O escândalo da “defesa com dinheiro público” expõe o lado obscuro do modelo de terceirização de obras de Ronaldo Caiado e o aparelhamento do IFAG, braço da FAEG dentro do governo de Goiás
O governo Ronaldo Caiado (União Brasil) volta ao centro de uma grave denúncia de desvio e falta de transparência no uso do dinheiro público.
Desta vez, o alvo é o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG) — a organização social escolhida pelo governador para administrar obras de infraestrutura custeadas pela chamada Taxa do Agro, fundo bilionário abastecido com recursos de produtores rurais goianos.
O deputado estadual Eduardo Prado (PL) protocolou uma série de ofícios oficiais questionando se cerca de R$ 300 mil dessa verba pública teriam sido utilizados irregularmente para pagar advogados do escritório Manesco, contratados pelo IFAG para fazer a defesa judicial do modelo de gestão do governo.
Esse mesmo modelo foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes, que considerou ilegal o formato de contratação de obras e serviços via OS adotado pelo governo goiano.
⚖️ “O IFAG recebe dinheiro público e tem o dever de transparência”
No Ofício nº 143/2025, o deputado cobra que o IFAG apresente as prestações de contas dos últimos quatro meses, a íntegra do contrato com o escritório Manesco, além de aditivos e comprovantes de pagamento.
Em outro documento (Ofício nº 144/2025), enviado ao Ministério Público de Goiás, Eduardo Prado pede investigação formal sobre a origem dos recursos usados na defesa jurídica do instituto.
A denúncia aponta para possível uso indevido de recursos do agro — que deveriam ser destinados a obras públicas — para financiar a defesa jurídica de um modelo de gestão declarado irregular pelo Supremo.
🕳️ Omissão, silêncio e vínculos com a FAEG
Em novo documento (Ofício nº 145/2025), Prado denuncia que o IFAG não respondeu a nenhuma das solicitações de seu gabinete.
Além disso, o site da instituição redireciona contatos para a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), presidida por José Mário Schreiner, aliado político de Caiado e ex-deputado federal.
A denúncia reforça uma suspeita antiga: o IFAG seria um instrumento de poder da FAEG dentro do governo estadual, funcionando como organização social de fachada para gerenciar contratos e recursos públicos sem o devido controle social.
🚨 STF já havia alertado para “risco de desvio da moralidade”
O próprio STF, ao suspender o convênio entre o Estado e o IFAG, reconheceu o “risco de desvio dos princípios da moralidade e da publicidade”.
Agora, com as novas suspeitas levantadas, esse alerta ganha contornos mais concretos:
dinheiro do agro, que deveria financiar obras e infraestrutura, pode estar bancando a defesa de quem é investigado por irregularidades.
Trata-se de um ciclo de impunidade perigoso, onde recursos públicos alimentam a defesa de agentes públicos e entidades que são alvo de investigação — uma inversão completa do princípio republicano da responsabilidade administrativa.
🧩 Análise opinativa
A denúncia de Eduardo Prado toca em um ponto sensível e emblemático da gestão Caiado: a terceirização disfarçada da administração pública via organizações sociais, prática que já se alastrou pela saúde, pela educação e agora avança sobre as obras e o dinheiro do agro.
Ao atrelar o IFAG à FAEG, o governo cria uma estrutura híbrida — parte estatal, parte privada — que concentra poder, recursos e influência, mas esvazia a transparência e os mecanismos de controle.
Na prática, o IFAG virou um braço político e operacional do agronegócio dentro do governo, blindado por contratos milionários e pouca prestação de contas.
🔎 O que está em jogo
- R$ 300 mil da Taxa do Agro sob suspeita de desvio;
- Defesa jurídica paga com dinheiro público;
- Organização social sem transparência;
- STF alertando para riscos de imoralidade;
- E um governo que insiste em terceirizar responsabilidades, mas não a culpa.
Enquanto o IFAG se cala, as perguntas se acumulam:
Quem autorizou o pagamento dos advogados?
Por que a verba do agro financiou defesa judicial?
E, sobretudo, quem será responsabilizado se o desvio for confirmado?

Um comentário:
https://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/denunciados-pelo-mpgo-jornalistas-sao-condenados-pelos-crimes-de-calunia-e-difamacao-praticados-contra-promotor-de-justica
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