Em depoimento, doleiro disse que o esquema de desvios de dinheiro na Petrobras começou em 2005, com o mensaleiro José Janene, já morto
O doleiro Alberto Youssef também prestou depoimento à Justiça – e também fez revelações surpreendentes. Disse que o esquema de desvios de dinheiro na Petrobras começou em 2005, comandado pelo o ex-deputado federal José Janene. O parlamentar, já morto, também foi envolvido no esquema do mensalão.
Corrupção na Petrobras tinha 'ata' da quadrilha – A quadrilha que desviou dinheiro por 9 anos na Petrobras chegou a tal nível de sofisticação que era confeccionada uma ata paralela a cada reunião do grupo criminoso para dividir propinas de contratos públicos. O doleiro Alberto Youssef prometeu entregar as cópias dessas atas à Justiça nos próximos dias. Ele guardou as atas paralelas com uma pessoa de sua confiança. “Essas reuniões eram feitas às vezes com empresas, individualmente, e às vezes com as empresas junto com o diretor Paulo Roberto e o próprio agente político que estava comandando a situação, para discutir exatamente questões de valores, questão de quem ia participar do certame e outro tipo de situação. E outros problemas que se encontravam nas obras, que pediam para solucionar. Isso era feito uma ata nessa reunião. Participava o agente político, o Genu (João Cláudio Genu), eu, o Paulo Roberto”, disse o doleiro. Estarrecido, o juiz Sérgio Moro perguntou ao doleiro se nessas atas paralelas constavam os detalhamentos do negócio. “Constavam os detalhamentos, vossa excelência”, respondeu Youssef. O doleiro afirmou que as empresas não tinham como correr do pagamento de propina para a quadrilha. “As empresas, principalmente as grandes, ficavam reféns desse esquema porque: ‘ou participa ou não tem obra’”, disse Youssef. As reuniões do grupo eram feitas geralmente em hotéis no Rio e em São Paulo ou na residência do “agente político” que comandava o contrato e que iria se beneficiar do desvio. “Todo mundo sabia o que estava acontecendo”, disse Youssef.
Aliados pressionaram Lula para garantir nomeação de Costa – A força do grupo político que comandava o esquema não era pequena. Paulo Roberto Conta que os parlamentares da quadrilha trancaram a pauta de votações no Congresso Nacional por 90 dias, até que a Presidência da República nomeasse um diretor da confiança do grupo na Petrobras. “Na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco, teve que ceder e realmente empossar Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento”, disse Youssef. O doleiro diz que a cobrança de comissão nos contratos acontecia em todas as diretorias da Petrobras. Segundo ele, Paulo Roberto Costa ficava com 30% do dinheiro da propina, o agente político ficava com 60%. Os 10% restantes eram divididos entre o doleiro Youssef e o mensaleiro João Cláudio Genu, que ficou conhecido como o “homem da mala”.
Empresas dividiam pacote de obras – O doleiro revelou como funcionava a divisão de grandes obras da Petrobras. Ele informou que participou diretamente de várias dessas reuniões com as grandes empreiteiras, antes mesmo da licitação. "O conhecimento que tenho é que existia um acerto entre as empresas, não na questão das licitações, mas sim quando saía um pacote de obras na Petrobras. As empresas, elas entre elas, tratavam de se relacionarem e obterem quem ia ser o ganhador daquela obra", disse Youssef.
1% para o PP – A empresa que não topasse pagar 1% para o PP, segundo Youssef, não assinava o contrato. "Ela ganhava a obra. Se não pagasse, tinha ingerência política e do próprio diretor", disse o doleiro.
Doleiro aponta as empresas – O doleiro também confirmou os nomes de todas as empresas e dos diretores com quem negociou. A lista do doleiro inclui as empresas OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia, Engevix, Odebrecht, UTC, Jaraguá, Odebrecht e Tomé Engenharia, entre outras.
"Havia muitas pessoas acima de Costa" – Youssef afirmou que havia muitas pessoas no esquema acima de Paulo Roberto Costa na organização criminosa, incluindo “agentes públicos”. Advertido pelo juiz de que não poderia citar nomes de pessoas com foro privilegiado (deputados, senadores, ministros, presidente da República), ele não pode identificar a quem se referia. Na hierarquia da empresa, a diretoria de Abastecimento está subordinada à presidência da estatal, que responde ao ministro das Minas e Energia e, acima deste, o presidente da República.
“Em primeiro lugar quero deixar claro que não sou o mentor nem o chefe desse esquema. Na acusação diz que sou mentor e chefe da organização criminosa. Eu não sou. Eu sou apenas uma engrenagem desse assunto que ocorria na Petrobras. Tinha gente muito mais elevada acima disso, inclusive acima de Paulo Roberto Costa, no caso agentes públicos. Esse assunto ocorria nas obras da Petrobras e eu era um dos operadores”, disse Yousse
Revista Veja
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