O descarte de peixes mortos ainda é um problema no Brasil. É comum no País o procedimento de enterrar os peixes mortos na produção, gerando danos ao ambiente, com a contaminação dos solos, podendo chegar aos lençóis freáticos. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), realiza treinamentos em localidades de São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Santa Catarina para a produção de compostagem – usada para controlar a decomposição dos materiais orgânicos.
A APTA iniciou cursos teóricos e práticos para a difusão dessas tecnologias para pisciculturas em 2014. Até o momento já foram treinados aproximadamente 145 produtores de peixes, técnicos, estudantes, professores e pesquisadores de São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Além dos treinamentos, a APTA desenvolve pesquisas, para desenvolvimento de compostagens mais eficientes.
A pesquisadora da APTA, Rose Vidotti, explica que a compostagem orgânica é a única tecnologia indicada para a mortalidade natural nas diferentes fases de produção. Segundo ela, em uma produção de animais confinados, é normal que haja mortalidade, mesmo que mínima, e é necessário que o descarte seja feito de forma correta. “A compostagem é um processo biológico, aeróbio, termofílico e controlado, por meio do qual se consegue a humificação do material orgânico”, afirma.
Para a compostagem são utilizados materiais que se decompõem facilmente, como carcaças de animais, resíduos do processamento e esterco; os materiais aeradores e estruturantes, que se decompõem mais lentamente, como resíduo de madeira, bagaço de cana, palhas, casca de arroz, de café, poda urbana, dentre outros; e os materiais para “cama” e cobertura da biomassa, como poda de grama ou folhas secas. “Usamos esses produtos para simular o processo que ocorreria na natureza”, afirma Rose.
Quando realiza um curso, Rose viaja até o local cerca de 40 dias antes da data do evento para avaliar os produtos que serão utilizados para a produção da compostagem. “Sempre busco produtos que estão próximos ao produtor. Por exemplo, os galhos de árvores cortados, chamados de poda urbana, é um grande problema para as prefeituras e podemos usar para a produção da compostagem, reciclando mais um produto. As coberturas de folhas secas em diferentes estágios de decomposição em áreas de reflorestamento, denominadas de serrapilheira, também podem ser utilizadas”, explica.
Depois de montar as compostagens em camadas alternadas com os peixes mortos e esses materiais, o produtor terá um fertilizante orgânico para utilizar na produção de mudas de frutíferas, paisagismo, recuperação de áreas degradadas por pastagem e na produção de qualquer alimento, desde que ele não seja consumido in natura, como é o caso das hortaliças.
“A compostagem, desde que bem conduzida, não oferece dano algum ao solo e ao lençol freático, diferentemente do peixe morto enterrado. Obtendo-se um importante fertilizante orgânico que substitui outros produtos. Mas mesmo que seja necessária a complementação dos nutrientes, a compostagem é muito importante para o descarte correto da mortalidade dos peixes”, explica a pesquisadora da APTA.
Compostagem x silagem
Os resíduos do processamento de pescado também prejudicam o ambiente, se descartados de maneira incorreta. A APTA realiza trabalho de transferência de tecnologia em silagem, que pode ser usada para alimentação de suínos, aves e animais aquáticos, O princípio de conservação das silagens é a redução do pH, que pode ser obtido por meio da digestão ácida ou fermentação. As ácidas são obtidas pela adição de dois ácidos e as fermentadas, por uma fonte de microorganismo e uma de carboidrato.
“Cerca de 70% das tilápias processadas, por exemplo, são resíduos. Para produzir silagem, utilizamos os resíduos, constituídos de cabeça, carcaça, vísceras, pele e escama. A silagem de peixe é uma das formas de aproveitamento dos resíduos gerados na cadeia aquícola desde a produção, industrialização até a comercialização”, explica a pesquisadora.
Por Fernanda Domiciano
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