aprovação de uma contribuição que o próprio setor considera nociva, abusiva e injusta.
E mais: José Mário quer ser vice-governador.
Pretende representar o agro na chapa de Daniel Vilela — mas ao lado do homem que relatou o imposto sobre o agro.
É um exercício de amnésia coletiva que beira o deboche.
O discurso que não fecha
A retórica é a mesma de sempre:
“A taxa foi necessária.”
“Era para infraestrutura.”
“Foi um acordo técnico.”
Mas quando a população rural perdeu margem, quando caminhão deixou de rodar, quando insumo subiu, quando produtor reclamou, quando sindicatos protestaram…
a taxa continuou lá, intacta, arrecadando milhões.
E agora, justamente agora, em pré-temporada eleitoral, José Mário aparece ao lado de Talles como se nada tivesse acontecido.
O agro não esquece.
E o leitor do Blog do Cleuber Carlos menos ainda.
Um aviso claro ao eleitor rural
O eleitor rural goiano precisa olhar para essa foto — José Mário e Talles Barreto juntos — e fazer a pergunta que nenhum marqueteiro quer ouvir:
“Se esses dois fizeram a taxa do agro juntos, o que podem fazer novamente quando estiverem no poder?”
Porque a política é feita de alianças.
E alianças revelam intenções.
Nada indica que o projeto de taxação sobre o agro esteja encerrado.
Pelo contrário — sua arrecadação já ultrapassa um bilhão.
E um Fundo que arrecada bem não costuma perder espaço nos governos.
Conclusão Editorial
José Mário, que deveria ser o primeiro defensor do produtor rural, escolheu a pior companhia política possível: o relator da taxa do agro.
Ao caminhar ao lado de Talles Barreto, ele envia uma mensagem cristalina ao agro goiano:
a prioridade não é o produtor — é o projeto eleitoral.
E se essa é a escolha agora, imagine depois.
O Blog do Cleuber Carlos seguirá acompanhando cada passo dessa aliança — porque a história, quando mal contada, tende a repetir seus piores capítulos.

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