A Polícia Federal (PF) cumpriu, ontem, mandados de prisão e condução coercitiva da Operação Cold Case (caso frio, em Português), determinados pelo juiz da 5ª Vara Federal de Goiânia, Alderico Rocha Santos. A ação visa desmantelar uma quadrilha que produzia dossiês com interceptações telefônicas, telemáticas e quebra de sigilos bancário e fiscal. Foram presos policiais militares, civis, empresários e um agente da própria Polícia Federal.
O major da Polícia Militar de Goiás, Wendel de Jesus Costa, comandante do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), foi um dos militares com prisão preventiva decretada. Ele foi ouvido na Superintendência da Polícia Federal e depois encaminhado para detenção na Academia da PM.
A operação teve início com uma intercpetação telefônica feita pela Força Nacional que está em Goiás e investiga grupos de exetermínio. O soldado da PM Jônathas Atenevir Jordão, era um dos investigados por envolvimento em homicídios. As gravações mostraram que ele participava de um esquema para espionar empresários rivais, funcionários que desviavam dinheiro de empresas envolvidas e até traição conjungal.
De acordo com o juiz Alderico Rocha Santos as investigações foram feitas por uma unidade da PF de Brasília para fugir da vigilância dos envolvidos de Goiás. “Para manter o sigilo das investigações as ações foram comandadas a partir de Brasília”, explicou o magistrado.
Logo no início dos levantamentos os policiais descobriram um complexo esquema de monitoramento de ligações telefônicas e telemáticas (movimentações pela internet como e-mail e mensagens). O principal executor dessas quebras de sigilo era o agente da Polícia Federal Anderson Luís Coelho, considerado um gênio da Informática. Ele trabalhava no Núcleo de Tecnologia da Informação da Superintendência da PF em Goiás. Ele conseguia monitorar conversas telefônicas e fazer gravações, descobrir o paradeiro de investigados, quebrar sigilos bancário e fiscal e montar dossiês dos envolvidos.
Cada dossiê envolvendo interceptações telefônicas e telemáticas custava R$ 15 mil por cada 15 dias de monitoramento. O soldado Jordão e os policiais civis Diorges Batista de Souza e Renato Alves de Abreu eram os agenciadores do serviço e respondem por corrupão passiva, além de interceptação ilegal e formação de quadrilha.
O major Wendel apareceu nas investigações quando precisou dos serviços do grupo para auxiliar parentes de sua esposa que tinham problemas com empresários rivais e funcionários desonestos. Ele procurou o soldado Jordão para que fosse monitorado um funcionário da indústria de móveis de Eduardo Alves de Deus. A empresa fica no Polo Industrial de Goianira e Eduardo desconfiou que seu funcionário estivesse desviando dinheiro da empresa e passando informações para concorrentes. A empresa Use Móveis para Escritório, instalada no Setor Triunfo, em Goianira, teve computadores e documentos apreendidos pelos policiais federais para instruir a investigação.
Tarefas
Na sentença o juiz Alderico Rocha Santos individualiza as condutas de cada um dos envolvidos como citou na representação a Polícia Federal. “Na interceptação telefônica ficou claro que os policiais militares Rogério (Martins Rodrigues Passos, cabo), Jordão e Wendel tinham como função cooptar interessados na obtenção de dossiês formados com conversas telefônicas interceptadas, dados bancários e fiscais, filmagens”, explicou o magistrado.
Há indícios de envolvimento do grupo no extermínio de pessoas envolvidas com crimes diversos, entre eles do advogado David Sebba, ocorrido no ano passado.
Eles chegaram a criar um site para a prática de estelionato, vendendo mercadorias pela internet que não eram entregues. Essas empresas eram constituídas em nomes de “laranjas” e divulgadas na página www.esvendas.com.br, como foi descoberto nas investigações da Polícia Federal.
Traição e perdão
Durante as investigações a Polícia Federal descobriu que os policiais militares Jordão, Rogério e Wendel foram procurados por Kennedys José de Oliveira que desconfiava de uma suposta traição de sua namorada Alane Caroline. O policial federal Anderson Luís Coelho inseriu o número do telefone celular de Alane no sistema de interceptação telefônica da Polícia Federal (Sombra) alegando que se tratava de “terminal que pertenceria a traficante de drogas investigado” em uma operação da Polícia Federal. Os policiais interceptaram uma conversa entre Jordão e Rogério confirmando que o monitoramento e gravação das ligações de Caroline estavam sendo feitos a pedido do empresário Kennedys.
No dia 5 de novembro último, já de posse das gravações das conversas de Alane Caroline ligou para ela às 13h40 para confrontá-la sobre as conversas e a suposta traição que foi descoberta com auxílio dos policiais militares e do agente da PF que a monitoraram.
Os envolvidos do núcleo da Polícia Militar estavam interessados em adquirir um equipamento para fazer escutas clandestinas por conta própria, sabendo do potencial mercado bem pago que o serviço representa. “O soldado Jordão e o major Wendel estavam acalentando o projeto de comprar uma maleta para realizar grampos ilegais, como revela uma conversa entre os dois acontecida no dia 17 de agosto, às 21h24, na qual além de se referirem ao equipamento já mencionam o projeto de interceptar as escutas das conversas telefônicas do gerente de um empresário, que se sabe agora se tratar de Eduardo”, frisou o juiz.
As prisões dos demais empresários cumpre solicitação da Polícia Federal que “espera desmantelar um núcleo criminoso”.
Reportagem de Hélmiton Prateado
DM.COM.BR