sexta-feira, 1 de março de 2013

Mané de Oliveira Pergunta Aos Desembargadores: "O Que Tenho Que Fazer Para Ser Preso?"

Manoel Oliveira diz que, com Maurício Sampaio solto, teme por sua própria vida
Em entrevista, o comentarista esportivo e ex-deputado afirma que manter preso um empresário rico e poderoso é mesmo muito difícil, quase impossível


Fernando Leite/Jornal Opção


Na tarde de quinta-feira, 28, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) concedeu o habeas corpus ao cartorário e ex-vice-presidente do Atlético Clube Goianiense Maurício Borges Sampaio. Ele estava preso desde o dia 2 acusado pela Polícia Civil de Goiás de ser o mandante do assassinato do radialista e comentarista esportivo Valério Luiz de Oliveira.

A expedição do habeas corpus foi determinada após votação entre os desembargadores do tribunal que terminou em dois a dois. Como o empate favorece o réu, Sampaio pôde deixar o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia por volta das 16h30.

Acompanhando todo o processo estava o radialista e comentarista esportivo Manoel de Oliveira, pai de Valério Luiz. Após a divulgação do resultado, ele concedeu uma entrevista ao Opção Online falando sobre o difícil período que enfrenta desde a morte de seu filho. Visivelmente emocionado, diz temer pela sua vida e afirma: “A situação no Brasil está bem assim: o bandido é solto e o inocente tem que ficar preso”.

O sr. recebeu a notícia da liberação de Maurício Sampaio de forma indignada. Qual foi a tese sustentada pelos juízes que votaram a favor do habeas corpus para o empresário?

O desembargador Gerson Santana Cintra justificou o voto pela saída do Maurício de uma maneira brilhante, como se fosse o mais brilhante advogado de defesa. Dois votaram pela permanência de Maurício Sampaio na prisão. Durante sete meses, a Polícia Civil, a opinião pública, a imprensa, o Ministério Público, todos nós sabíamos que não tinha e não tem outra linha de investigação que não fosse essa [Maurício Sampaio como mandante e Ademá Figueiredo como executor — a tese definida pela Polícia Civil no inquérito]. Por que nós sabíamos, principalmente nós da imprensa e em especial a crônica esportiva, que convivíamos com os dois lados? Porque os repórteres que cobriam o Atlético falavam abertamente: “Maurício Sampaio não gosta do Valério”. Ultimamente, ele dizia: “Vou encerrar a carreira do Valério”. O tabelião e a diretoria do Atlético fizeram uma carta — todo mundo sabe disso, é público — pedindo a cabeça do Valério na TV-PUC e na Rádio Jornal 820. Isso todo mundo sabia. Quem assinou foi o presidente do Atlético [deputado Valdivino Oliveira] e Maurício Sampaio.

Qual era o motivo dessa perseguição dos dirigentes do Atlético contra Valério Luiz?

Valério fez uma denúncia, talvez as pessoas não saibam, de que havia jogador do Atlético usando cocaína. O Atlético processou o Valério e Maurício Sampaio representou o clube na audiência. Ele queria que o Valério se retratasse. Só que, no dia da audiência, o Valério já tinha levado uma prova de que um jogador realmente foi pego num exame antidoping. E tem mais: 15 dias depois de pedir a cabeça de meu filho, o Valério simplesmente foi executado. Em Barras, no Piauí, o Atlético disputava a série C com o objetivo de migrar para a B. Se ganhasse do Barras, o Atlético iria para a Série B. Se o Barras vencesse, iria o ABC, do Rio Grande do Norte. Então, houve uma disputa para "comprar" [o clube piauiense] — uns para perder, outros para ganhar. Isso foi denunciado na época pelo Valério e pela Rádio 730 — que pertence ao Maurício Sampaio hoje —, porque eram os dois veículos de comunicação que estavam lá. O Valério e o Dudu [filho de Manoel Oliveira] pela televisão, e a equipe da Rádio 730. Depois dessa denúncia, Sampaio transformou-se num cara que odiava o Valério. Eles viviam às turras. Maurício Sampaio tentou agredir o vice-presidente da CBF na porta do Serra Dourada. Todo mundo sabe disso. Maurício Sampaio agrediu um cronista esportivo na porta do Serra Dourada [Alípio Nogueira]. Maurício Sampaio estava brigando com a Federação [Goiana de Futebol]. Maurício Sampaio xingou o diretor de futebol do Goiás. Ele tentou uma vez pular o alambrado para bater no Hélio dos Anjos, que era o treinador do Atlético. É um cara passional. O Valério criticava tudo isso. Da mesma maneira que Maurício Sampaio não gostava do Valério como comentarista, Valério não gostava dele como dirigente. Achava que era maléfico ao Atlético. Tanto é verdade que, quatro meses antes de o Atlético ser rebaixado, Valério fez comentário dizendo que o clube seria rebaixado do Campeonato Brasileiro e quais seriam os motivos e os responsáveis. Falou sobre o Valdivino [Oliveira], falou sobre Maurício Sampaio, falou sobre o Adson [José Batista], falou sobre todo mundo, um por um, nome por nome. E o que aconteceu depois? Valério não viu o Atlético ser rebaixado, porque eles o executaram antes. Com um histórico desse, ainda tem alguma dúvida?

Valério Luiz tinha outros inimigos?

