quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O Pregão de Meio Milhão em Publicidade Volante Que Ninguém Explica em Fazenda Nova

Superestimação absurda de horas, contratação suspeita e um edital feito sob medida acendem alerta sobre a gestão Marcos Vinícius

Há prefeituras que precisam de carro de som.

E há prefeituras que parecem precisar de um exército de carros de som — pelo menos é o que sugere o Pregão Presencial nº 014/2025, lançado pela Prefeitura de Fazenda Nova.


A licitação, assinada pela gestão do prefeito Marcos Vinícius Azeredo Costa (União Brasil), estima nada menos que R$ 547.866,67 para serviços de publicidade volante — o popular carro de som — ao longo de 2025.

Meio milhão de reais.

Para um município com pouco mais de 6 mil habitantes.

Mas isso é apenas a porta de entrada para uma sequência de inconsistências que transformam o edital em um manual de como não gerir o dinheiro público.


Horas estimadas: um delírio matemático

O edital prevê 6.633 horas de publicidade volante.

Para entender o tamanho do absurdo:

  • 6.633 horas equivalem a 276 dias rodando 24 horas por dia, sem parar.
  • Ou, em horário real de trabalho (8h/dia), seriam 829 dias úteis.
  • Ou seja: mais de dois anos de serviço num contrato previsto para apenas um ano.

A conta não fecha.

Na verdade, ela nem deveria existir.

Essa superestimação — prática conhecida e constantemente condenada pelo Tribunal de Contas da União — abre brecha para:

  • superfaturamento,
  • contratação fictícia,
  • execução impossível de fiscalizar,
  • e amplas margens para uso político da máquina pública.

Num município do porte de Fazenda Nova, o valor e as quantidades simplesmente não têm aderência à realidade.


Carro de som como ferramenta política?


Estamos em 2025 — o ano imediatamente anterior ao calendário eleitoral nacional.

E, se há algo que prefeitos historicamente adoram, é transformar carro de som em:

  • propaganda institucional disfarçada,
  • exaltação de obras mínimas,
  • promoção pessoal de gestor,
  • e, claro, pré-campanha não declarada.

O edital não impõe regras para:

  • finalidades das mensagens,
  • tipo de conteúdo permitido,
  • limites de uso,
  • critérios de controle.

Na prática, o prefeito ganha um cheque em branco para rodar a cidade inteira com o carro de som que ele quiser, falando o que quiser, quando quiser — e a conta fica para o contribuinte pagar.

Edital com cheiro de direcionamento

A estrutura burocrática do pregão chama atenção:

  • Exigências documentais excessivas,
  • Credenciamento restritivo,
  • Declarações separadas em envelopes distintos,
  • Rigor apenas formal,
  • Ausência de exigências técnicas reais.

Esse modelo não serve para garantir lisura.

Serve para eliminar concorrentes indesejados.

O edital não exige:

  • frota própria,
  • atestado de capacidade técnica,
  • experiência prévia,
  • comprovação de equipamentos adequados.

Traduzindo: qualquer empresa recém-criada por um aliado político pode vencer.

É o terreno perfeito para:

  • CNPJs de fachada,
  • empresas de amigos,
  • sócios ocultos,
  • prestadores ligados politicamente ao prefeito.


Termo de Referência insuficiente e ausência de critérios objetivos

A Lei 14.133/21 exige:

  • estudo técnico,
  • planejamento,
  • justificativa de quantitativos,
  • critérios claros de fiscalização.

Mas o Termo de Referência da Prefeitura de Fazenda Nova não fundamenta nada:

  • Não explica por que são necessárias 6.633 horas.
  • Não justifica frequência ou rotas.
  • Não define metodologia de comprovação do serviço.
  • Não detalha necessidade das secretarias.
  • Não fixa limites máximos por período.

Sem essas informações, o contrato fica impossível de auditar.

É exatamente assim que contratos de publicidade sonora se transformam em um dos ralos clássicos de dinheiro público.


Responsabilidade direta do prefeito Marcos Vinícius

Marcos Vinícius, advogado e empresário, está no comando de um processo que:

  • viola princípios constitucionais,
  • afronta a Lei 14.133/21,
  • apresenta potencial dano ao erário,
  • abre margem para direcionamento,
  • e pode configurar uso eleitoral indevido da máquina pública.



É importante lembrar:


O decreto-lei 201/67 e a Lei de Improbidade responsabilizam o agente público mesmo se o dano não se consumar — basta o risco.


E aqui o risco não é pequeno.

É gritante.





⚠️ 

O silêncio do edital grita mais que suas cláusulas



Quando um edital:


  • estima mais horas do que o ano comporta,
  • não justifica quantidades,
  • não define fiscalização,
  • não exige critérios técnicos,
  • e ainda estrutura barreiras inauditas ao acesso de concorrentes,



não estamos diante de incompetência.


Estamos diante de uma engrenagem cuidadosamente montada.





📝 

O que o Ministério Público precisa responder



Este pregão deixa perguntas inevitáveis:


  1. Por que Fazenda Nova precisa de meio milhão de reais em carro de som?
  2. Quem solicitou 6.600 horas de serviço? Qual secretaria? Com qual justificativa?
  3. Como será comprovada a execução?
  4. Qual o histórico da empresa vencedora?
  5. Quantas empresas tentaram participar e foram eliminadas por formalismo?
  6. Há conexão política entre sócios da empresa vencedora e a gestão municipal?
  7. Este contrato será usado para publicidade institucional ou para autopromoção do prefeito?



O Ministério Público tem base suficiente para:


  • instaurar Notícia de Fato,
  • requisitar o processo completo,
  • auditar quantitativos,
  • avaliar superfaturamento,
  • verificar vínculos de empresas,
  • e, se necessário, recomendar suspensão da Ata de Registro de Preços.






🧨 

Conclusão: o carro de som de Fazenda Nova está alto demais — e não é por acaso



A população precisa perguntar:


Quem ganha com esse pregão?

Certamente, não é o cidadão.


Fazenda Nova não precisa de 276 dias de carro de som.

Não precisa de R$ 547 mil em propaganda volante.

Não precisa de licitações sem critérios.


Precisa de transparência.

Precisa de responsabilidade.

Precisa de fiscalização.


E, diante deste edital, precisa — urgentemente — de respostas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário