O Posto T-10 foi acusado pela Polícia Federal de receber recursos das
empresas de fachada Brava Construções e Alberto & Pantoja, ligadas a
Carlinhos Cachoeira. As duas, por sua vez, receberam repasses da Delta
Construções. O estabelecimento fez doações para campanhas eleitorais ao mesmo
tempo em que forneceu a parlamentares notas fiscais para reembolso do
Congresso, a título de verba indenizatória, que totalizam R$ 381,5 mil. O valor
é referente a pagamentos dos últimos três anos.
Do total, R$ 133 mil foram apresentados pelo senador Demóstenes Torres
(DEM-GO). Os gastos do senador goiano tornaram o posto um dos 20 maiores
prestadores de serviço do Senado Federal desde abril de 2009, mês em que
começou a ser divulgado o inteiro teor das notas fiscais entregues pelos
senadores.
Nas eleições de 2010, Demóstenes recebeu doação de R$ 32,6 mil do posto,
dinheiro que teria como origem a Construtora Delta, no entendimento da Polícia
Federal. As relações de Demóstenes com o posto vão além da doação e dos gastos
com a verba indenizatória. Em 2010, o senador também apresentou notas fiscais
do posto para prestar contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de R$ 165,3
mil que teriam sido gastos na sua campanha.
Na Câmara dos Deputados, dois parlamentares apresentaram as maiores
notas com grandes valores do posto desde 2009, ano em que a Câmara também
começou a detalhar em seu portal a destinação da verba extra para o exercício
do cargo: Jovair Arantes (PTB-GO) apresentou notas do Posto T-10 que totalizam
R$ 140,4 mil e Sandro Mabel (PMDB-GO) apresentou notas que somam R$ 103,8 mil.
Outros cinco deputados federais também informaram à Câmara ter gastado
no posto no período, um total de apenas R$ 4,2 mil.
Se considerada a distância média percorrida por um veículo com um tanque
de gasolina (cerca de 400 quilômetros), o dinheiro gasto pelos três
parlamentares no Posto T-10 nos últimos três anos daria para cada um deles
percorrer todos os meses pelo menos 2,5 vezes o trajeto do Oiapoque (AP) ao
Chuí (RS), pontos extremos do Brasil.
A verba indenizatória é prevista por lei e permite que cada senador ou
deputado federal receba de volta até R$ 180 mil por ano em gastos com gasolina,
alimentação, aluguel de imóvel ou veículo, hospedagem, consultoria e
comunicação.
— Não vejo qualquer problema nos pagamentos feitos ao posto, era onde os
abastecimentos eram realizados — justificou o advogado de Demóstenes Torres,
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
O advogado informou que não comentaria as relações, denunciadas pela
Polícia Federal, entre a Construtora Delta, empresas de fachada de Carlos
Cachoeira, o posto e Demóstenes, por entender que se trata de informação vazada
de inquérito sigiloso.
— Não podemos falar sobre algo que consideramos inconstitucional — disse
Kakay.
Perguntado sobre os valores e as circunstâncias em que ocorreram as suas
despesas no posto, o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) alegou que as notas se
referem a gastos efetuados por assessores do seu mandato em Goiânia. O
parlamentar informou que eles abastecem há muitos anos ali e que nunca colocou
gasolina em seu carro no local.
— Não tem nada suspeito nos nossos abastecimentos, o posto está
localizado a poucas quadras do meu escritório político. Há uns oito anos o dono
apareceu lá e pediu para a gente abastecer no posto dele. Não tem nada errado
nisso — disse o deputado.
A assessoria do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) informou que não era
possível localizá-lo na sexta-feira passada para comentar os gastos no posto
citado porque ele estaria em viagem pelo interior de Goiás.
Um dos sócios do Posto T-10, José Eustáquio Barbosa, negou haver
irregularidade envolvendo o abastecimento de veículos dos parlamentares.
— Não há nada ilegal, irregular. Não transferi dinheiro para ninguém. Eu
vendo gasolina. Nunca vi o Carlinhos Cachoeira — disse Barbosa.
Ele, no entanto, admitiu ser amigo pessoal de Demóstenes desde a década
de 1980 e ter feito doação para a sua campanha, em 2010.
— Os parlamentares abastecem aqui porque o posto tem uma localização
estratégica. E mais: a minha doação ao Demóstenes foi informada à Justiça
Eleitoral — afirmou.
O Globo
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