Por que os jornalistas estão calados diante da prisão do jornalista?
Não li isso em nenhum lugar e nem vi amigos jornalistas repercutirem o assunto gravíssimo. A pior prática que um jornalista brasileiro pode ter, após o fim da censura no país, é a autocensura ou a omissão. E parece que este é o caso, diante da prisão do jornalista Paulo Cesar de Andrade Prado, do Blog do Paulinho. Ele está preso desde a segunda-feira à tarde e aguardava, para esta quarta, a apreciação e decisão sobre um pedido de Habeas Corpus impetrado pela advogada Claudia Mantovani. Que foi negado agora à tarde.
Como alguém condenado por crime de difamação, a regime semiaberto, permanece totalmente privado de sua liberdade e tem negado um HC? Paulinho foi condenado em primeira instância, à pena de seis meses e 18 dias. Após uma apelação, ele conseguiu a redução para cinco meses e 10 dias, em regime semiaberto.
Será que os jornalistas da grande Mídia se calam quando o jornalista preso é um blogueiro? Blogueiro virou jornalista de segunda classe por emitir opiniões? Quando um fato cerceia as atividades profissionais de um colega de profissão e nada se fala ou se faz para rechaçá-lo, nem mesmo pelas redes sociais, teoricamente a plataforma livre para opiniões de qualquer cidadão, corre-se o risco de transformar o inconcebível em hábito.
Mesmo eu, também sendo um jornalista blogueiro, não tenho aqui a função ou autorização para defender este colega de profissão, apenas procurei falar com seus familiares e levantar informações oficiais sobre o assunto para saber exatamente o que realmente estava acontecendo. Desde a segunda-feira, quando um amigo compartilhou a notícia do site de Esportes do UOL, achei estranho, afinal, quando há excessos por parte de jornalistas, normalmente, se resolve com retratação, indenização, e não com prisão.
Quem é o Paulinho do Blog, de acordo com uma fonte?
Paulo Cezar investiga os bastidores esportivos por quase dez anos. Foi responsável pelo famoso furo do caso, que se transformou em escândalo, quando o Corinthians , em reunião com Kia Joorabichian , em Londres, decidiu dar um calote de 3 milhões de Euros na transação de Nilmar com o Lion, da França.
Também foi o responsável pela investigação do Caso Salamandra, que descreveu a rota e "modus operandi" da lavagem de dinheiro ocorrida no Corinthians pela Máfia Russa, através da compra de Carlitos Teves, usado a empresa MSI. Caso este, que colaborou para a emissão da ordem de prisão de Bóris Berezovsky e Kia Joorabichian, no Brasil, e obrigou os dois voltarem para Londres.
Em decorrência destas denúncias, Paulinho teve seu apartamento invadido por supostos policiais civis, na tentativa de prendê-lo com falso mandado. O mesmo ocorrido dias depois, em um restaurante da capital paulista, diante de dezenas de testemunhas, entre elas Roque Citadini. Casos que passaram a ser investigados pela Secretaria de Segurança.
O jornalista teve ainda sua vida investigada por um detetive particular, pago por Andrés Sanches, gerando uma investigação da Corregedoria da Polícia Civil, por suspeitas de envolvimento de policiais. O caso foi arquivado pela Corregedoria, mesmo após a prisão do detetive, que confessou estar a serviço do delegado Mario Gobbi.
Ainda neste período anterior às últimas eleições, Paulinho recebeu uma ligação da chefe de gabinete de Dilma Roussef ( gravada e enviada para a Procuradoria Geral da República ), avisando que estava em curso um plano de Andrés Sanches, candidato pelo PT, para sequestrar o filho do jornalista e assim pressioná-lo a não entregar provas contra ele para a Polícia Federal.
Estes são apenas alguns episódios que envolvem o dia-a-dia do jornalista Paulo Cesar Prado nos últimos anos, e que me foram confidenciados por uma fonte muito próxima a ele, que acompanha sua carreira profissional, suas denúncias e consequências que vem sofrendo pelo seu trabalho.
