terça-feira, 26 de junho de 2012

Maradona Pediu a Camisa Dele: Iarley Jogou no Real Madrid e Foi ídolo no Boca Júniors


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ALGOZ DO RIVER E 'HERMANO DE PELÉ'
Contratado pelo Boca depois de ter garantido vitória de 1 a 0 do Paysandu em La Bombonera, na Libertadores, Iarley caiu em definitivo nas graças da torcida ao marcar um golaço no triunfo por 2 a 0 sobre o River Plate, em pleno Monumental de Nuñez, em 2003. O brasileiro ganhou até canto: "Ya lo ve, ya lo ve, es el hermano de Pelé" (já dá para ver, já dá para ver, é o irmão de Pelé). Aquele clássico, o 300º da história, impulsionou a equipe à conquista do Torneio Apertura. A foto é da capa da revista El Gráfico, uma das maiores da Argentina.

Foi depois de um jogo pela Copa Libertadores de 2004. Maradona desceu de seu camarote até o vestiário da Bombonera para pedir a Iarley a camisa que ele havia usado em campo. Pego de surpresa, o meia-atacante brasileiro, que vestia a número 10 do Boca Juniors desde o ano anterior e já havia sido chamado de "irmão de Pelé" pela torcida xeneize, a entregou ao ídolo máximo do futebol argentino.
Anos depois, no início de 2010, ele chegou ao Corinthians para atuar ao lado de Ronaldo e Roberto Carlos. O sucesso não se repetiu – fez poucos jogos na Libertadores e fechou a temporada sendo emprestado –, mas até hoje Iarley é reconhecido como ex-jogador de uma das principais equipes do Brasil, que nesta quarta-feira começa a decidir justamente com o Boca o título de melhor da América do Sul na atualidade.
"Tenho amigo nos dois lados. Qualquer um que 
ganhar vai me deixar feliz. São dois clubes pelos quais tenho carinho muito grande", diz à GE.Net o jogador de 38 anos, que venceu o torneio continental em 2006 quando envergava o uniforme colorado do Internacional. Atualmente no Goiás, ele destaca o histórico copeiro do Boca, mas avisa os amigos que ainda tem por lá: o Corinthians de Tite pode surpreender já na ida, fora de casa, nesta quarta-feira.

GazetaEsportiva.Net: Você usou a maior camisa do futebol argentino, a 10 do Boca, do Maradona. Como foi?
Iarley: Muito especial. Quando cheguei no clube, o Bianchi  (Carlos Bianchi, treinador) me chamou para comunicar que eu iria vestir a camisa 10. Fiquei feliz, porque é uma camisa histórica do Boca Juniors. Isso demonstrava a confiança que ele tinha em mim. Recebi isso com muita alegria, tinha que honrar a camisa e tive felicidade de não decepcionar. Logo quando cheguei, ele me chamou, iam lançar os nomes na camisa, e ele falou que eu tinha qualidade de sobra para usá-la, pelo que tinha feito na Bombonera, que dificilmente outro jogador iria fazer. Ele confiava muito em mim, e eu respondi que não me preocupava muito com o número nas costas. Respeito muito a 10, mas, para mim, é como se fosse a 11 ou a 9. Nunca tive superstição. Mas também deu muito mais moral. Todo mundo na América do Sul me conhece como o 10 do Boca.
GE.Net: E o Maradona pediu sua camisa certa vez...
Iarley: Foi. Na época ele ainda estava meio doente, vivendo uma situação complicada, e me pediu a camisa para um sobrinho, que estava com ele. Eu falei "é claro, ela está só emprestada, essa camisa é sua". Eu entreguei, e ele ficou muito contente.

GE.Net: O que mais te marcou na passagem pelo Boca?
Iarley: O retorno do Mundial (o Boca venceu o Milan nos pênaltis, no Japão, em 2003). Quando o avião aterrissou em Buenos Aires, era um mar de gente. O trajeto de ônibus, do aeroporto até o centro da cidade, levou aproximadamente quatro horas. Era muita gente, uma comemoração muito grande. No avião também, todos estavam vestidos de quimono. Quando me falam do Boca, logo me lembro dessa cena. Fomos para o estádio, que lotou. Comemoramos o título no gramado, pulando na grama, com o troféu...

GE.Net: Há casos de jogadores brasileiros que sofreram preconceito na Argentina, enquanto você se tornou ídolo rapidamente. Não sofreu preconceito?
Iarley: Não, foi tranquilo. Você tem que conquistar os argentinos, porque vem de fora. Aqui no Brasil, as torcidas adversárias te xingam e você também não pode revidar. Os argentinos sempre me trataram muito bem. A torcida adversária até pode ter me xingado, mas é normal. Depois do gol contra o River, aí sim, fiquei batizado como jogador do Boca, porque foi um clássico importante, no Monumental. Ao mesmo tempo me senti muito mais à vontade também, fiquei com confiança, moral. Só que ficou complicado para sair na rua.


GE.Net: Além de o Maradona pedir sua camisa, você foi chamado de "hermano de Pelé" pela torcida, né? 
GE.Net: Você falava bem espanhol.
Iarley: Sim, já tinha tido passagem de quatro anos na Espanha (foi para o Real Madrid B, em 1997, e passou ainda por outros clubes do futebol espanhol), isso me ajudou também.

Iarley: Isso aconteceu nesse jogo contra o River, no Monumental, em que nós ganhamos de 2 a 0 e eu fiz um gol histórico, um dos mais bonitos da história do clássico. Do nada, a torcida começou a me chamar de ‘hermano de Pelé’. Fiquei muito contente. Mas foi só nesse jogo. Até ameaçaram cantar outras vezes, mas eram poucas pessoas.

