O rolo da licitação de lavanderia que terminou na morte de Fábio Escobar

O jornalista Ernani de Paula, que foi prefeito de Anápolis no início da década passada, chegou ao Fórum local com documentos que, segundo ele, comprovariam o que ia dizer no depoimento. A papelada, disse várias vezes, mostrava as ligações do atual prefeito, Roberto Naves, com o policial militar que teria matado na cidade o empresário Fábio Escobar e o fazendeiro Luiz Carlos Ribeiro.

O ex-prefeito diz que Fábio Escobar, assassinado em junho de 2021, era sócio oculto de uma lavanderia, a Têxtil Med, que em 2019 ganhou licitação para cuidar das roupas de hospitais do município na gestão do prefeito Roberto Naves. Segundo Ernani, “a lavanderia vive às custas da Prefeitura de Anápolis e Fábio recebia do contrato 50 a 60 mil reais por mês”.

Entre os documentos levados por Ernani estaria a lista de policiais integrantes do chamado Banco de Horas da Prefeitura, escolhidos pelo prefeito. Eles recebem dinheiro do município para trabalhar além do horário previsto pela corporação. Um dos policiais era o terceiro sargento Welton da Silva Vieiga, que segundo a Polícia Civil foi quem assassinou Fábio Escobar e o fazendeiro Luiz Carlos Ribeiro, morto em dezembro de 2022. Por trás das duas tragédias, segundo o ex-prefeito, estaria o atual, já em fim de segundo mandato, Roberto Naves.

De acordo com o ex-prefeito, “Fábio fez o trabalho político junto a Roberto Naves para ganhar o contrato, em sociedade com Guilherme Elias, que tinha 18% da Têxtil Med”. No início, narrou Ernani no depoimento, a “relação de Fábio Escobar com Roberto Naves era de quase irmãos. O Roberto tinha muita confiança no Fábio, que acreditava muito no Roberto”. Mas a convivência comercial teria deteriorado a relação. Durante a audiência, Ernani leu print de conversa de 2020 entre Fábio e Roberto. Nela, o empresário reclama do prefeito com termos duríssimos. “Fábio falou para mim”, contou Ernani, “que ia vender a parte dele na lavanderia por 500 mil reais”. Não houve tempo, foi morto antes.

Também na temporada de depoimentos, a viúva de Escobar, Jéssica, disse que continua a receber parte do faturamento da Têxtil Med, que não estava em nome de seu marido nem está no dela. A verba mensal que Jéssica tira da lavanderia, como parte da comissão que seu falecido esposo ganhou na licitação da prefeitura, está entre 10 e 20 mil reais por mês, segundo disse em juízo. 

Quanto ao fazendeiro, ainda segundo Ernani, “era laranja do prefeito Roberto Naves numa fazenda em Porangatu”. Welton morreria numa suposta troca de tiros com a Polícia Civil em janeiro de 2023.

O depoimento de Ernani de Paula faz parte da fase de audiências na Justiça, em apuração à morte de Fábio Escobar. Suas palavras foram ditas perante o juiz de Direito Samuel João Martins, que faz parte do colegiado de três magistrados do caso, incluindo ainda Georges Leonardis Gonçalves dos Santos e Nathália Bueno Arantes da Costa. Ernani respondeu também às perguntas dos promotores de Justiça que compõem o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado e a Valério Luiz Filho, assistente de acusação contratado pelo ex-vereador anapolino José Escobar, pai de Fábio Escobar, e aos advogados Demóstenes Torres, Thiago Costa, Rosângela Magalhães, Thales Jayme, Maurício Cardoso, Luiz Inácio Medeiros e Jorge Caiado Filho.

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