Há pesquisas que revelam tendências. Outras revelam ilusões. E há pesquisas que revelam o óbvio: a bolha de quem acredita que Goiânia é o Brasil. A divulgação do levantamento do IGAPE, mostrando Ronaldo Caiado com 82% de aprovação na capital e liderando a corrida presidencial entre os goianienses, levou alguns analistas mais apressados a concluir que o governador estaria pronto para assumir o comando do país.
Calma. No máximo, ele foi eleito presidente de Goiânia.
A capital já teve um histórico consistente de votar diferente do resto do país. É um eleitorado mais urbano, mais próximo do discurso de ordem e da ideia de gestor que põe “o trem nos trilhos”. Mas daí a imaginar que um cenário municipal pode ser transposto diretamente para uma disputa nacional há uma longa distância — tão longa quanto o caminho entre a Praça Cívica e o Palácio do Planalto.
O número de 82% impressiona, claro. Mostra que Caiado conseguiu consolidar sua imagem de administrador rígido, firme, que impõe disciplina ao Estado. O discurso de “arrumação da casa” pegou. Funcionou. Já é parte da identidade da gestão. E esse tipo de reconhecimento tem valor político real.
Mas o recorte da pesquisa diz muito sobre o limite dessa influência. O governante que lidera em Goiânia precisa liderar em Manaus, Recife, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Belém, Campo Grande, Natal, Rio de Janeiro — lugares onde Ronaldo Caiado é um completo desconhecido. O Brasil não vota pelo que Goiás sente. O Brasil vota pelo que o Brasil sente.
E o Brasil, neste momento, está disputando outra conversa.
Hoje Caiado é avaliado no território onde a sua administração se materializa no cotidiano. Fora daqui, ainda é só discurso, conceito, impressão distante. É sempre mais fácil ser aprovado onde se é conhecido pela narrativa. Quando o Brasil começar a conhecer Caiado pelos embates, pelos cortes, pelos episódios tensos, pela forma dura de governar, a curva naturalmente muda.
O problema é que tem gente confundindo termômetro com mapa.
O que a pesquisa indica é que Caiado tem chão para projetar-se nacionalmente, sim. Tem história, tem discurso, tem entrega e tem narrativa. Mas transformar-se em candidato viável depende de algo que nenhuma pesquisa municipal consegue medir: capacidade de atravessar fronteiras — geográficas, ideológicas e culturais.
Por enquanto, portanto, a manchete é simples:

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