sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Enterrado, caso Cachoeira volta sem força e novidades

Matéria publicada pelo jornal Diário da Manhã, desta sexta-feira, 19 de setembro

Polêmica também envolveu Iris, irmão de Antônio Gomide, governadores, 
petistas e acabou em seis páginas de um relatório que não indicia ninguém

A menos de 20 dias das eleições, em Goiás, o que seria uma bomba da oposição tornou-se traque. O uso eleitoral do Caso Cachoeira/Delta Construções não rendeu até agora potencialidade de votos nem mesmo confiança do eleitorado.  O assunto entrou novamente na campanha, após o ex-governador Iris Rezende (PMDB) ter atacado o polêmico empresário em eventos políticos no interior e nos programas eleitorais que vão ao ar na TV e no rádio. Não bastou que as menções ao nome de Carlos Cachoeira chegassem até a Capital para que fosse publicado recentemente no DM um artigo em que o empresário ameaça Iris de trazer à tona informações que desagradem o peemedebista.

Desde sua ocorrência, o assunto peregrinou em uma ou outra rede social, mas não dá mais Ibope. E o motivo é um só: a Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) que apurou o envolvimento de Cachoeira com uma rede de políticos rendeu um relatório de poucas páginas, que não conseguiu provocar condenações, muito menos acoplar provas verossímeis.

Ficou tanta gente de fora da investigação que ela entrou em descrédito. A CPI é hoje um exemplo de fiasco e dilapidação de dinheiro público para fazer seis páginas digitadas. Após dois anos, e gastos na ordem de R$ 10 milhões, é possível perceber que Caso Cachoeira surgiu por três motivos claros. Informam fontes de bastidores, imprensa que acompanhou as sessões da CPI e políticos sua tripla função: retirar o ex-senador Demóstenes Torres da vida pública. Punir o governador Marconi Perillo (PSDB), que primeiro denunciou para Lula a existência do mensalão. E, por último, rivalizar no noticiário com o julgamento do mensalão – que condenou a alta cúpula do PT, deixando livres de prisão apenas Lula e Luis Gushiken, além de Silvio Pereira, que fez um acordo com a Justiça para prestar serviços em vez de ser preso por formação de quadrilha.

A operação que envolveu Cachoeira começou em 29 de fevereiro de 2012: ano em que iniciariam as condenações do caso Mensalão. Sob orientação da Polícia Federal, uma equipe prendeu o bicheiro goiano. Imediatamente, seria divulgada uma lista de políticos e personalidades que supostamente participavam de seus esquemas.

A operação rendeu oito meses de apurações. Demóstenes Torres, cotado para estar hoje na disputa à presidência contra Dilma Rousseff (PT), se despediu do Senado, após ter o mandato cassado.  Uma rede dentro do governo abastecia a imprensa de forma ilícita com informações públicas. E reportagens divulgavam os recortes cirúrgicos realizados pela Polícia Federal – que seria desmascarada apenas um ano e meio depois com o livro “Assassinato de Reputações”, do delegado Romeu Tuma Jr.

O teatro montado criou dois mocinhos (Odair Cunha e PF) e uma lista de bandidos (Demóstenes Torres, políticos da oposição ligados a Cachoeira e depois a empresa Delta). Durante a CPI, os indícios de que a investigação seria um teatro para pegar apenas os peixes-alvos do PT, foram dados logo no começo:  o deputado petista Cândido Vaccarezza (PT-SP) mandou um torpedo de celular para o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em um dos maiores flagrantes do jornalismo político brasileiro de armação e desconsideração:  "A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)". O texto enviado por Vaccarezza, que fazia parte da comissão, demonstrava que o grupo desejava pegar apenas desafetos do PT e não aliados.
Tanto é verdade que Sérgio Cabral, de fato, foi poupado, apesar de indícios de relacionamento com a empresa Delta Construções. Logo de início, os arquitetos da CPI conseguiram a primeira vitória. 

Procurador de Justiça, articulado, civilizado, só Demóstenes Torres arrasava com o discurso de Dilma Rousseff. Cotado para tudo, Demóstenes estava na lista dos melhores políticos do país em 2010 e 2011. Em 2012, foi mandado para o inferno, para alegria de Dilma e Lula – principais alvos dos discursos bem articulados de Demóstenes.  A cassação era puramente política, sem citar um artigo de lei penal ou cível que justificasse a expulsão do parlamentar do Congresso Nacional. O argumento é o impreciso ‘decoro parlamentar’: o mesmo grupo que expulsou Demóstenes Torres manteve, por exemplo, Renan Calheiros, inclusive da alta cúpula da casa.

