domingo, 12 de fevereiro de 2012

Vasco Entra em Parafuso com Saída de Rodrigo Caetano


Rodrigo Caetano Foto Marluci Martins (EXTRA)

Coincidência ou não, depois que Rodrigo Caetano atravessou o Túnel Santa Bárbara e trocou São Januário pelas Laranjeiras, o Vasco mudou. A concentração virou ponto de encontro facultativo, problemas internos vieram à tona. O diretor executivo do Fluminense não chega a dar de ombros para a reviravolta, mas hoje, no Engenhão, seu coração baterá pelo Tricolor.
O destino, porém, levará Rodrigo a São Januário justamente no seu aniversário. Ele completará 42 anos em 18 de fevereiro, na fervura de um Fluminense x Bangu, no estádio que tão bem conhece. Foram três anos ali. Mas hoje é dia de viver o encontro entre o passado e o presente. No Engenhão.
O Vasco tinha estádio, mas enfrentava dificuldades financeiras. E o Fluminense tem bom patrocínio, mas não tem estádio. O que é melhor?
Eu não gostaria de comparar. Só tenho a agradecer ao Vasco. Tenho que agradecer também o convite que tive para trabalhar no Fluminense, o primeiro clube que me procurou após minha saída do Vasco. O Fluminense não tem estádio, mas tem o melhor e maior patrocínio do Brasil.
O que achou da crítica da Patricia Amorim ao Flu na briga por Thiago Neves?
Ela tinha que ter negociado com o Al-Hilal de forma mais competente. O atleta não pertencia ao Flamengo. O Flamengo perdeu um prazo de opção de compra. O Vasco tinha a opção de compra do Bernardo até 30 de dezembro. Se não fizesse o pagamento nesse prazo, qualquer clube poderia entrar e negociar com o Cruzeiro.
Deixou amigos no Vasco?
Ricardo Gomes é um cara fino. Um dos maiores amigos que fiz no futebol. Devo visitá-lo antes do carnaval. Ele me ligou quando vim para o Fluminense. Tenho certeza de que deixei amigos. O convívio foi bacana, de reconstrução.
Tem mágoa do Roberto Dinamite?
Não. Ele está certo quando diz que o trabalho não tem que ser personalizado. Tudo foi construído por uma equipe. O líder maior era o presidente. Depois, no futebol, era o Mandarino.
Você virou uma grife. Foi apresentado no site oficial do Fluminense e a torcida do Vasco já gritou o seu nome...
É o reconhecimento. O Celso (Barros) disse recentemente que deveria ter contratado um diretor executivo há mais tempo. Não que o Branco não fosse um... Mas nenhum clube vislumbra caminhar sem um profissional na estrutura organizacional.
Quando estava no Vasco, você defendia a realização de clássicos em São Januário. E agora? O jogo contra o Fluminense será no Engenhão...
(Risos) Para efeito de estatuto do torcedor, o Vasco aparece como mandante, porém o regulamento do Estadual diz que o jogo deve ser em campo neutro.
Posso voltar a te perguntar isso no Brasileirão?
Lá na frente, então, eu respondo (risos).
Por que no ano passado, quando você estava no Vasco, os jogadores concentravam sem receber salário, e, agora, andaram se recusando?
Vou me abster dessa. Até porque, minha forma de fazer gestão nunca foi imposta.
Já engoliu sapo?
Tem uns que não passam. É preciso ter inteligência emocional. Refletir para reagir na hora certa. É uma virtude. Ainda tenho que evoluir esse lado. Preciso ser maleável.
É a favor do fim da concentração?
Aqui no Brasil, não. Acho que a melhor função da concentração é proteger os atletas. Acho que é prejudicial um jogador não concentrar ou o clube entender que isso é razoável. Hoje em dia, você tem inúmeras ferramentas, câmeras, twitter... E se o torcedor joga no twitter que viu o jogador em tal lugar? Costumo dizer que no futebol deve-se ter muito cuidado. Aprendi lá atrás duas expressões: as questões relativas ao departamento de futebol são de economia interna, e notícia no futebol é que nem travesseiro de pena. Depois que estoura, você sai catando as penas, mas não consegue juntar todas elas, não.
Você proíbe o Twitter?
Não posso proibir, mas aconselho. A gente pede que nada relativo às atividades seja divulgado nas redes sociais dos atletas. Pedimos que, se utilizarem a ferramenta, saibam preservar a sua imagem.
E se os jogadores do Fluminense decidirem um dia não concentrar?
Não vou trabalhar com essa hipótese porque não é nosso cenário.
Não estou falando sobre salário atrasado, mas sobre a hipótese de a moda pegar...
Eu conversaria. Acredito muito na conscientização. E já fui um deles. No ano que vem, faz dez anos que estou nessa função (de dirigente), mas faz também dez anos que me retirei dos campos. Conheço o outro lado. Isso facilita.
Como jogador, você não brilhou. Mas era um líder?
Eu era meia-esquerda. Fui mais coadjuvante do que protagonista. Sempre fui capitão dos times em que joguei. Era responsável pela caixinha.
Como jogador, fez seu time desistir de algum protesto?
Sempre achei que o melhor era aumentar a dívida do clube conosco. De que forma? Ganhando os jogos e mostrando mais trabalho. Sempre defendi essa tese.
Você contratou o Rodolfo e o Thiago Feltri para o Vasco. Mentiu para eles, dizendo que o salário estava em dia?
Não, não. E ainda disse a eles que havia a chance de eu sair. Mas muitos dos jogadores do Vasco vão encerrar seu ciclo lá na frente. Negociações, venda... Exemplos: Dedé, Fagner, Rômulo... E a remontagem é difícil. É preciso ter do seu lado um aporte financeiro ou credibilidade. Lá no Vasco, isso foi construído tijolinho por tijolinho. E uma notícia dessas (salário atrasado) mexe com a credibilidade. Acho que eu era muito chato em fazer com que as coisas acontecessem. Lá, foram três anos de reconstrução de credibilidade da imagem. É aquela história do travesseiro... Você vai catando, mas as penas já estão no chão. Você não consegue.
Então, se o salário atrasa e a credibilidade fica arranhada, por que Rodolfo e Feltri aceitaram?
Mas não havia esse histórico. Atrasava, sim, mas nós reuníamos o pessoal no vestiário, botávamos a cara, dizíamos que o salário não sairia. Eu me sentia mal em desviar e fingir que nada acontecia. Eu não desvio, não.
Já tirou dinheiro do bolso para ajudar funcionário do Vasco?
Não gostaria de responder (emociona-se). É... A vida é assim. Tem coisa que não dá para responder. É difícil depois de sair, ouvir... Sei de muita coisa que a gente fez lá...
Por que saiu?
Foi uma série de fatores, entre as quais, um desgaste natural. Algumas coisas deveriam ser modificadas, mas acabaram não acontecendo. Não quero personalizar nada disso. Sou grato ao Vasco.
Fala com o Roberto?
Encontrei-o no lançamento de uma emissora de televisão. Ele foi educado.
Dizem que você saiu porque estava insatisfeito com a bagunça da base.
Jamais vou me pronunciar a respeito disso. Só agradeço. Vamos deixar assim.
Você não mexia com a base, certo?
Não, mas deveria.
Como será o reencontro com o Vasco?
Espero que seja uma reação de reconhecimento ao meu trabalho. Espero que o Fluminense vença, até porque está precisando mais, nesse momento. É isso.
Reportagem: Jornal extra

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