O carro que você perdeu em um assalto a mão armada nos últimos dias, nas ruas de Goiânia, pode ter sido vendido por R$ 200. Se o carro for de luxo, é muito provável que tenha sido repassado a traficantes por R$ 500 reais. Essa é a tabela paga atualmente aos usuários de crack que estão roubando veículos principalmente de mulheres na capital.
O veículo é repassado a gerentes do tráfico de drogas e tem como destino Colômbia, Bolívia e Paraguai, onde serão trocados por pasta-base de cocaína e maconha. A informação da Polícia Civil é de que o aumento no número de roubo de veículos nas duas primeiras semanas de março se deu como reflexo das grandes apreensões de droga desencadeadas no mês passado pela Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc).
Só nos 18 primeiros dias do mês foram roubados 383 veículos em Goiânia, a grande maioria deles carros de passeio. O número (média de 21,17 por dia) se aproxima do recorde histórico deste tipo de crime, registrado em novembro do ano passado (média de 21,53). E o crescimento das ocorrências coincide com o período pós-apreensão de volumosas quantidades de drogas feitas pela polícia recentemente.
Em apenas uma operação, a Poderoso Chefão, deflagrada em 20 de fevereiro, a Denarc apreendeu 232 quilos de pasta-base de cocaína, insumos e outros materiais e objetos usados no refino da droga em um apartamento no Parque Amazônia. A quadrilha desarticulada, comandada por André Luiz Oliveira Lima, o João, de 33 anos, movimentava cerca de 200 quilos de pasta-base de cocaína por mês, e era responsável por mais de 20 pontos de distribuição e uso de drogas da capital, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo.
Agora descapitalizada, essa quadrilha estaria tentando se reerguer, com os chefes dos pontos de venda (as “bocas”) determinando que usuários de crack roubem veículos.
AUMENTO
O delegado Edson Carneiro Caetano, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores, disse que é usual o número de roubo de veículos aumentar toda vez que grande quantidade de drogas é apreendida. “O carro, principalmente, é moeda de troca por droga na Colômbia, Bolívia e Paraguai”, disse.
Segundo ele, o ladrão de veículos não é tão ousado quanto os usuários de crack que estão assaltando principalmente mulheres paradas em seus carros. “O ladrão de carro rouba um, esconde o carro e fica alguns dias sem cometer outro crime. O que estamos vendo agora são usuários de crack roubando, muitas vezes pela primeira vez, drogados e armados, a mando dos traficantes”.
O delegado alerta que o risco do roubo terminar em morte é muito maior, já que os assaltantes-usuários de crack estão drogados e armados. “Se houver reação da vítima, o roubo pode terminar em latrocínio”, alerta.
A necessidade de capitalizar o tráfico ficou evidente, segundo Edson Carneiro Caetano, nos últimos dias, com prisões de usuários de drogas que confessaram estar a serviço de traficantes.
PERFIL DA VÍTIMA
Na terça-feira, agentes da Furtos e Roubos prenderam Gledson Cardoso da Silva, de 22 anos. Ele havia roubado um Gol branco de uma mulher, às 8 horas, no Setor Marista. A vítima parou o carro em frente a uma empresa e antes de descer foi abordada por ele, que estava armado com um revólver calibre 38.
A mulher foi uma vítima aleatória do assaltante. Ele estava em um IX35 roubado no dia anterior no Setor Bueno. Quem dirigia o carro era o pequeno traficante, também usuário de crack, André Wilson da Silva, de 38, que está foragido.
Imagens do circuito de segurança da empresa onde aconteceu o roubo mostram o IX35 chegando ao local, Gledson abordando a vítima e fugindo em seguida dirigindo o Gol. O carro foi levado para um lavajato na Rua Aruanã, no Parque Amazônia, e só foi recuperado porque o telefone da vítima estava dentro do carro e possibilitou o rastreamento do carro.
De acordo com o delegado, André Wilson e Gledson roubaram entre segunda-feira e terça-feira, dez carros na capital. Foram quatro veículos Gol, dois Saveiro, um Santa Fé, um Doblô, uma caminhonete S-10 e um IX35. Destes, dois Gol e o Doblô haviam sido recuperados até a tarde de ontem.
“Todos os carros foram roubados de mulheres que estavam paradas e sozinhas”. Foi assim com a empresária de 44 anos, na manhã de terça-feira. Ela tinha acabado de estacionar na frente de uma clínica na Avenida T-1, no Setor Bueno, quando Gledson chegou e anunciou o assalto.
Dona do utilitário de luxo IX35, teve uma arma apontada para ela. “Foi tudo muito rápido”, disse a mulher, que pediu para não ter o nome divulgado. Ontem ela fez o reconhecimento do assaltante na delegacia.
O carro dela ainda não foi localizado. A estratégia do criminoso era adulterar preliminarmente as placas dos carros roubados com fita isolante, para não chamar a atenção da polícia. O delegado acredita que posteriormente, os veículos são clonados e trocados por drogas em outros países.
MOTIVAÇÕES
Usuários de droga ainda estariam roubando carros para vender os pneus, som e outros acessórios para comprar crack. O carro geralmente é encontrado horas mais tarde com pneus velhos e “depenado”, conforme o delegado.
Outra motivação para o roubo de veículos ter crescido nos últimos meses é o que a polícia chama de “ostentação”. Jovens de até 20 anos estariam roubando carros apenas para passear e ir a festas. “Eles querem apenas ostentar que possuem carros e algumas horas depois o abandonam”.
Matéria de Rosana Melo -Jornal O Popular
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