A prisão
Estranhamente, o jornalista e blogueiro foi preso por policiais civis do 34º Distrito Policial, do bairro Vila Sônia, que fica na zona oeste de São Paulo. Digo que se trata de fato estranho porque, nos depoimentos, os policiais que o prenderam alegam que "estavam fazendo uma ronda normal, no bairro do Pari, na zona leste da cidade, quando resolveram fazer uma abordagem aleatória a um carro suspeito".
Só não há, ainda, uma explicação para o fato de uma viatura do Morumbi estar fazendo "uma ronda normal, de rotina", do outro lado de sua jurisdição, na zona leste da cidade.
Testemunhas da prisão afirmam que os policiais "usaram de extrema hostilidade, quase como uma bronca pessoal, fortemente armados, com armas apontadas para o profissional, o arrancaram do carro e o levaram algemado" para a delegacia do Morumbi.
Tuma Junior cobra a Mídia
Defendendo a mesma tese, o ex-secretário nacional de Justiça e ex-delegado da Polícia Civil e da Polícia Federal Romeu Tuma Junior esteve na noite da terça-feira no 31º DP, na Vila Carrão, na zona leste, para onde foi transferido Paulinho (onde existem celas para presos que possuem formação superior). Inconformado com a ação de seus ex-colegas de profissão, o também ex-deputado estadual Tuma Junior disse que "é um absurdo, nos dias de hoje, termos um jornalista preso no Brasil pelo crime de opinião. Como amigo, eu tinha que me solidarizar a ele e constatar este absurdo". Tuma Junior desabafou ao deixar a delegacia, dizendo que "ter no Brasil um jornalista preso por crime de opinião, gera uma insegurança muito grande. Ele é um profissional de formação, de profissão e de carreira, estabelecido, que tem um blog, que aponta fatos e muitas vezes tem documentação... Quando não tem, que responda por isso, mas prender pelo crime de opinião? Imagine então se o cidadão comum emitir uma opinião? É revoltante, é espantoso. E a gente não vê nenhuma mobilização da mídia".
Justiça seja feita, Juca Kfouri foi um dos poucos jornalistas que repercutiu a prisão, em seu blog. Ressaltou conhecer Paulinho desde que ele era um motoqueiro e ia na CBN assistir seu programa, sempre muito bem informado sobre os bastidores do futebol, principalmente sobre o Corinthians. Então ele fez um curso de jornalismo. Sobre seu blog, Kfouri diz que 10% das vezes que atacava, "como uma metralhadora giratória", cometia excessos, o que considera muito. No mesmo texto em seu Blog, Juca diz que Paulinho é "um cidadão de direita, com alma de justiceiro...Que fareja corrupção e malandros a léguas de distância e vai atrás como um raro perdigueiro".
As acusações e a Justiça
Paulinho foi preso por causa de um mandado de prisão expedido em outubro do ano passado. Seus advogados justificam que Paulinho esteve meses foragido, enquanto eles tentavam um Habeas Corpus, para que só então seu cliente se apresentasse à Justiça.
A informação divulgada pelo UOL, e confirmada junto às autoridades, é de que "o jornalista Paulo Cezar de Andrade Prado foi preso na tarde de segunda-feira, em São Paulo, sob acusação de crime de difamação contra Antonio Carlos Sandoval Catta Preta, advogado do técnico Vanderlei Luxemburgo e do médico Joaquim Grava".
Segundo Catta Preta, Paulinho passou a atacá-lo em textos ( no Blog do Paulinho ), depois que o advogado ganhou vários processos de seus clientes, que também se sentiram vítimas de ataques do jornalista.
Para o juiz que o condenou houve "ofensa irrogada em página virtual por conhecido blogueiro", por isso, a "condenação à pena privativa de liberdade no regime semi-aberto, sem direito a benefícios". E que Paulinho tem "múltiplos antecedentes e mais de uma vez reincidente específico".
Por que os jornalistas estão calados diante da prisão de um jornalista?