Dois anos depois, nada de concreto também para Marconi: a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), relatada pelo fraco deputado federal Odair Cunha (PT), não trouxe à tona uma única prisão.  Ao contrário, o livro “Assassinato de Reputações”, do ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr, diz que a CPI tinha como alvo Perillo e não petistas - que estavam atrelados, por exemplo, a empresa Delta Construções, cujo consultor era o ex-ministro José Dirceu, braço direito de Lula.
A Delta entrou por acaso nas investigações. Mas logo que se percebeu a penetração da empresa, por exemplo, tentou-se acabar com a CPI.  Chegou a ser notícia nacional, conforme se observa no site da Veja, o fato do coordenador da campanha de Iris Rezende, em 2010, Sodino Vieira, ter recebido R$ 2 milhões da organização ligada à Cachoeira.

Outra aproximação com o grupo Delta Construções, por meio de Sodino, já falecido, seria seu filho Sandro Carvalho, arquiteto próximo à Delta Construções – que realizou obras em Goiânia quando Iris Rezende foi prefeito da Capital.
As ligações não paravam por aí. Outros políticos parecem próximos de Cachoeira e construtora, como o caso do irmão de Antônio Gomide (PT), candidato a governador, o deputado federal Rubens Otoni (PT).  Um vídeo que circula na internet mostra Cachoeira e  Otoni realizando uma negociação.


A segunda irritação de Lula

Ao ser chamado na Comissão  Parlamentar de Inquérito (CPI), Marconi Perillo, sem imputações objetivas, acabou usando a janela que se abria para fazer propaganda dos índices econômicos de Goiás. Nas duas primeiras horas de exposição, Perillo mostrou gravações em que é acusado por Cachoeira de impedir que o suposto grupo prosperasse com negócios dentro do governo.  As provas contundentes esvaziaram a CPI e aconteceu um fato inédito: parlamentares e presentes aplaudiram de pé Marconi Perillo pela explanação.

Em seguida, Marconi Perillo foi até o Ministério Público Federal e pediu para ser investigado. Não bastasse quebrou os sigilos bancários e fiscais sem que fosse pedido. Conforme os bastidores da política, Lula teria se irritado mais com o despreparo de Odair Cunha, o relator da CPI,  que não conseguiu desconstruir  o adversário, do que com os resultados.

Conspiração
A conspirata contra Marconi Perillo trouxe à tona o uso do Estado para fazer o mal.  Ainda durante a CPI,  jornais tiveram que se retratar. A Folha, por exemplo, motivada por gravações recortadas dos contextos, disse que Marconi Perillo teria parceria em um avião com dois empresários.  Nenhuma prova apareceu.

Novamente,  por meio das especulações, disseram que uma caixa de dinheiro teria sido enviada para o Palácio das Esmeraldas, em Goiânia. E que existiria um vídeo com as cenas. Também nenhuma imagem comprovou episódio.

Conforme o delegado Romeu Tuma Júnior, Lula desejou ter Marconi Perillo em suas mãos desde que estourou o caso do mensalão e o governador de Goiás, inocente, teria avisado para Lula sobre todos os esquemas.  Marconi Perillo acabou por pagar pelo que sabia e depois pela imagem que conquistou como um dos denunciadores do maior episódio de corrupção da história do país.

Em um dos trechos de “Assassinato de Reputações”,  Tuma explica o que aconteceu: “Lula não perdoou isso em Perillo. Lula é vingativo, e não engole sapos. Nisso é o contrário do meu pai, o maior engolidor de sapos que conheci. Lula traz a vingança como um bolo duro na garganta, que ele guarda anos a fio – e manda sempre expelir o desconforto para ele, algum teleguiado de aluguel.  
Trago ainda guardado o dossiê que o Planalto forjou contra o Perillo. Tudo por conta do que expus acima. Lula não perdoou essa história toda. Mais à frente você verá o fac-símile desse dossiê montado contra Perillo. O dossiê me foi entregue pelo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. A ordem era intempestiva: manda ao DRCI para fulminar Perillo. (...) Por eu não ter aceitado participar desse mecanismo de matar reputação, e por Perillo ser um “alvo” há muito escolhido, o ex-presidente mandou voltarem à carga na CPI do Cachoeira. Aliás, a CPI do Cachoeira, em grande medida, foi instalada por pressão do Lula para fazer um contraponto ao julgamento do Mensalão e para atingir Perillo, que ele não perdoa. Tem ódio mortal!”

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