Era o quarto dia de festa nas ruas de Belo Horizonte e a certeza de que, desta vez, a volta olímpica teria a taça do Brasileirão. O Cruzeiro nem precisava vencer o Vitória-BA, em Salvador, para transformar a campanha assustadora no torneio em estrela dourada. O Tricampeonato já vinha com a derrota do Atlético-PR para o Criciúma. A vitória maiúscula de 3 a 1 diante do Leão confirmou, de uma vez por todas, quem deu as cartas na competição mais importante do Brasil.
Uma campanha histórica de um time que mostrou como o futebol deve ser jogado coletivamente e sem vaidade (ao contrário do que diz seu hino). Prova disso é que Dagoberto, reserva de rodadas atrás, foi o responsável por deixar Willian (seu concorrente) e Julio Baptista com a faca e o queijo na mão nos dois primeiros gols da Raposa. Às 22h58 desta quarta, Atlético-PR perdia no Sul e o vestiário celeste no Barradão foi ao delírio.
Todavia, ao contrário dos outros títulos do tricampeonato (1966 e 2003), o time de Marcelo Oliveira não teve um grande protagonista. Um dos indicados pode ser Fábio, que voltou a fazer, pelo menos, uma defesa que lhe dá merecimento de Seleção Brasileira. Mas Felipão está de olhos fechados…
EL BIGODÓN MARCA
A primeira etapa da partida começou morna e tudo indicava que o Cruzeiro estava relaxado com o jogo. O Vitória atacou mais, Marquinhos cansou de vencer Egídio na ponta esquerda do ataque baiano e só não marcou porque Fábio pegou uma bola à queima roupa. Além disso, o atacante Dinei errou um gol inacreditável.
Marcelo Oliveira preferiu colocar Leandro Guerreiro no lugar de Henrique, para a vaga de Nilton, e viu o time sofrer com buracos na marcação. O ex-cabeludo está na descida da carreira, definitivamente. Só que o bom de ter Dagoberto no elenco é que o jogador alia duas coisas importantíssimas no futebol: inteligência e técnica.
O camisa 11 celeste venceu a disputa com Victor Ramos na agilidade e encostou de leve para Willian sair na cara do goleiro Wilson. El Bigodón, que já havia feito um gol no jogo passado, contra o Grêmio, não desperdiçou o passe açucarado do companheiro e chutou reto, deslocando o arqueiro rubro-negro.
Mais perto do final da etapa, os jogadores celestes estavam preocupados mesmo em correr para o vestiário e ouvir o andamento de Criciúma e Atlético-PR (a partida começou 50 minutos antes e estava na metade do segundo tempo). Depois, ficou definido que ninguém mais poderia alcançar os azuis mineiros na tabela, faltando quatro rodadas para o final do Campeonato.
UM TIME IMPIEDOSO
Imagina voltar para mais 45 minutos de futebol sabendo que você conquistou algo após meses de trabalho e concentração? Foi o que ocorreu com os jogadores celestes. O Cruzeiro voltou ao gramado com a taça da CBF a caminho do Barro Preto (bairro da sede do clube em BH). O jogo programado para recebê-la diante do Bahia, no dia 1º de dezembro.
Tricampeões, com os ombros leves, os atletas de Marcelo Oliveira acabaram cedendo o empate. O Vitória tinha muita gana, já que briga por uma vaga na Libertadores. O time nordestino devolveu o gol na mesma moeda, aproveitando uma jogada em dupla e a desatenção da zaga. Dinei empatou na saída de Fábio, após recebe de William Henrique.
O jogo estava para o Vitória. Mas ser campeão brasileiro é ser um pouco sacana. Bastou uma jogada boa no ataque para o segundo gol celeste aparecer. Julio Bapstita recebeu livre de Dagoberto e só encostou para deixar o campeão na frente novamente. Ainda deu tempo de Ricardo Goulart deixar o dele e coroar mais uma vitória de visitante com um placar com sobras.
Ypiranga a Cruzeiro. 1942 a 2013. O time celeste, fundado por italianos, sempre teve uma forte capacidade de aliar-se aos símbolos da pátria, principalmente após a mudança de Palestra Itália. As cores não são por acaso, os nomes também não. E, agora, mais um título nacional para preencher a sala de troféus de uma das maiores equipes do mundo.
Antes contestado pela torcida, pelo passado atleticano, Marcelo Oliveira entra na galeria dos maiores treinadores do Cruzeiro e dá um passo gigante na carreira, entrando de vez na lista dos melhores da função em terras nacionais. Soube manter a filosofia do Coritiba e contou com uma diretoria totalmente focada no título, após anos de frustração.
Resposta àqueles que duvidaram do trabalho de Alexandre Mattos - jovem diretor de futebol que veio do América-MG - e Gilvan de Pinho Tavares, que assumiu após a Era-Perrella com graves problemas financeiros. Foi um ano de reconstrução em 2012 e a recompensa neste ano, no qual Minas Gerais mostrou que cota de TV não é sinônimo de títulos.
Agora, o pensamento da torcida está, primeiro, para mais uma grande festa em Belo Horizonte. Com direito a desfile em carro aberto na capital mineira nesta quinta-feira. Depois, é pensar no planejamento para 2014, ano de Libertadores com direito a possível encontro com o maior rival. Conquista merecida de um time consistente e um clube que fez história dentro do Brasileirão de pontos corridos, pelo segundo ano em 11 anos.
FICHA TÉCNICA
VITÓRIA 1x3 CRUZEIRO
Local: Barradão, Salvador (BA)Horário: 21h50 (horário de Brasília)Árbitro: Paulo Henrique Godoy Bezerra (SC)Auxiliares: Carlos Berkenbrock (SC) e Neuza Ines Back (SC)GOLS: Willian, 36'/1ºT (0-1); Dinei, 5'/2ºT (1-1); Júlio Baptista, 25'/2ºT (1-2); Ricardo Goulart, 35'/2ºT (1-3)Público/Renda: 27.168 pessoas/R$361.447,00Cartões amarelos: Juan, Victor Ramos e Willian Henrique (VIT); Borges e Willian (CRU)Cartão vermelho: Não teve Vitória: Wilson; Ayrton (Pedro Oldoni - 37'/2ºT), Victor Ramos, Kadu e Juan; Marcelo (Euller - 18'/2ºT), Cáceres, Renato Cajá (Willian Henrique - intervalo) e Escudero; Marquinhos e Dinei - Técnico: Ney Franco Cruzeiro: Fábio; Mayke, Dedé, Leo e Egídio (Everton - intervalo); Leandro Guerreiro e Lucas Silva; Willian, Ricardo Goulart e Dagoberto (Tinga - 26'/2ºT); Borges (Júlio Baptista - 19'/2ºT) - Técnico: Marcelo Oliveira.