Por Jean Carlo dos Santos
Recentemente, o senador Ronaldo Caiado afirmou: “Marconi desrespeita seu partido ao defender Dilma. Se diz estadista, republicano e não oposição. Quer dizer que ele acha o PSDB golpista? Oportunista é o único adjetivo que veste Marconi.”
Pois bem, em primeiro lugar, é preciso abstrair o excesso verborrágico do ilustre senador, que não compreende a inadequação do comportamento a um representante da Câmara Alta do Congresso Nacional, que deve pautar sua conduta pessoal e verbal dentro de parâmetros de civilidade.
Feito isso, a assertiva merece uma reflexão histórica para enxergar a quem cai bem a adjetivação por ele atribuída ao governador Marconi Perillo.
A história de Goiás e do Brasil nos remete a um passado cheio de indícios daquilo que pode definir a questão posta sob análise: afinal, quem é oportunista?
Em um passado, ainda dolorosamente relembrado pelos goianos, qual foi o clã que mais apoiou, que foi conivente e beneficiário de um triste período de autoritarismo no país?
Por que este clã hoje critica aquilo que denomina de ditadura que, até onde se sabe, foi democraticamente eleita e não nomeada bionicamente? Qual clã conseguiu ascender ao poder no Estado indicado, bionicamente, pelo regime de exceção, que apoiou o período de maior repressão das liberdades individuais?
Quem se recorda do famoso episódio Tesoura/Aricá, e, ironicamente, quem hoje grita pelo afastamento de um governo eleito?
Nas décadas de 1980 e 1990 do século passado, quem andava montado em um cavalo branco bradando contra aquilo que denominava “desmandos do PMDB”? Quem atacava impiedosamente Iris Rezende e companhia e quem hoje vive de braços dados com os mesmos a quem condenou no passado?
Quem, quando o povo brasileiro saiu às ruas, indignado com a corrupção, com a inoperância, com o confisco da poupança, com a instabilidade generalizada no país, pedindo o impedimento de um presidente da república, se postou contra a voz rouca das ruas e, na defesa de seus interesses, pouco se lixando para o Brasil, votou a favor da permanência do então presidente Fernando Collor?
Quem combateu duramente a candidatura de Alcides Rodrigues, então candidato do governador Marconi Perillo em 2006 e, depois, apoiou o governo mais pífio da história de Goiás para obter benesses?
Quem, ao final da tinta da caneta, abandonou o governador Alcides e, convenientemente, apoiou o governador Marconi que tanto combatera, saindo em uma disfarçada campanha solo?
Quem brada, grita, rola, esperneia chamando de corruptos políticos do PT acusados de irregularidades e não diz uma palavra sobre políticos do DEM (Agripino, etc...) também acusados de irregularidades?
É a tal histórica: a métrica da régua é distinta para os adversários e aliados.
Quem dá um chilique pelo fato de o governador Marconi receber a presidente Dilma Rousseff e destacar seu respeito por ela, destacar as parcerias realizadas pelo Estado de Goiás e o Governo federal e não dá uma palavra, não faz uma censura ao presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, deputado Hélio de Sousa, do DEM, que também estava presente na solenidade?
Será que o doutor Hélio desrespeita o DEM? Acha que o DEM é golpista? Será que o doutor Hélio é oportunista?
E mais: quem, igualmente, não atirou contra o seu amigo, o prefeito de Salvador, ACM Neto, no momento em que ele manifestou publicamente apoio à presidente Dilma e ainda disse que a petista não merecia o protesto? Não custa lembrar que ACM é um dos históricos do DEM. As declarações do jovem líder foram feitas, de maneira estratégica, na véspera das manifestações contra a petista, no dia 15 de março.
Quem não levantou a voz contra esta declaração mais do que elogiosa de ACM Neto à presidente? Assim ele se expressou: “Dilma não merece o meu protesto. Com ela, o Brasil está pulsando, saudável. Salvador e região metropolitana estão sendo beneficiadas com importantes ações, como a conclusão do metrô, o BRT, a ampliação do Porto Marítimo, e tantos outras que visam melhorar a qualidade de vida dos baianos. Tem o meu profundo respeito e cordialidade mútua”.
Quem, agora, atira pedras contra Marconi se, no auge da campanha ao governo, respaldou integralmente o gesto de sua esposa? Gracinha compareceu em comício em Americano do Brasil, ao discursar, agradeceu o tucano pelas obras realizadas no município e em todo o Estado.
“Espero que o senhor seja reeleito para fazer mais por Americano do Brasil e por Goiás, com a graça de Deus”, disse ela diante do então candidato ao Governo. Depois, afirmou que também falava em nome do parlamentar seu marido.
Se você, prezado leitor, respondeu a todas indagações acima realizadas, e apontou Caiado, você está absolutamente correto.
Resta, portanto, a conclusão indiscutível, inquestionável: o maior oportunista da política de Goiás tem nome e sobrenome: Ronaldo Caiado. É... Contra fatos não há argumentos.
Faça o que eu falo, não faça o que eu faço – esse ditado caberia como luva para a mão do nobre senador.
Jean Carlo dos Santos é deputado estadual pelo PHS.