terça-feira, 11 de novembro de 2025

Sob Presidência de Bruno Peixoto Alego Fica de Joelho e Entrega 600 Milhões Para Caiado

A devolução integral dos R$ 600 milhões das sobras do duodécimo pela Assembleia Legislativa de Goiás ao governo Ronaldo Caiado marcou um momento que vai além de um ajuste financeiro. O episódio escancara a relação de hierarquia que se consolidou entre o Executivo e o Legislativo no Estado. Não houve debate público, resistência articulada ou defesa da autonomia institucional da Casa. A decisão chegou do Palácio das Esmeraldas como ordem, e foi recebida na Alego como determinação a ser cumprida.

O presidente da Assembleia, Bruno Peixoto, comunicou a devolução de maneira rápida e objetiva, sem demonstrar intenção de tensionar ou ao menos expor os impactos internos da medida. E os impactos existem. A devolução exige que a Casa tenha de rever o próprio orçamento e realizar cortes que podem chegar a aproximadamente R$ 1 milhão por mês até o fim do ano. É um contrassenso revelador: ao abrir mão de recursos que estavam sob sua administração, a Assembleia se coloca na posição de ter de ajustar suas próprias contas para manter o funcionamento interno. A imagem pública que fica é a de uma instituição que aceita reduzir suas condições de trabalho para atender à pressão política externa.

O gesto, porém, não pode ser lido apenas no âmbito administrativo. Há uma dimensão política evidente. A decisão não se deu porque o Legislativo entendeu ser correto, estratégico ou necessário devolver os recursos. Deu-se porque não se sentiu em condições de fazer o contrário. A dependência dos parlamentares em relação ao Executivo — seja por liberação de emendas, articulação com prefeitos, ocupação de cargos regionais ou compromissos políticos já costurados — formou um ambiente em que a divergência significa isolamento. E isolamento, neste contexto, é sinônimo de perda de base eleitoral, perda de capital político e, em muitos casos, perda de mandato no futuro.

Caiado, ao pressionar e obter a devolução, reforça sua imagem de gestor austero e centralizador, capaz de impor disciplina fiscal mesmo sobre aqueles que, institucionalmente, deveriam servir como contrapeso ao governo. A força do gesto está justamente na ausência de confronto. Um poder forte não precisa gritar; basta que o outro não levante a voz.

A Assembleia, ao silenciar, revela que sua independência é hoje mais formal que real. Se a função do Legislativo é representar a sociedade, fiscalizar o governo e equilibrar o sistema de poderes, a pergunta que se impõe é direta: como exercer fiscalização quando se abre mão da própria autoridade? A política, como a natureza, não admite vácuos. Quando um lado se retira, o outro ocupa.

Não se trata de questionar a legalidade da devolução, nem de ignorar a necessidade de responsabilidade fiscal. O ponto é outro: a forma como a decisão foi tomada e aceita mostra que o Legislativo goiano deixou de ser um espaço de negociação e afirmação institucional para tornar-se um prolongamento do Executivo. Quando isso acontece, a democracia perde densidade. O debate empobrece. O controle desaparece. O poder se concentra.

E todo poder que se concentra demais acaba acreditando que pode tudo.

A história mostra que esse tipo de relação não se desfaz facilmente. Uma Assembleia que cede hoje, cede amanhã. Uma Casa que se acostuma a obedecer, esquece como se posicionar. E quando percebe, já não resta voz — apenas eco.

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