A falta de vergonha na cara de algumas autoridades é tão antiga quanto insolúvel. Mas, às vezes, passa dos limites. A cidade de Goianésia, a 180 quilômetros de Goiânia, vive um pesadelo que já dura dois anos. Em 2011, o então presidente da Câmara Municipal, Temal Carrilho, foi denunciado por estupro de vulnerável. A Polícia Civil e o Ministério Público investigaram, apuraram que as acusações tinham fundamento, juntaram as provas e enviaram ao Poder Judiciário. Há menos de um mês saiu a sentença condenando Temal Carrilho a 17 anos de cadeia. Pois Temal Carrilho continua onde sempre esteve, no Plenário do Legislativo de Goianésia.
O caso é mais asqueroso quando se sabe que a vítima tinha 9 anos de idade quando Temal Carrilho começou a agredi-la sexualmente. As violação duraram mais de quatro anos. A criança suportou cinquenta meses de barbaridades até contar para a mãe, que foi aconselhada a amoitar o caso. O desejo da família e de amigos era esconder os fatos. Por dois motivos, ambos vestidos com o surreal. O primeiro é que a menina é sobrinha do estuprador. O outro são as qualidades visíveis de Temal Carrilho, um pai amoroso, cidadão exemplar, político prestativo, religioso sem falta na igreja, um tio atencioso. A mãe da vítima pesquisou sobre pedofilia e encarou o agressor da filha. Ela descobriu que a reunião de atributos é uma das características dos estupradores de crianças.
A monstruosidade poderia ter sido letal para a carreira política de Temal Carrilho. Ao contrário, foi um estímulo. O acusado continuou presidindo o Poder Legislativo local. Um ano após a divulgação do escândalo, Temal Carrilho foi reeleito vereador com a terceira maior votação de Goianésia. Temal Carrilho manteve o apoio de seu partido, o Democratas, cujos líderes maiores são os deputados Hélio de Sousa e Ronaldo Caiado. Os demais 14 vereadores de Goianésia ou são frouxos, ou têm o rabo preso, ou nunca possuíram brio nas fuças, ou estão sendo iludidos. A última alternativa parece correta.
Espalhou-se na cidade a lorota de que Temal Carrilho só pode ser cassado depois de sua condenação transitar em julgado. Por enquanto, ainda cabe recurso.
A verdade é que Temal Carrilho pode e deve ser cassado, sim, e imediatamente.
A verdade é que Temal Carrilho pode e dever ser afastado do Democratas, sim, e imediatamente.
A verdade é que os órgãos de defesa dos direitos humanos, de crianças e adolescentes, da mulher e outros do gênero devem agir imediatamente.
A Ordem dos Advogados do Brasil, por seu presidente Henrique Tibúrcio, e o Ministério Público, pelo procurador-Geral de Justiça, Lauro Nogueira, poderiam entrar no caso.
Está acontecendo o contrário: Temal Carrilho vem sendo protegido pelas autoridades, umas por ação, outras por omissão. Mas nem todos em Goianésia são canalhas nem podres.
Tem de haver uma parcela de autoridades que prestam.
Tem de haver alguém em Goianésia com independência e poder suficientes para barrar esse acinte.
Temal Carrilho tem o direito de se defender e já o fez.
Seus comparsas por omissão têm o direito de ser vagabundos e já o são.
Seus amigos têm o direito de esperar e já o fazem.
Mas as autoridades não têm o direito de fazer de Goianésia um valhacouto da pedofilia. Goianésia não merece. E, sobretudo, a infância naquela maravilhosa cidade não precisa contar com o estupro como fase obrigatória para o crescimento. Infelizmente, parece ser esse absurdo o raciocínio dominante.
Como já passou dos limites dos três poderes, que as bênçãos de Deus recaiam sobre as crianças de Goianésia. E a maldição do capeta fulmine quem, por ação ou omissão, compactua com a pedofilia.
Rádio 730
2 comentários:
Incrível, para não falar besteira um tem desse...
Porque o vereador de Jandaia que e de partido de oposição ao governo do estado aparece a sigla do partido e o de Goianésia que de partido da base do governador e aliado a um prefeito do partido do governador não aparece a sigla do partido. Vamos ser imparciais nas reportagens. Meu nome João Marcos Leite e moro em Anápolis.
Postar um comentário