Alexandre Gomes Machado, o servidor do TSE que coordenava a distribuição da propaganda eleitoral, confirmou a O Antagonista o teor de seu depoimento à Polícia Federal. Ele disse que procurou a PF por medo de sofrer algum tipo de violência. “Fui atendido pelo delegado de plantão, disse que temia pela minha integridade física. Tiraram meu crachá, minha credencial de acesso, sem nenhuma satisfação e na frente de todo mundo. Achei que estava sofrendo uma condução coercitiva.”
Machado foi exonerado ontem à noite, ao fim do expediente. Ele conta que havia encaminhado à sua chefe um email de uma rádio que admitia não ter feito inserções da campanha de Jair Bolsonaro — tema de uma denúncia apresentada ao TSE na segunda-feira e anunciada em coletiva pelo ministro Fábio Faria e o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten.
“Tinha chegado esse email que comprovava de alguma forma (a denúncia), porque a rádio estava admitindo que deixou de passar 100 inserções. Vinte minutos depois, meu chefe vai para a reunião e volta pálido: ‘O Levi (secretário-geral do TSE, José Levi doAmaral Jr) falou que vai te exonerar. O ato de exoneração já está pronto’. Quando eu estava me arrumando para sair, colocaram a chefe de segurança na porta para me escoltar até a saída, até o carro. Tomaram o meu crachá. Estou tentando entender até agora o que aconteceu. A partir daí, acionei amigos e foi criando uma rede. O pessoal me arrumou uma advogada.”
Mais cedo, a assessoria de imprensa do TSE negou qualquer relação da exoneração do servidor com o caso das inserções. “Em virtude do período eleitoral, a gestão do TSE vem realizando alterações gradativas em sua equipe”, disse.
Machado entrou na Justiça Eleitoral por concurso há cerca de dez anos. Em 2014, trabalhou no núcleo que criou o Pool de Emissoras, sistema que recebe as peças de propaganda das campanhas e insere no sistema eletrônico, permitindo que rádios e TVs baixem os arquivos de áudio e vídeo para a divulgação, conforme prevê a Lei Eleitoral.
Ele conta que, em 2018, depois que o TSE cassou o registro da candidatura de Lula, muitas emissoras continuaram divulgando propaganda com o petista, o que gerou uma série de reclamações. Foi quando ele percebeu que o tribunal não possui nenhuma ferramenta capaz de fiscalizar o cumprimento dessa obrigação por parte das emissoras. “O que não está certo? Não existe controle do TSE sobre as inserções de televisão e rádio. Não tem um contrato de auditoria de mídia. Acho que se procurar inserção de TV, pode ser até pior que as de rádio. Isso é tudo feito via player.”
Na noite de ontem, a campanha bolsonarista entregou ao TSE petição em que detalha os documentos usados para sustentar a denúncia de que rádios, especialmente no Nordeste, deixaram de veicular mais de 150 mil inserções de propaganda eleitoral do presidente.
Os advogados anexaram o relatório de auditoria de mídia realizada pela empresa Audiency Brasil Tecnologia Ltda. Também fizeram um recorte amostral de oito rádios de municípios da Bahia e de Pernambuco, que deixaram de veicular 730 inserções da campanha de Bolsonaro — beneficiando indiretamente Lula.
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