As publicações feitas por Ademir, Cardoso, presidente do PSDB, em São Miguel do Araguaia e filho de uma vereadora da base aliada, não passaram despercebidas. Frases soltas, fundo preto, tom dramático e um misto de mágoa e resignação formaram um mosaico que deixou claro: ele está profundamente ferido politicamente.
Mensagens como “eu fiz de tudo pra ajudar”, “essa pessoa abandonou o barco”, “talvez o errado tenha sido eu” e “por criar expectativas” revelam um sentimento de ingratidão direcionado a alguém que ele não menciona pelo nome — mas que todos sabem quem é: o prefeito.
Segundo relatos recebidos pelo Blog, o estopim seria a iminente exoneração da esposa de Ademir, que ocupa a Secretaria de Controle Interno da prefeitura. A decisão do prefeito teria sido interpretada como uma traição direta, principalmente após a mãe de Ademir — vereadora — ter votado contra a abertura da Comissão Processante que investigaria e poderia afastar o chefe do Executivo.
Ou seja: a vereadora votou para salvar o mandato do prefeito, e agora o filho, presidente partidário, vê a esposa prestes a ser dispensada.
Neste contexto, o desabafo de Ademir assume outra dimensão.
Quando um presidente de partido reclama, a mensagem é outra
Ademir não é um eleitor insatisfeito nem um militante aleatório.
Ele é presidente de partido e filho de uma vereadora que ajudou a blindar o prefeito.
Logo, suas frases carregam um peso político enorme — e trazem uma acusação implícita difícil de ignorar:
ele sugere que o prefeito está pagando gratidão com traição.
E, para piorar, não seria a primeira.
A longa trajetória de rupturas do prefeito
O atual prefeito já convive com a marca política mais perigosa que um gestor pode carregar:
a pecha de traidor.
Eleito pelo PL, com apoio direto do senador Wilder Morais, não completou oito meses de mandato antes de abandonar o partido, romper com quem o elegeu e migrar para o MDB — um movimento que deixou aliados atônitos e adversários desconfiados.
Em seguida, veio a ruptura com o próprio vice-prefeito, Dr. Natanael, que foi demitido da Secretaria de Saúde em um gesto interpretado como mais um corte abrupto nas alianças firmadas durante a campanha.
Agora, o ciclo parece se repetir: depois de receber apoio da vereadora que votou a seu favor na Comissão Processante e da lealdade pública do presidente de partido, o prefeito estaria prestes a demitir justamente a esposa dele.
Mais uma peça removida.
Mais uma ponte queimada.
Mais um capítulo na lista crescente de rompimentos.
O padrão é evidente:
ele usa, espreme, garante o que precisa — e depois descarta.
A fatura política chegou — e Ademir expôs isso ao público
Ao publicar seus desabafos, Ademir não apenas demonstrou mágoa pessoal.
Ele expôs, ainda que indiretamente, a lógica de funcionamento do governo:
a lógica do toma-lá-dá-cá, da fidelidade cobrada e da recompensa esperada.
E, quando essa recompensa não vem, os conflitos deixam de ser internos e passam para a arena pública, como aconteceu agora.
O mais simbólico é que o próprio Ademir, em suas frases, admite que pode ter errado por “criar expectativas”.
Expectativas de quê?
De lealdade?
De reciprocidade?
De manutenção de cargos?
A resposta está nas entrelinhas.
Conclusão editorial
Este episódio não é apenas uma crise pessoal dentro da base aliada.
É um reflexo nítido da maneira como o governo municipal tem sido conduzido: alianças que duram o tempo que interessam, promessas que evaporam, parcerias que se desfazem ao sabor do poder.
Se confirmada, a exoneração da esposa do presidente de partido será apenas mais um item numa lista que cresce desde o início da gestão.
E o desabafo de Ademir tem um mérito:
ele não acusa diretamente — mas confirma, com todas as letras, aquilo que a cidade inteira já percebeu.
O prefeito está ficando conhecido por uma palavra que, na política, destrói carreiras:
traição.
E essa marca, uma vez colada, não sai mais

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