Em Morrinhos, esse momento veio pelas mãos do próprio prefeito Maycllyn Carreiro, que decidiu desafiar abertamente o Ministério Público e transformar uma ex-secretária afastada por determinação judicial em estrela de um ato político devidamente coreografado.
O afastamento que nunca aconteceu — exceto no Diário Oficial
A ex-secretária de Saúde Naryma, afastada apenas porque o Ministério Público obrigou, virou símbolo da resistência do prefeito a qualquer forma de controle institucional. Ela não saiu da gestão — saiu somente no papel. Na prática, continua em reuniões, segue “por dentro de tudo”, acompanha obras, manda e é ouvida.
E quem confirmou isso não foi testemunha anônima, não foi servidor revoltado: foi o próprio prefeito, em plena cerimônia pública, microfone em mãos, com iluminação de palco e testemunhas aos montes.
Maycllyn afirmou, sem nenhum constrangimento, que:
- Naryma sabe de tudo o que acontece no hospital;
- foi ela quem fez todo o levantamento da obra;
- está por dentro dos valores, dos milhões e de cada detalhe da reforma;
- e que nada mais justo que ela receba os “louros” pela administração dela.
Ou seja:
o prefeito confessou que ela continua exercendo influência dentro da Secretaria de Saúde, mesmo afastada por ordem do Ministério Público.
Isso, para qualquer gestor minimamente responsável, seria motivo de cautela. Para Maycllyn, virou motivo de orgulho.
O teatro politico: mãos dadas para simbolizar o retrocesso
O prefeito fez questão de transformar o episódio em espetáculo.
No palco, ele, a ex-secretária Naryma e o marido dela, Conrado Diedam, deram as mãos numa encenação quase religiosa — como se ali formassem a “sagrada trindade” da gestão municipal da saúde.
As mãos dadas simbolizavam exatamente aquilo que Maycllyn queria comunicar:
Que nada mudou.
Que ninguém saiu.
Que o MPGO pode determinar o que quiser — ele é quem manda.
O discurso seguiu a cartilha típica das administrações que se negam a admitir irregularidades:
tudo seria “intriga da oposição”, uma “armação”, uma “injustiça”, uma “falta de compreensão do trabalho”.
A velha desculpa esfarrapada de sempre — só que agora dita com convicção e plateia.
“Ela vai voltar” — a confissão mais grave do prefeito
Quando Maycllyn declarou, diante de todos, que “não sabe quando, mas sabe que ela vai voltar para o comando da Secretaria de Saúde”, ele ultrapassou a fronteira da imprudência e entrou no terreno da afronta institucional deliberada.
Porque ao dizer isso, o prefeito:
- desautoriza o Ministério Público,
- despreza a decisão que determinou o afastamento,
- confessa que mantém a ex-secretária como peça ativa da gestão,
- e promete recolocá-la no cargo quando achar conveniente, independentemente da investigação ou das razões que motivaram sua saída.
É o prefeito dizendo ao MPGO:
“Vocês mandam no papel. Eu mando na prática.”
A lógica do mando: o afastamento virou ficção
A pergunta que fica é simples:
De que adiantou o Ministério Público afastar Naryma, se ela continua na sala de controle da Saúde municipal?
- Continua presente nas obras.
- Continua participando das decisões.
- Continua assessorando o prefeito.
- Continua na governança paralela da saúde.
- E continua sendo tratada como secretária, não como ex-secretária.
O episódio expõe uma realidade incômoda:
o afastamento foi cumprido apenas para evitar sanção legal, não para obedecer ao espírito da decisão.
O recado político: em Morrinhos, quem enfrenta o sistema é punido — quem é protegido pelo prefeito, não
Ao colocar Naryma ao seu lado, ao lado do marido Conrado, ao defendê-la como vítima e exaltá-la como heroína, Maycllyn manda um recado claro:
- ser investigado não significa nada;
- cargos públicos pertencem a grupos políticos, não ao interesse da população;
- e o Ministério Público é um detalhe inconveniente que ele empurra com a barriga.
A mensagem é perigosa: cria-se em Morrinhos a sensação de que o prefeito está acima das instituições, acima do controle, acima da lei — ou, pior, de que a lei só vale para os adversários.
O que Morrinhos precisa enxergar
A política local vive um momento de dissimulação. A população é convidada a assistir a um espetáculo em que:
- a ex-secretária afastada continua atuando;
- o prefeito faz apelos emocionais para defendê-la;
- o Ministério Público é ridicularizado pela própria autoridade que deveria respeitar suas decisões;
- e a saúde pública — que deveria ser prioridade — vira palco para alianças pessoais e disputas de poder.
Enquanto isso, quem mais precisa do serviço público é quem menos recebe atenção.
A pergunta que fica é:
quem governa a Saúde de Morrinhos — o prefeito eleito ou o grupo que ele decidiu blindar?
O gesto de Maycllyn Carreiro não é apenas político.
É simbólico.
É institucionalmente violento.
É um recado claro:
Em Morrinhos, o prefeito escolheu desafiar o Ministério Público.
E fez isso com orgulho.

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