O ano é 1990, então com 22 anos, decidi que era hora de bater asa e sair pelo mundo. Não tinha dinheiro e nem profissão definida, mas para alguém criado na labuta da lavoura, tratando de gado, subindo em caminhão ás 4 horas da manhã, ralando durante todo o dia, "catando milho" ou "apanhando algodão" e a noite descendo do caminhão e ir direto para a escola, ainda com a unha suja de terra, sentando em uma cadeira para estudar, chegando em casa a meia noite para jantar e esperar a hora de subir novamente no caminhão de pau de arara, o que viesse seria lucro. Olhei no mapa e uma cidade que dizia ter o maior rio de água thermal do mundo me chamou a atenção. Pronto havia escolhido, Caldas Novas seria meu destino. Assim que cheguei, encontrei um cidade turística, bucólica e acolhedora. A primeira providência foi procurar emprego. Havia um teste para locutores esportivos na Rádio Pousada do Rio Quente. Por ser filho de um radialista, Carlos Fernandes, decidi fazer o teste e tentar seguir os passos do meu pai. Mauro Rodrigues era o chefe da equipe de Esportes da Rádio Pousada do Rio Quente. Vários cronistas se apresentaram para o teste, alguns já com experiência em outras emissoras. Quando perguntado se eu tinha experiência em falar ao microfone, claro que a resposta foi afirmativa. Tinha a experiência de pegar um microfone e ir para os campos de terra em Itumbiara e ficar narrando as partidas em um gravador quadrado de fita cassete. Pronto, iria fazer o teste, mas para minha surpresa o teste já seria ao vivo, no estúdio da emissora, durante o programa de esportes. Lembro como se fosse hoje, embora já tenha passados 22 anos, comecei a falar e no primeiro erro, as palavras sumiram e não sabia o que falar mais. Fui socorrido por Mauro Rodrigues que me deu o primeiro conselho: "Quando errar não se intimide pelo erro, não tenha medo de errar, continuei tentando até fazer bem feito". Pronto, 15 dias depois eu já estava fazendo minha estreia no microfone em uma narração de jogo do campeonato brasileiro entre Goiás e Vasco no estádio Serra Dourada. Naqueles época o programa de maior audiência da Rádio, era o programa de um moço de pele clara e cabelos loiros longos que literalmente parava a cidade. Lembro que as pessoas fazia compromissos para antes e depois do programa, mas na hora do programa todos estavam com seus rádios ligados, seja em casa, no comércio, nas fazendas ou no carro. Aquele moço tinha o dom da comunicação e o usava para ajudar as pessoas mais carentes. Lembro-me bem que todos os sábados, se formava uma enorme fila de famílias carentes em frente a emissora que era cadastradas pelo comunicador que durante a semana saia pelas fazendas pedindo doações de leite. Esse leite era levado pelos próprios fazendeiros e distribuídos de graça para a população carente. Construí uma história em Caldas Novas, trabalhando como recepcionista do Hotel Morada do Sol e estudei no Colégio Estadual Caldas Novas, onde fui o fundador e primeiro presidente do Grêmio Estudantil. Fui convidado a trabalhar na Secretária de Cultura e Turismo de Caldas Novas, tendo como mentor o professor Álvaro Catelan. Fui o criador do primeiro jornal em formato Stand de Caldas Novas, "Folha Popular". Participei da geração que instituiu o futebol em Caldas Novas através das mãos de Gefferson Aragão. Acabei sendo repórter daquele comunicador e iniciamos uma longa amizade. O tempo passou, segui minha vida e construí uma carreira de muitas realizações que incluíram coberturas de seleção brasileira e 3 copas do mundo. Trabalhei ao lado dos maiores nomes da imprensa brasileira e tive oportunidades de entrevistar todos os grandes jogadores nas últimas duas décadas. Incluído Pelé, Maradona e cia. Depois de 22 anos Caldas Novas e outra cidade. Uma cidade transformada em uma metrópole, com enormes edifícios e um transito intenso. Mas ao mesmo tempo parece ser um cidade que está começando agora. Com novos empreendimentos, o futebol ressurgindo e aquele moço que foi engraxate quando menino e passou toda a dificuldade que a vida pode proporcionar a uma pessoa, e superou tudo graças ao seu talento como maior comunicador da história do rádio de Caldas, também cresceu com a cidade. Virou um político importante. É deputado estadual pelo segundo mandato e se prepara para assumir a prefeitura pela terceira vez. Ele é mais que um vencedor, pois saiu do nada e hoje pode sentar á mesa com os maiores empresários e autoridades do estado e do país, mas continua o mesmo amigo de sempre. Agora mais experiente, com mais sabedoria, com mais poder, mas com a mesma humildade ao ponto de sentir-se á vontade tomando um café feito na panelinha preta do fogão a lenha e sentando em uma cadeira surrada de uma casinha humilde, para conversar de igual pra igual com seu semelhante. Isso não é demagogia e sim algo interior de alguém que subiu na vida mas não deixou o sucesso subir na sua cabeça. Não se esqueceu de suas origens. Deve ser por isso que nas pesquisas ele tem 46% de vantagem sobre o seu adversário. Caldas Novas é uma cidade que tem um passado com muitas histórias e me traz muitas recordações. Uma delas é a abertura do programa de maior audiência da história de Caldas Novas que está registrada na minha memória: "Boa tarde trabalhador rural, boa tarde trabalhador da cidade, boa tarde estudante, boa tarde dona de casa, boa tarde Caldas Novas. Pela Rádio Pousada, estamos começando o programa EVANDRO MAGAL".
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