*Por Eduardo Pinheiro e Lívia Barbosa - Jornal Opção
As eleições municipais de 2020 terão desafios próprios, não somente pelas mudanças já evidenciadas em 2018, mas pela urgência que a pandemia de Covid-19 impõe. Diante desses desafios, o Jornal Opção ouviu três especialistas no assunto para entender a nova dinâmica do pleito deste ano.
Para o comunicador social Léo Pereira, da Verbo Comunicação, o cenário é de completa novidade. Não somente pela pandemia, mas pelo colapso do sistema e inércia absoluta de reposicionamentos. Assim, há, segundo Léo, um vazio a ser explorado pelo conhecimento e pela criatividade.
“Mas será preciso coragem, lucidez e competência técnica e filosófica pra avançar e propor algo novo e factível aos olhos do imaginário coletivo”, adianta.
Ele diz crer que os partidos talvez precisem sair do retrovisor e enxergar as demandas humanas que estavam batendo na porta nos últimos anos, mas que agora arrombaram a porta.
Para Léo, que fez consultoria para campanha de Arthur Virgílio a prefeito de Manaus, dentre outros trabalhos, a lógica do capitalismo entrou em colapso no mundo. E essa realidade tem efeito global em cada localidade, portanto, tem toda uma ciência econômica, humana, ambiental, social e do mundo do trabalho e da cidadania a ser reinventada.
“Evidentemente, você não muda o sistema num passe de mágica ou num processo eleitoral. Mas pode fazer muita coisa rodar ao contrário. E convencer o imaginário”, filosofa.
Léo foi um dos responsáveis pelo planejamento e criação da campanha da primeira eleição de Marconi Perillo a governo do estado em 2018. Também trabalhou com Nion Albernaz a prefeito de Goiânia.
Para o empresário e publicitário Célio Rezende, quem não é conhecido terá mais dificuldade para atingir potenciais eleitores no atual cenário. “Vai ter muita dificuldade e precisará de mais dinheiro e de mais criatividade. A democracia perde com isso”, avalia. As redes sociais, segundo o marqueteiro, serão eficazes só para quem já começou este tipo de trabalho há algum tempo.
Célio destaca que o desafio do marketing, e também do candidato, será o maior de todas as eleições da República, uma vez que praticamente todas as formas de atuação estão cerceadas. “Campanha é encontrar o eleitor, chamar sua atenção, convencê-lo e transformar isso em voto”, resume.
“Você não pode falar pessoalmente por conta da pandemia, seria um absurdo sair de casa em casa, pegando nas mãos de todos. Você não tem uma televisão forte como antigamente, que era um canhão e atingia 80% da população. Não vai ter dinheiro nem possibilidade jurídica de fazer campanhas de massa”, aponta Rezende.
O publicitário argumenta que até o que é permitido é extremamente controlado pela justiça. “Não pode dar um boné, uma camiseta ou um marca bíblia para o eleitor porque pode ser considerado brinde. Ou seja, faltam ferramentas, sobrando apenas a internet”, diz ao apostar que a publicidade por meio de carreatas será forte esse ano.
“O candidato vai sair pela cidade falando no microfone com a população, sem descer do carro”, aponta Célio.
Sobre o uso da internet, Célio diz que é preciso entender que não dá para construir uma relação às vésperas da eleição. “O aplicativo veio para te dar uma falsa sensação de que você tem muitos amigos, mas é um relacionamento superficial que não garante eleição de ninguém. Mas para quem tem um banco de dados construído ao longo dos anos como o Delegado Waldir ou Jair Bolsonaro, isso ainda vai funcionar.”
“Quem não construiu isso e vai querer vir agora pedir para que as pessoas se inscrevam ou que entrem em lista de transmissão vai causar uma importunação ao eleitor. Ele não se sentirá atraído, isso será uma coisa muito chata nas redes sociais neste pleito”, pondera o marqueteiro, ao assinalar que as redes sociais não serão a salvação para alguns candidatos apesar deles acreditarem nisso.
Célio atuou em diversas campanhas em Aparecida de Goiânia, a exemplo da pré-campanha e da campanha de Gustavo Mendanha, em 2016. Também trabalhou em campanhas de deputados estaduais e produziu conteúdo para campanhas do governo de Goiás e prefeituras goianas pelas agências Prisma, MarkTop e Neuromark.
O que deve se levar em conta é despertar o interesse do eleitor para o pleito eleitoral. Essa é a avaliação de Márcio Lima, da BM2 Comunicação, que trabalha na área de comunicação e marketing político há anos e atuou na pré-campanha Volta Iris (2014) e nas campanhas de Adriana Accorsi (2014), Pastor Jeferson Rodrigues (2014) e Ernesto Roller.
Para o marqueteiro, apesar de estarmos a pouco mais de 50 dias para o início da campanha, os políticos encontrarão os eleitores mais preocupados com a pandemia e menos focado nos nomes que estarão nas disputas políticas. Por isso, a campanha deve ser bem assertiva no ponto de vista estratégico.
“Não adianta buscar um link político sem ter conexão com o eleitor. O eleitor está bem crítico e analisando cada passo dos pretendentes aos cargos de prefeitos e vereadores. O grande desafio desta eleição será mostrar se realmente o candidato estará pronto para os desafios pós-pandemia. Não adianta aparecer com fórmulas milagrosas e nem ataques gratuitos.”
De acordo com Márcio Lima, é preciso buscar entender o momento em que o mundo se encontra e trazer soluções. Para isso, é preciso sintonia com o eleitor para não errar e levar uma mensagem propositiva. “Pesquisa é um caminho para entender melhor as nuances desta eleição que será diferente de todas”, adianta.
“Fazer ou não fazer visitas? Ter ou não ter contato pessoal? Redes sociais são ou não o grande aliado? São essas as maiores dúvidas. A melhor estratégia será colocar em teste antes para não errar durante. Fazer uma boa pré-campanha e avançar sobre as brechas dos adversários”, conclui Márcio.
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