A China é a principal parceira comercial do Brasil desde 2009, quando superou os Estados Unidos.
Mas ao contrário do que se pensa a China não se limita tão somente a importar os produtos do Brasil. Ela foi muito além disso. Por décadas o Brasil procurou empresas chinesas para investir pesado em infraestrutura no Brasil, principalmente energia. Empresas chinesas ganharam todos os leilões que participaram.
A China foi além, empresas chinesas passaram a comprar empresas produtoras no Brasil.
Com o passar dos tempos, a matriz energética do Brasil passou a pertencer a empresas chinesas. Com um detalhe, toda grande aquisição da China no Brasil, por empresas chinesas, só foi autorizada com a inclusão de um membro do governo Chinês na administração das empresas.
A China hoje ela não apenas compra alimentos do Brasil, mas também produz em grande escal no Brasil.
Desde então, vem comprando cada vez mais, sendo o principal destino de produtos brasileiros.
Como compra muito mais do que vende para o Brasil, o gigante asiático contribui para manter o saldo comercial brasileiro no azul — o chamado superávit (quando exportações superam importações).
De janeiro a outubro, por exemplo, a China, que comprou 10% a mais do Brasil em relação ao mesmo período do ano passado e respondeu por 65% do superávit comercial brasileiro (US$ 30 bilhões dos US$ 47 bilhões).
Há quase dez anos, em 2011, essa taxa era de 39%, segundo o Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da FGV/IBRE.
A China respondeu por 30% do valor exportado pelo Brasil neste ano. Já os EUA de Donald Trump, com quem o governo brasileiro tem maior afinidade ideológica, apenas 10% do total, queda de 30% ante a 2019.
Ou seja, nossa dependência em relação à China aumentou.
Mas a China também ficou mais dependente das matérias-primas brasileiras.
Para abastecer seu imenso mercado interno, o apetite do gigante asiático por produtos como soja, carne, minério de ferro, açúcar e celulose cresceu — e o Brasil ganhou espaço frente à concorrência internacional como provedor desses recursos.
A isso se deveu uma combinação de fatores, entre os quais nossa capacidade de produção agropecuária, a forte desvalorização do real — de cerca de 40%, que deixou as matérias-primas brasileiras mais baratas no mercado internacional — e os atritos entre China e Estados Unidos, durante a Presidência de Trump.
"De fato, a China depende do Brasil em alguns setores específicos, como é o caso muito marcadamente da soja e das carnes. Mas na verdade isso se deu por causa de um cenário externo que favoreceu o Brasil, porque nossos concorrentes começaram a sofrer retaliações políticas da China, como foi o caso dos EUA", diz à BBC News Brasil Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
"Então, foi muito mais uma lógica de ocupação de espaço do que necessariamente um desenvolvimento da relação comercial do Brasil com a China", acrescenta.
Um dos exemplos mais emblemáticos é a soja.
De janeiro a outubro, os embarques de soja brasileira à China chegaram a quase 60 milhões de toneladas, alta de 18% em relação ao mesmo período no ano passado.
Apenas em setembro, a soja brasileira chegou a abocanhar 75% de todas as importações de oleaginosas pela China, enquanto a soja americana, nossa principal concorrente, ficou com apenas 12%.
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