quinta-feira, 13 de novembro de 2025

TURVÂNIA EXPLODE: DUAS CEIs, DOIS ROMBOS E UM SISTEMA QUE SE REPETE


Turvânia, cidade pequena, mas politicamente fervilhante, tornou-se palco de dois escândalos simultâneos, revelados em duas Comissões Especiais de Inquérito que expuseram um modo de operar muito conhecido em Goiás: o desvio silencioso, a esperteza administrativa e a aposta na impunidade.


A primeira CEI desmontou um esquema de desvio bancário de quase R$ 2 milhões conduzido por quem deveria zelar pelo dinheiro da população.

A segunda CEI revelou a farra de indenizações sem licitação, usadas como atalho para contratar obras, eventos e serviços sem nenhum controle, gerando prejuízos acima de R$ 1,5 milhão.


Não se trata de coincidência. Trata-se de um sistema.


O ROMBO DE REGINALDO: O “CONTADOR” QUE VIVIA DE CONTABILIDADE PARALELA

O caso do ex-secretário de Finanças Reginaldo Marques da Silva é emblemático — e didático.


Ele confessou ter desviado mais de R$ 400 mil em impostos municipais, mas a CEI identificou R$ 1,9 milhão evaporando das contas da Prefeitura entre 2017 e 2025.


O método é conhecido em prefeituras Brasil afora:


  • tributo pago pela população →
  • parte some antes de entrar no caixa oficial →
  • extratos bancários adulterados “corrigem” o desaparecimento →
  • contabilidade paralela fecha o rombo →
  • o dinheiro reaparece em criptomoedas, investimentos e ativos pessoais.

O trabalho da CEI não deixa dúvidas: o sistema foi montado para funcionar durante anos, e só caiu porque a Polícia Civil começou a puxar o fio do novelo.


Reginaldo iniciou a devolução de parte do valor — cerca de R$ 417 mil — numa tentativa de reduzir o impacto penal.

Mas isso não apaga o fato central: Turvânia foi saqueada aos poucos, durante quase uma década


FAUSTO MARIANO E A FARSA DAS INDENIZAÇÕES


Enquanto um esquema operava nos bastidores da contabilidade, outro se consolidava na administração: o uso criminoso de indenizações para burlar licitações.


A CEI nº 002/2025 foi cristalina:


  • serviços sem contrato,
  • eventos pagos que sequer ocorreram,
  • compras feitas sem justificativa legal,
  • um único parecer jurídico para todo tipo de despesa,
  • e mais de 71 processos de indenização assinados pelo então secretário de Obras, William Barreto, somando R$ 1,73 milhão.

Tudo isso durante a gestão do ex-prefeito Fausto Mariano Gonçalves, que teria pressionado secretários para “agilizar” processos no ano eleitoral, como revelaram depoimentos oficiais.


Indenização é medida excepcional. Em Turvânia virou política pública.


A DESORDEM QUE NÃO É ACIDENTE: É MECANISMO

Quando duas CEIs apontam duas modalidades diferentes de desvio — uma bancária, outra licitatória — e ambas revelam prejuízos milionários, é impossível tratar isso como erros administrativos ou “falhas de gestão”.


A verdade é bem mais dura:

Turvânia foi governada por dois sistemas de drenagem simultânea.

Um operava pelo computador, outro pela caneta.

Um atuava falsificando extratos, o outro falsificando justificativas.

Um desviava tributos, o outro desviava processos.


Ambos dependiam de três ingredientes essenciais:


  1. Ausência de controle interno funcional
  2. Cultura política de impunidade municipal
  3. Cumplicidade silenciosa de quem sabia e fingiu não saber


E é justamente essa arquitetura que destrói pequenas cidades: o dinheiro não some de uma vez — ele derrete um pouco por mês, por ano, até que a população acorda com buracos na rua, remédios faltando e escolas caindo aos pedaços.


O QUE A POPULAÇÃO PRECISA SABER

Hoje, Turvânia assiste a um desfile de discursos defensivos:

  • secretário admitindo desvio, mas relativizando o impacto,
  • ex-prefeito acusando “perseguição política”,
  • auxiliares dizendo que apenas cumpriram ordens,
  • e aliados tentando desviar o foco com comparações e bravatas.

Mas enquanto os discursos se confundem, os números não mentem:

📌 R$ 1,9 milhão desviados das contas públicas (CEI 001/2025)

📌 R$ 1,7 milhão pagos sem processo legal (CEI 002/2025)

Ou seja:

Turvânia perdeu pelo menos R$ 3,6 milhões — dinheiro que deveria estar hoje nas escolas, na saúde, no transporte, na infraestrutura.


OPINIÃO

Turvânia não é exceção — é símbolo.

É o retrato fiel do que acontece quando:

  • políticos transformam lei em obstáculo,
  • gestores tratam o erário como conta pessoal,
  • servidores confundem obediência com cegueira,
  • e a população vira espectadora do próprio prejuízo.

Duas CEIs em um ano não são azar.

São consequência de um modelo de poder que exauriu a cidade.

E agora, que tudo veio à tona, Turvânia tem dois caminhos:

👉 fingir que “passou”, como tantas outras cidades fazem,

ou

👉 usar esse momento como divisor de águas e exigir responsabilização total — política, civil e criminal.


O dinheiro já foi.

Mas a resposta da cidade — essa, sim — ainda pode salvar seu futuro.


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