quinta-feira, 3 de março de 2016

Delcídio Faz Acordo de Delação na Lava Jato e Cita Dilma e Lula


Libertado há duas semanas, o senador Delcídio do Amaral, do PT do Mato Grosso do Sul, fez uma proposta para um acordo de delação premiada com os procuradores da Operação Lava Jato. Segundo a revista IstoÉ, em um documento de cerca de 400 páginas, Delcídio relata episódios graves que envolvem a presidente Dilma Rousseff pela primeira vez no petrolão e novas acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta fase, o delator expõe temas que pretende detalhar mais profundamente, caso sua proposta de delação seja aceita. O acordo depende agora de o ministro Teori Zavascki,do Supremo Tribunal Federal, concordar com os procuradores sobre o valor do que Delício tem a dizer e homologar sua delação.


De acordo com a revista, Delcídio disse aos procuradores que a presidente Dilma Rousseff atuou para tentar libertar empreiteiroMarcelo Odebrecht e Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Segundo Delcídio, Dilma pediu a ele que verificasse se o ministro Marcelo Navarro, que seria nomeado por ela, votaria pela libertação dos dois. "Tal nomeação seria relevante para o governo", porque Navarro cuidaria dos "habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ", diz o texto. Após a resposta positiva, Navarro foi indicado por Dilma para a vaga. Ele efetivamente votou pela soltura dos dois, mas foi vencido por 4 a 1. De acordo com a revista, Delcídio disse também que Dilma sabia de todos os problemas na compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006, que resultou em uma prejuízo superior a US$ 1 bilhão para a estatal. Segundo ele, Dilma também atuou pela nomeação de Nestor Cerveró, outro preso por corrupção na Petrobras, para a BR Distribuidora.



Delcídio relata também, segundo a IstoÉ, que o ex-presidente Lulapediu a ele que intermediasse um pagamento de R$ 50 mil mensais a Nestor Cerveró em troca de seu silêncio. Segundo Delcídio, Lula pediu "expressamente" que o senador ajudasse a silenciar Cerveró sobre o envolvimento de seu amigo, o pecuarista José Carlos Bumlai, acusado nas delações do lobista Fernando Soares, o Baiano. De acordo com Delcídio, foi também Lula quem mandou que o ex-ministro Antonio Palocci, em 2006, pagasse o pivô do mensalão, Marcos Valério, para que ele se calasse. O senador fala que o silêncio valeu R$ 220 milhões.


As palavras de Delcídio sobre Dilma podem, em última instância, configurar crime de responsabilidade. De qualquer forma, se forem confirmadas, as declarações podem mudar o patamar de Dilma na Lava jato. Até agora, a presidente aparecia como uma eventual beneficiária de recursos do petrolão em suas campanhas eleitorais. Delcídio acusa Dilma de ter atuado para tentar soltar réus presos e atrapalhar os resultados da operação. No caso de Lula, as acusações pioram muito sua situação. O ex-presidente pode deixar de ser investigado como beneficiário das empreiteiras, pelo apartamento triplex e pelo sítio, reformados por OAS e Odebrecht, e de tráfico de influência, para a posição de alguém que atuou para atrapalhar a investigação calando investigados. Tudo vai depender de a delação de Delcídio ser aceita e suas declarações confirmadas por futuras investigações.



Delcídio foi preso pela Polícia Federal no dia 25 de novembro do ano passado, acusado de tentar obstruir as investigações da Lava Jato. Em uma reunião com Bernardo Cerveró, filho do ex-drietor da Petrobras Nestor Cerveró, Delcídio tentou combinar o pagamento de uma mesada e a fuga de Cerveró do Brasil, caso ele fosse libertado. Delcídio queria calar Cerveró. Não deu certo. Cerveró permanece preso e Delcídio só foi solto no dia 19 de fevereiro. O ministro Teori Zavascki ainda precisa decidir se homologa ou não a delação de Delcídio. De acordo com a IstoÉ, o senador incluiu no acordo uma cláusula de confidencialidade de seis meses , que foi avalizada por procuradores da Lava Jato. A condição imposta pelo petista não foi aceita por Zavascki, que devolveu o processo à Procuradoria-Geral da República e concedeu um prazo até a próxima semana para exclusão da exigência. O senador queria os seis meses para tentar escapar de um processo de cassação no Conselho de Ética do Senado.

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