sexta-feira, 24 de abril de 2020

Bolsonaro demitiu Maurício Valeixo diretor da Polícia Federal indicado por Sergio Moro


Demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo, expõe ruptura entre Bolsonaro e Moro, que tem seus planos político e sua permanência como ministro prejudicados
Demissão de diretor-geral da PF torna casamento político entre Moro e Bolsonaro uma fratura exposta

A demissão do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Leite Valeixo, foi desenhada, apagada e desenhada de novo nos últimos dias. É o típico modo vaivém de Jair Bolsonaro, que esboça uma crise com Sergio Moro desde o ano passado. Ontem o impasse se tornou público e a ruptura entre o presidente da República se tornou fratura exposta. A exoneração acabou se concretizando na madrugada e publicada do Diário Oficial da União desta sexta-feira (24), com data de 23. Saiu como “a pedido” de Valeixo. Moro irá se pronunciar logo mais às 11h.

Bolsonaro desenvolve um conexão direta com seus seguidores por meio das redes sociais. Quando lhe faltam convicções, lança um balão de ensaio, testa a repercussão e depois dá o passo seguinte. Ou um passo atrás. Foi assim com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Com Sergio Moro o vai-não-vai é mais antigo. E mais complexo.

O presidente da República tem nas costas um processo de investigação relacionado à fraude eleitoral pelo uso indevido de dinheiro empresarial e do disparo ilegal em massa de fake news em redes. E tem em casa três filhos envolvidos em condutas que não combinam com defensores da moral e dos bons costumes. Da suspeita de contratação de assessores para desviar-lhes os salários – a chamada rachadinha – a de articulação de um gabinete do ódio.
Fardo

Sergio Moro tem seu cálculo político prejudicado. Não conseguiu manter as aparências do casamento político até a próxima nomeação para o Supremo Tribunal Federal. Ou se demite e abre mão de uma caneta que proporciona poderes em torno de uma vasta estrutura ministerial. Ou se arrasta por mais um tempo, um tanto mais desmoralizado e desgastado – depois de se associar ao que tem de pior na política para avançar algumas casas no jogo do poder.

A demissão de Maurício Leite Valeixo se concretizou sem que houvesse ainda um substituto a ser apresentado.

É possível que a união já tenha proporcionado capital político o bastante para ambos. Para Bolsonaro, rendeu a eleição para a presidência da República, quando Moro tirou Lula da eleição por meio de uma condenação à prisão sem crime e sem provas.

Para Moro, um salto da condição de juiz de primeira instância para o comando da cadeia da estrutura de Justiça do poder Executivo. O próximo passo, a trajetória na mais alta corte do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, ainda estaria por começar.

A indicação de Sergio Moro para ministro do STF, no lugar do decano Celso de Mello, que será aposentado em agosto, já não está mais garantida. Tampouco está descartada. Afinal, pouco se sabe dos termos do processo de divórcio entre o presidente e seu quase-ex-ministro da Justiça.


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