quarta-feira, 22 de junho de 2016

Socorristas do SAMU Pioravam Estado de Saúde das Pessoas Para Ganhar Dinheiro Com Propina de UTIs

Servidores e médicos do serviço de ambulâncias municipal direcionavam vítimas que tivessem planos de saúde para UTIs particulares em troca de propina, segundo MP-GO


Imagine uma pessoa com acidente vascular cerebral (AVC) sendo socorrida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) próximo a um hospital público, com leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponível, e mesmo assim, sendo encaminhada para uma UTI particular do outro lado da cidade para garantir propina a socorristas e médico regulador. Imagine ainda um paciente que não tinha necessidade de ser encaminhado para uma UTI, mas foi submetido a coma induzido, com uso de medicamentos, para justificar o encaminhamento e gerar mais pagamento de propina.


Essas e outras situações aconteceram entre 2014 e 2016, período em que um esquema articulado entre donos de UTIs particulares, socorristas do Samu e médicos reguladores manteve-se ativo em Goiânia, com o intuito de fraudar o encaminhamento de pacientes portadores de planos de saúde. De um lado, os empresários ganhavam com as diárias pagas pelos planos e, do outro, os socorristas e médicos recebiam vantagem indevida por direcionar os pacientes arbitrariamente.


O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de Goiás (MP/GO) investigou o caso por um ano e oito meses e deflagrou, ontem, a operação S.O.S. Samu, com o cumprimento de 21 mandados de prisão temporária e 43 de busca e apreensão. Como provas dos crimes de corrupção ativa e passiva, a investigação teve acesso a anotações, agendas, comprovantes de movimentações bancárias e confissões realizadas ontem, durante a fase de oitivas.


A denúncia foi feita por um ex-servidor do Samu. “No decorrer da investigação, constatamos que quase todas as UTIs estavam pagando propina para receber irregularmente pacientes e, assim, manter a casa cheia”, diz o coordenador do Gaeco, promotor Luis Guilherme Gimenes. Entre os presos, estão enfermeiros, condutores socorristas, dois bombeiros, médicos, donos de UTIs e hospitais e um integrante da diretoria do Samu.


“Segundo informações dos alvos, a diretoria tinha conhecimento desse esquema”, expõe Luis Guilherme. Em alguns casos, de acordo com os investigadores, foi possível constatar que a situação estava tão institucionalizada que os servidores contavam com o dinheiro da propina no final do mês como se fosse um adicional. Socorristas chegavam a ganhar até duas vezes mais em propina, em comparação ao salário.

Fonte: Jornal O Popular

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