domingo, 7 de dezembro de 2025

138 Milhões: Em Alagoas a Prime Enche o cofre Com Dinheiro do Estado

 

O Contrato de R$ 138 Milhões Que Engoliu a Frota de Alagoas: Como a PRIME Assumiu o Controle Total do Combustível, da Manutenção e do Cofre Público


Há contratos públicos que chamam atenção pelo valor.

Há outros que chamam atenção pela ousadia.

E existe o Contrato AMGESP nº 052/2022, firmado pelo Governo de Alagoas com a PRIME Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda, que não só chama atenção — ele grita.


O Estado entregou à PRIME todo o gerenciamento de frota, desde o combustível até a manutenção, num pacote gigantesco de R$ 138.754.001,68 por cinco anos. Um contrato tão amplo, tão profundo e tão confortável para a empresa que se tornou, na prática, um monopólio operacional da frota estadual.

Nada se move, nada abastece, nada é consertado sem passar pela mesma porta: a da PRIME.

E isso não é opinião — está nos documentos.

O Valor que Não Cabe no Tanque: R$ 138,7 Milhões

O Extrato do contrato publicado no Diário Oficial de 10/11/2022 expõe o tamanho da operação:

7.101.899 litros de gasolina

8.068.054 litros de diesel

532.020 litros de etanol

R$ 38.679.784,00 em manutenção

Com um detalhe que merece ser repetido:

R$ 38,6 milhões em manutenção — sem tabela de preços unitários, sem detalhamento de peças, sem transparência sobre quantos veículos precisarão dos serviços. Tudo agrupado num único pacote, como uma caixa-preta cara e indevassável.

Os combustíveis receberam um “desconto” padronizado de 2,5%. Um desconto simbólico, um gesto burocrático, incapaz de esconder o volume brutal movimentado.

A Lavanderia da Frota: o Item de Manutenção Que Abre a Porta do Infinito

O contrato define que a PRIME executará:

manutenção preventiva,

manutenção corretiva,

fornecimento de peças,

lavagem,

reboque,

guincho.

Tudo sob o mesmo guarda-chuva — e sem lista de preços.

Na prática, o Estado autorizou a PRIME a dizer quanto custa o próprio serviço ao longo dos cinco anos.

Com isso, criou o terreno ideal para:

superfaturamento invisível,

substituição de peças nunca utilizadas,

serviços fictícios,

notas genéricas,

manipulação de oficinas credenciadas,

e despesas que se multiplicam sem necessidade.

O modelo é conhecido no Brasil inteiro. O cartel da gestão de frotas prospera justamente quando:

1. controla o combustível,

2. controla a manutenção,

3. controla o sistema que registra tudo isso.

Quando uma única empresa controla as três pontas, a fiscalização perde o braço.

E o Estado perde dinheiro.

O Consumo Impossível: O Estado de Alagoas Virou Uma Frota Interestadual?

Os números são tão altos que desafiam a realidade.

Exemplo:

A Polícia Militar de Alagoas aparece com estimativa de 3.850.000 litros de gasolina e 3.000.000 litros de diesel.

Somando todos os órgãos — PM, Civil, DER, ADEAL, EMATER, IMA, SEDUC e dezenas de secretarias — a conta final supera 15,7 milhões de litros.

Para se ter dimensão:

Esse volume abasteceria uma frota interestadual de milhares de veículos rodando sem parar.

A pergunta é óbvia:

a frota real de Alagoas justifica esse consumo?

Sem auditoria técnica séria, a resposta tende ao silêncio — e o silêncio, nesse caso, é caro.

O Edital Que Fecha Portas e Abre Caminhos

O Pregão Eletrônico nº 10.095/2022 adotou o formato preferido das empresas que atuam nesse setor:

Menor preço global.

Ou seja:

a empresa dá desconto onde não perde,

recupera tudo (e mais um pouco) onde o Estado não consegue fiscalizar.

O edital ainda exige:

rede ampla credenciada,

plataforma tecnológica própria,

capacidade operacional comprovada em grande escala.

Isso reduz drasticamente o número de concorrentes reais.

E quando o jogo começa com poucos jogadores, o vencedor costuma ser sempre o mesmo.

A PRIME não entrou para competir.

Entrou para levar.

O Estado Entrega a Chave e a PRIME Fecha o Cadeado

O contrato é de cinco anos, prorrogável.

Cinco anos em que:

a PRIME controla o abastecimento,

controla a manutenção,

controla a logística,

controla os relatórios,

controla o sistema,

controla os dados,

controla a porta de entrada e de saída de cada veículo.

O governo, não.

O governo apenas paga.


A Pergunta Que Ninguém Fez — e Que Agora Precisa Ser Respondida

Quem, dentro do Governo de Alagoas, olhou para esse contrato e disse: “Está tudo certo”?

O papel aceita qualquer coisa.

O tanque não.

O orçamento público, menos ainda.

Com base nos documentos oficiais, o que se vê não é um contrato —

é uma entrega total, um cheque em branco, um monopólio com assinatura do Estado.

E é exatamente nesses espaços de comodidade que os cartéis prosperam.

A PRIME não entrou em Alagoas para prestar serviço.

Entrou para comandar.

E, quando uma empresa com esse histórico assume tamanho controle, a pergunta deixa de ser se haverá irregularidade —

e passa a ser quando ela será descoberta.

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