GE.Net: A torcida do Boca na Bombonera é diferenciada?
Iarley: É. É um espetáculo à parte. A pressão é muito grande, isso é muito mais complicado para o adversário. Pressão em relação ao próprio time não existe, só cânticos empurrando o time. Jogar com isso a favor é muito bom, eles têm pacto de não vaiar o time em situação nenhuma. Pode estar perdendo de 10 a 0 que vão cantar do mesmo jeito. A cobrança pode vir depois, mas o jogo é sagrado para eles. Eles não vaiam a camisa do Boca por nada.

GE.Net: Lembra de alguma festa parecida em algum outro clube?
Iarley: Tem a Popular do Internacional, a Gaviões do Corinthians, as torcidas de Ceará e do Papão. Todos os times em que passei têm torcidas parecidas. A maneira de torcer deles é que é diferente da gente. Aqui, se você está ganhando, beleza. Mas se está empatando ou perdendo, fica mais complicado. Brasileiro está aprendendo a torcer ainda, aprendendo a não vaiar seu time. Mas não são menos fanáticos do que os torcedores do Boca, são muito parecidos.

GE.Net: Como acha que o Boca vai se portar neste primeiro jogo da final?
Iarley: Ah, vai com tudo para cima, é certeza. O Corinthians tem que fazer uma marcação forte, segura, mas não ficar só se defendendo. Eu me lembro que na primeira final de 2004, contra o Once Caldas, fizemos um abafa geral, só que o time deles era muito bom, bem certinho, muito sólido. Acabamos perdendo nos pênaltis porque foi 0 a 0 na ida e 1 a 1 na volta. O Corinthians tem que ter um pouco mais de cautela na Bombonera, mas sem abdicar de atacar. Tem que fazer uma marcação dura e um pouquinho adiantada.

GE.Net: O fato de o Boca ser hexacampeão e ter dez finais na história pode pesar? A camisa pode pesar?
Iarley: Não. Pesar, não. O que o Boca tem é uma maneira de jogar esse tipo de competição. O Corinthians tem que respeitar e acho que fazer parecido com o que fez o Paysandu, com uma marcação forte.

GE.Net: Vê alguma semelhança entre Boca e Corinthians?
Iarley: A semelhança é grande demais. São os times mais populares da Argentina e do Brasil. As duas torcidas são agressivas, chegam até a ser violentas. E os times são parecidos também no estilo de jogo muito pegado, com filosofias parecidas.

GE.Net: De que maneira você avalia sua passagem pelo Corinthians, em 2010? 
Iarley: O que vale mesmo é título, o que eu não consegui conquistar. Quando cheguei, encontrei um grupo meio que disperso, sem solidez. Teve mudança de treinador, a gente nunca tinha um time ideal. Coisa que o Tite conseguiu depois, no ano seguinte. Se eu estivesse presente, poderia ter ajudado muito mais. Mas foi um prazer muito grande ter jogado no Corinthians. Até hoje sou muito reconhecido nas ruas pelo torcedor. Só fiquei triste por não ter conquistado a Libertadores e nem mesmo o Brasileiro. Estava tudo nas nossas mãos. Mas a gente não tinha um time assim tão entrosado, houve mudanças.

GE.Net: Esperava ter recebido mais chances com o Mano Menezes na Libertadores?
Iarley: Sem dúvida. A gente sempre espera. Meu problema foi que, quando cheguei, era praticamente o titular da Libertadores. Aí fiz um bom jogo de estreia (na primeira rodada do Campeonato Paulista, fez o gol do empate por 1 a 1 com o Monte Azul) e logo em seguida machuquei o tornozelo. Só que tive uma decisão errada de continuar jogando com o tornozelo machucado, e meu rendimento caiu. Se eu tivesse parado, esperado curar, eu teria começado bem a Libertadores.

GE.Net: Tem acompanhado a campanha atual do Corinthians?
Iarley: Sim, direto. A diretoria do Corinthians foi muito feliz quando deixou o Tite no comando (após a queda para o Deportes Tolima, na fase preliminar da Libertadores de 2011). Ele teve mais tempo para trabalhar, montar o time, fazer com que o time tivesse rendimento na Libertadores. É fruto da confiança que ele recebeu do clube, da tranquilidade e do tempo que ele teve para trabalhar. Porque o problema eram as mudanças, as lesões. O Ronaldo mesmo não ficava em forma. Mais ou menos em forma ele fazia diferença.
GE.Net: Já conhecia o Ronaldo pessoalmente?
Iarley: O Roberto Carlos, eu conhecia de ter jogado junto no Real Madrid. Mas o Ronaldo... Meu Deus. Ele é melhor até fora de campo do que dentro de campo. O velho é dez, fenômeno mesmo em tudo. Ele nos respeitava demais, o trato comigo era de muito respeito. Foi um prazer ter trabalhado com ele.

GE.Net: Por fim, vai torcer por algum dos dois?
Iarley: É complicado. Tenho amigo nos dois lados. Qualquer um que ganhar vai me deixar feliz. São dois clubes pelos quais tenho carinho muito grande.

GE.Net: Tem amizade com alguém desse time atual do Boca?
Iarley: Com Schiavi, Clemente (Rodríguez), Battaglia... Outros ainda eram juvenis na minha época. Mas conheço também os funcionários, que são os mesmos, fisioterapeutas, a galera toda.

Fonte: Gazeta Esportiva

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