Durante a investigação, a Polícia Civil investigou toda a vida do Valério a fundo. Ele tinha suas briguinhas normais, discussões com um ou com outro, mas jamais para chegar aonde chegou. Para chegar onde chegou todo mundo sabe que precisava de um mandante forte, que achava que nada iria acontecer com ele, e que tinha de seu lado profissionais competentes para organizar e praticar a execução da maneira que ela foi feita: às 14 horas, na porta da rádio, ao lado de uma casa pertencente ao Maurício Sampaio, onde morava o sr. Urbano [de Carvalho Malta], que logo após o crime estava lá. Urbano é amigo do [sargento Djalma Gomes] Da Silva e amigo do [cabo Ademá] Figueiredo. Depois, o Marquinhos [Marcus Vinicius Pereira Xavier] entrou na história.

Por que o Marcus Vinicius assumiu, inicialmente, que havia assassinato Valério Luiz?

Será possível que Marquinhos está inventando que ofereceram R$ 10 mil e pagaram R$ 9 mil para ele? Sabe por qual razão Marquinhos se entregou para a polícia? O pai dele é meu amigo há muitos anos e me falou que Marquinhos ia se entregar para a polícia porque, se ele não o fizesse, seria morto. Iriam executar Marquinhos. Ele conta isso no seu depoimento. Você acha que Urbano, que Da Silva, que Figueiredo, que Marquinhos teriam executado o Valério? A troco do quê? E quem são essas pessoas?

Quais são as ligações de Maurício Sampaio com Da Silva e Figueiredo?

O que acho mais absurdo: aonde o Maurício ia nos estádios estavam Da Silva e Figueiredo. Por que, depois da execução do Valério, os dois deixaram de ser segurança do Maurício Sampaio e foram ser segurança de outras pessoas? Por que Urbano morava do lado do rádio? Para monitorar a execução. O cara que executou o Valério tem que ter a capacidade desse Figueiredo, que é altamente profissional. Por que não executou o Valério na porta da casa dele? Na porta do Serra Dourada? Andando de bicicleta pela cidade? Por que lá era um recado para mim e para a imprensa: o próximo poderia ser eu ou qualquer outro. Era o recado deles. Porque naquele local tinham um ponto de apoio desse Urbano, que morava na casa dele. Logo depois Urbano se mudou. Mudou, saiu de lá. Então, diante disse, não dá para dizer que os assassinos são outros.

O sr. foi vítima de um assalto na segunda-feira, 25. Acredita que tenha algo a ver com o assassinato de Valério?

De alguns meses para cá, fui vítima de assaltos, roubos e atentados. Antes da morte do Valério nunca tinham me roubado uma galinha. Então não dá para não pensar que são coisas relacionadas.

Como foi o assalto?

Eu estava indo para a padaria quando fui abordado e colocaram uma arma na minha barriga. O cara disse: “Desce, me entrega a chave e não olhe para mim”. A minha sorte é que meus seguranças não estavam por perto, senão eles poderiam tentar alguma coisa e eu ia acabar morto junto com o bandido. Dois dias depois, a polícia me avisa que encontraram meu carro. Ele estava em frente a uma agência bancária na Avenida Circular, no Setor Pedro Ludovico, com as duas janelas da frente abertas.

O sr. tem esperança de que Maurício Sampaio volte para a prisão?

É possível que se decrete uma preventiva. Está nas mãos do juiz Lourival [Machado da Costa]. O pedido de prisão preventiva está muito bem fundamentado pelo Ministério Público. Estive no Ministério Público e os promotores não tinham dúvida que Maurício Sampaio iria permanecer preso e que a preventiva seria decretada. O MP inteiro não acreditava que aconteceria o que aconteceu hoje. A polícia não acreditava, porque as provas são superconsistentes, robustas. E outra coisa: todo mundo sabe que, com seu poder econômico, com tantos advogados, com tantos ex-desembargadores, Maurício Sampaio tem um poder de fogo muito grande. Ele pode organizar tudo, até fugir do país. Falam que ele tem uma fazenda no Texas. Para ele fugir do país não custa nada. Até porque um cara que vivia como ele vivia, com o dinheiro que ele tem, fazia o que queria, já pensou um cara desse pensar em voltar para a cadeia? Ele vai fazer de tudo para não voltar.

O que o sr. pensa em fazer agora que Maurício Sampaio foi solto?

Estou tão perdido que nem sei o que fazer. Quando saiu o resultado, perguntei aos desembargadores o que eu tinha que fazer para ir preso. Talvez, se preso, eu não corra tanto risco. Pensei em sair da cidade. Mas não é só eu que estou envolvido nesta situação, tem outras pessoas aqui, e não posso abandonar tudo agora. A situação no Brasil está bem assim: o bandido vai solto e o inocente tem que ficar preso.

O que o senhor acha do artigo do Nilson Gomes publicado hoje no “Diário da Manhã”?

Nilson Gomes, não como jornalista mas como funcionário dele, diretor de Jornalismo da Rádio 730, está fazendo o papel de empregado correto, de empregado que está do lado do patrão para o que der e vier. Não se importa com a opinião pública, não se importa com a condição dele como jornalista. E nada melhor do que o dia de hoje ele fazer esse artigo. E por quê? Porque poderia acontecer o que aconteceu, e com o artigo que ele escreveu é evidente que ele vai crescer e muito no conceito do seu patrão, o sr. Maurício Sampaio.

Jornal Opção

Nenhum comentário: