A fala explosiva do vereador “Miranda” levanta suspeitas, coloca a Câmara em crise e expõe o risco institucional causado por acusações feitas sem responsabilidade
A política de Mundo Novo de Goiás vive um dos seus momentos mais tensos dos últimos anos. Durante a sessão da Câmara Municipal que já havia sido marcada pela agressão verbal contra a presidente do sindicato dos servidores, Rosário Lopes, o vereador José Ubiratan Ramos de Oliveira, conhecido como “Miranda”, lançou uma acusação gravíssima contra o deputado federal José Nelto — e o fez sem apresentar qualquer prova.
Diante do público, no plenário e com microfone aberto, Miranda afirmou que o parlamentar teria enviado uma emenda destinada à saúde do município, mas que teria “pedido” que o dinheiro fosse usado para pagar shows.
Uma fala que, sozinha, já gerou indignação, espanto e desconfiança entre moradores e lideranças políticas.
A ACUSAÇÃO: UMA BOMBA ATIRADA NO PLENÁRIO SEM QUALQUER DOCUMENTO
Segundo o vereador Miranda, José Nelto teria direcionado o uso da emenda para finalidades completamente diferentes das previstas na lei, sugerindo um desvio de finalidade — o que configuraria irregularidade gravíssima envolvendo verba federal.
Em termos técnicos, a fala do vereador implica diretamente:
- Desvio de finalidade de recurso federal,
- Violação das normas que regem emendas da saúde,
- Uso indevido de dinheiro público para eventos,
- Possível ato de improbidade administrativa,
- E até crime eleitoral, dependendo do contexto e do período.
Mas falta o principal: provas.
Miranda não exibiu:
- documentos,
- prints,
- ofícios,
- áudios,
- contratos,
- conversas,
- nem qualquer comprovação mínima da denúncia.
Lançou uma acusação federal sem algo básico: evidência.
O CONTEÚDO EXPLOSIVO — E O RISCO DA PALAVRA IRRESPONSÁVEL
A fala foi feita em tom exaltado, durante um debate acirrado, na mesma sessão em que o vereador atacou verbalmente uma mulher idosa — o que já indica o clima emocional e instável do parlamentar naquele momento.
Entretanto, quando uma acusação dessa natureza é feita no plenário, ela não é apenas retórica:
passa a ser ato público, registrado, documentado e sujeito a responsabilização.
A irresponsabilidade de acusar um deputado federal de orientar desvio de verba da saúde sem prova:
- cria instabilidade política,
- lança suspeitas infundadas na opinião pública,
- fragiliza a instituição Câmara Municipal,
- e pode caracterizar crime de calúnia, caso se confirme que a fala é falsa.
E, se for verdadeira, abre a porta para um escândalo federal.
Em ambos os casos, Miranda se colocou em uma sinuca de bico.
TRANSCRIÇÃO ORGANIZADA DO ÁUDIO DIVULGADO PELO DEPUTADO JOSÉ NELTO
“Gente, pra quem interessar aí na cidade de Mundo Novo: eu destinei meio milhão de reais para comprar raio-X, comprar um aparelho de ultrassonografia, uma máquina reveladora, e mais R$ 200 mil, totalizando R$ 700 mil.
Eu nunca conversei com secretária para desviar dinheiro para fazer festa de rodeio.
Festa de rodeio eu tenho verbas pra fazer o ano que vem.
Esse vereador é um vagabundo, um picareta, e eu quero que ele peça à secretária pra gravar um vídeo.
Eu exijo que a secretária grave um vídeo.
Se ela não gravar um vídeo, eu estarei tomando todas as providências legais contra esse vagabundo, boca suja, picareta, de usar o meu nome.
Eu não trato esse tipo de assunto com secretária. A minha conversa é com a prefeita Marlene.
Deixa de ser vagabundo, vereador! Eu vou lhe processar, você vai engolir um processo no seu rabo, boca suja.
Vereador vendido! Você tem preço.
Você foi comprado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, com cargo.
Deixa de ser picareta, rapaz. Seja um homem.”
EDITORIAL — QUANDO O MICROFONE VIROU ARMA
O episódio expõe um padrão perigoso que cresce na política local:
o uso da tribuna como arma pessoal, sem responsabilidade, sem limites, sem compromisso com a verdade.
A denúncia contra José Nelto é grave demais para ser tratada como:
- um “desabafo”,
- um “calor do momento”,
- ou mera “fala de sessão”.
Quando um vereador acusa um deputado federal de orientar desvio de emenda da saúde, ele precisa ter:
- documento,
- prova,
- lastro,
- e coragem de sustentar a denúncia fora do plenário.
Miranda não apresentou nada disso.
E enquanto a Câmara se esconde no silêncio, a sociedade fica entre duas possibilidades igualmente graves:
- Ou o vereador mentiu e usou a tribuna para atacar um parlamentar federal — o que é crime.
- Ou ele disse a verdade e está revelando um esquema criminoso com dinheiro da saúde — o que exige investigação imediata.
Em qualquer cenário, o que existe agora é um fato incontornável:
📌 Miranda falou — e agora terá de provar.
E o caso não morre mais no plenário.
Ele saiu das paredes da Câmara e entrou no debate público estadual.

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